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A Eucaristia, mistério redentor

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Os momentos de adoração silenciosa diante da Sagrada Hóstia ou de ação de graças depois da comunhão podem ser nutridos por considerações como esta.

Foto: Cathopic/Santiago Mejía LC.

Redação (03/08/2022 12:47, Gaudium Press) Iniciemos esta reflexão com dois trechos paradigmáticos da Sagrada Escritura: “E Deus impôs ao homem este mandamento: Podes comer de qualquer árvore do jardim, mas não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque o dia em que dela comeres, morrerás”. (Gn 2, 16-17).

A esta sentença pronunciada nas origens, o próprio Deus acrescentou outra, não menos categórica, na plenitude dos tempos: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e beberdes o seu sangue, não terás vida em ti” (Jo 6, 53). E pouco antes: “Este é o pão descido do céu, para que o homem coma dele e não morra”. (Jo 6, 50).

Impressiona a equivalência contrastante dos dois, um dá a morte e outro a vida: “Você morrerá se comer dele/ Se não comer, não tereis vida”. Estamos diante de verdades de Fé que, aliás, são marcos centrais na história da Salvação: o pecado original e a redenção.

Na vida do Senhor tudo tem uma dimensão redentora

Uma abordagem rudimentar do mistério redentor consiste em restringi-lo ao único acontecimento do Calvário. Sim, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus constituem o ápice da obra salvífica, mas na vida do Senhor tudo tem uma dimensão redentora, desde a sua Encarnação no seio puríssimo de Maria, até ao seu assento à direita do Pai, de onde continua intercedendo por nós.

Assim, o frio da gruta de Belém, o trabalho na oficina de São José, o cansaço de caminhar por vales e montanhas durante sua vida pública, etc., contribuíram para a salvação da humanidade, mas também de suas alegrias! Sim, porque o Verbo Encarnado sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, cada ato, cada gesto, cada palpitar de seu Sagrado Coração, tendo mérito infinito, é mais que suficiente para realizar a redenção.

Era necessário que Cristo sofresse

Mais, a teologia nos ensina que era necessário que ele sofresse. São Tomás dá duas razões pelas quais o Filho de Deus teve que sofrer: uma, para reparar os nossos pecados, e outra, para ser um modelo de como devemos agir, porque na Cruz encontramos o exemplo de todas as virtudes.

Uma vez que a queda original opôs obstáculos ao plano divino, para reparar esse agravo feito a Deus e à ordem do universo, Cristo – que não poderia deixar de agir da maneira mais excelente – “se entregou por nós em oblação e sacrifício suave a Deus” (Ef 5,2), “humilhando-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de Cruz” (Fl 2,8).

Ora, tudo o que se refere ao Verbo ultrapassa os limites do tempo, pois Ele foi gerado desde toda a eternidade: “No princípio existia o Verbo” (Jo 1,1). Pode-se dizer que o mistério salvífico não tem origem e, além disso, é permanente, pois através da Igreja a obra redentora continua seu curso, e assim será até o fim do mundo.

Mistério Redentor compartilhado

Jesus quis que o mistério redentor fosse compartilhado. Pensemos na cooperação de Maria Santíssima a quem a Igreja venera aos pés da Cruz e aclama como co-redentora do gênero humano. Da mesma forma, os justos contribuem com a redenção; São Paulo escreve aos colossenses: “Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo” (Col 1, 24). E São João Paulo II enfatiza em uma de suas encíclicas: “(…) em união com Cristo crucificado por nós, o homem colabora, de certo modo, com o filho de Deus na redenção da humanidade”. (Laborem exercens, 27).

Quanto à presença real do Senhor na Eucaristia, cabe também uma avaliação que supera, por assim dizer, os trinta e três anos de vida terrena do Redentor, porque o tempo e a eternidade convivem nas espécies consagradas. E a esta realidade que já nos surpreende, se soma a outra grandiosa maravilha: por um mistério inefável, junto com a Pessoa do Verbo estão o Pai e o Espírito Santo! as três Pessoas divinas são inseparáveis ​​e operam sempre juntas!

Santíssima Trindade e a Eucaristia

A Eucaristia é, pois, o Cristo inteiro, ou seja, o seu Corpo, Alma e Divindade e, juntamente com Ele, o Pai e o Espírito Santo. Sim, no Sacramento do altar nos são dadas as três Pessoas divinas para que as possuamos e gozemos delas.

Por isso, na Eucaristia podemos adorar com propriedade o Pai dando o fiat que tirou do nada o universo, ou o Filho julgando os vivos e os mortos ao concluir a história humana, ou ao Paráclito derramando-se sobre os Apóstolos no Cenáculo, ou a Santíssima Trindade coroando Maria como Rainha e Senhora de toda a criação… A Eucaristia nos transporta para horizontes variados, eternos, divinos.

Reflexões para fazer durante a adoração

Os momentos de adoração silenciosa diante da Sagrada Hóstia ou de ação de graças depois da comunhão podem ser nutridos por considerações como estas; serão oportunas para afugentar as picadas de tédio que geralmente nos assaltam. Devemos ter cuidado, porque o hábito de adorar ou comungar com indiferença transforma esses momentos de sublimidade em uma rotina sem graça.

Por fim, uma triste constatação: além dos fiéis que valorizam a Eucaristia, há aqueles que a subestimam ou a desconhecem, sendo totalmente alheios a qualquer forma de culto eucarístico. Como pode ser isso, lidando com um mistério tão central de nossa Fé? A verdade é que não há muitas respostas possíveis… tudo acaba se restringindo a dois motivos: ignorância ou aversão.

A indiferença generalizada dos católicos contemporâneos em relação ao Santíssimo parece ser fruto de uma formação religiosa insuficiente, ou seja, da ignorância. Porque é difícil admitir que esse desinteresse possa ser causado por uma antipatia consciente e voluntária…

Em todo o caso, rezemos por uns e por outros – ignorantes e hostis – para que Maria Santíssima os aproxime do Sacramento redentor, e rezemos como o Anjo de Portugal ensinou aos pastorinhos de Fátima em sua aparição: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e vos amo; te peço perdão por aqueles que não acreditam, não adoram, não esperam e não te amam”.

Mairiporã, São Paulo, Brasil, agosto de 2022.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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