A Cidade de Deus

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Na obra A Cidade de Deus, Santo Agostinho apresenta uma noção luminosa da Teologia da História.

Redação (14/06/2021 16:54, Gaudium Press) Compulsando os escritos de Santo Agostinho, ficamos maravilhados pelos insignes dons que a Providência lhe concedeu.

Homem de alma possante

Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

Através das obras do Bispo de Hipona, vemo-lo “como um homem de alma possante. Ele causa a impressão de ter sido fisicamente grande, sem chegar a ser um gigante, mas um desses homens que, quando se movem, parecem levar consigo toda a natureza. Pessoa com uma vida vegetativa tão intensa, que se teria impressão de que o reino mineral, o reino vegetal, o reino animal e o homem viviam nele com uma espécie de plenitude desconcertante.

“Senhor de um tom de voz grave e profundo, porém repercutindo longe como um desses sinos que podem acordar um vale ou uma cidade inteira. E com essa característica própria à alma dele […]: as suas exclamações e os seus sentimentos que comoviam todo mundo a que ele se dirigia.

“Por causa disso, uma extraordinária capacidade de se comunicar, de penetrar nas almas dos outros, de fazê-las se mexerem como a dele. Predicado que o tornava um orador incomparável.” [1]

A pessoa impura ofende a ordem do universo

Em sua autobiografia Confissões, “Santo Agostinho apresenta uma interessante justificativa para a castidade. Segundo ele, o bem de cada ser e o da ordem do universo é a unidade.

“O homem puro é aquele que ama a Deus acima de tudo, e as outras coisas por amor ao Criador. Pelo contrário, o impuro corre atrás de mil criaturas, e nessa espécie de pluralidade se afasta da unidade originária, primitiva, para a qual deve tender. Ao agir assim, ofende a ordem do universo.

“Tal visualização encerra uma maravilhosa repulsa da poligamia e do divórcio, e é mais valiosa, penso eu, do que qualquer refutação sociológica contra esses desvios morais. Pois a Metafísica é muito mais apropriada para convencer o espírito humano do que os dados técnicos, mesmo quando acompanhados de argumentos de índole psicossocial.” [2]

Revolução e Contra-Revolução

Na obra A Cidade de Deus, Santo Agostinho apresenta uma noção luminosa da Teologia da História.

Ele enumera os horrores e crimes praticados pelo paganismo, critica as várias teorias sobre a teogonia – nascimento dos deuses –, e por fim apresenta o mundo como um lugar de combate entre duas cidades: a Cidade de Deus e a cidade do demônio.

A respeito desse último tema, afirma Santo Agostinho:

“Dois amores fundaram duas cidades, a saber: o amor-próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial.

“Gloria-se a primeira em si mesma e a segunda em Deus, porque aquela busca a glória dos homens e tem esta por máxima glória a Deus, testemunha de sua consciência.

“Aquela ensoberbece-se em sua glória e esta diz a seu Deus: ‘Sois minha glória e Quem me exalta a cabeça.’” [3]

O principal livro escrito por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, desenvolve e esclarece o tema relativo às duas cidades.

A “Revolução” se compõe daqueles que têm amor desordenado a si mesmos, caracterizado pelo orgulho e sensualidade; é a cidade dos homens ímpios dirigidos pelo demônio, que odeiam a Deus.

A “Contra-Revolução” é integrada por aqueles que execram o pecado, procuram praticar a humildade e a pureza, e adoram o Criador. Ela é a Cidade de Deus, e a Igreja sua própria alma. [4]

Hipona é cercada pelos vândalos

Os bárbaros infestavam várias partes do Império Romano. Em 430, os vândalos cercaram Hipona.

Embora debilitado devido à avançada idade – tinha 76 anos –, Santo Agostinho se postou na catedral como um general sobre a muralha. Os habitantes vinham à igreja buscar forças, antes de partirem para a batalha. Ele rezava com eles e os exortava para a luta, utilizando uma linguagem simples, mas digna.

Um bispo aconselhou-o a fugir da cidade, mas ele rejeitou energicamente a ideia, dizendo que preferia morrer a abandonar seu rebanho. O heroísmo que pregava aos outros, ele o praticava.

No terceiro mês do cerco, Santo Agostinho foi atingido por uma febre violenta, que o obrigou a ficar acamado. Um enfermo veio pedir-lhe que colocasse a mão sobre sua cabeça para ser curado; o Santo atendeu o pedido e o homem se restabeleceu imediatamente.

Fez escrever os Salmos penitenciais diante de seu leito e os lia com frequência derramando lágrimas. Dez dias antes de sua morte, não quis mais receber visitas para se livrar das distrações e poder se dedicar à oração.

Mestre da caridade e martelo dos hereges

No último dia de sua vida, “não podendo já ler nem orar, chamou seus amigos para que rezassem em voz alta ao redor de seu leito. Repetia Agostinho as orações, e quando cessaram os lábios de rezar, sua alma já se achava no seio do Criador”. Era o dia 28 de agosto de 430.

“Com razão é chamado luminar fulgentíssimo da Igreja, modelo dos teólogos, mestre da caridade, defensor da graça e martelo dos hereges.”

Exclamava Santo Agostinho: “Aquele que se separa da Igreja Católica, ainda supondo que seja boa a sua vida, nunca possuirá a vida eterna; antes cairá sobre ele a cólera de Deus, unicamente pelo crime de se achar separado da unidade de Jesus Cristo. Tal bondade e probidade, que não é submissa à Igreja, é hipocrisia sutil e perniciosa.” [5]

O Bispo São Possídio, biógrafo de Santo Agostinho, escreveu:

“Passei 40 anos junto a este grande homem, sem que a menor nuvem, o mais leve azedume tenha perturbado a doçura de um convívio cheio de charmes. Possa eu, no resto de minha vida, imitar suas virtudes e obter no século futuro – na eternidade – a recompensa que ele goza neste momento.” [6]

Um ano depois de sua morte, os vândalos tomaram e saquearam Hipona, mas pouparam a catedral e a biblioteca de Santo Agostinho.

Por Paulo Francisco Martos

1 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A Igreja do Império Romano – O elogio da Europa. In revista Dr. Plinio. São Paulo. Ano III, n. 33 (dezembro 2000, p. 24.

2 – Idem. Santo Agostinho, farol de sabedoria e de amor a Deus. In revista Dr. Plinio. São Paulo. Ano VIII, n. 89 (agosto 2005, p. 31.

3 – SANTO AGOSTINHO. A cidade de Deus. Livro XIV, cap. 28.

4 – Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 148.

5 – SÃO JOÃO BOSCO. História Eclesiástica. 6 ed. São Paulo: Salesiana, 1960, p. 107.

6 – DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1889, v. XII, p. 593.

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