InícioNotícias da IgrejaA generosidade cristã no desapego às riquezas

A generosidade cristã no desapego às riquezas

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Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável, formalmente São Nuno de Santa Maria ou simplesmente Nun’Álvares, dá o exemplo.

Redação (12/11/2021 10:56, Gaudium Press) Quando a guerra com a Espanha cessou, o Condestável Dom Nuno Álvares Pereira havia concentrado em suas mãos uma riqueza incalculável, formada em geral pelos despojos e pelos butins que arrebatava dos inimigos e dos presentes que recebia do rei e dos amigos. Dizia-se que lhe pertencia a metade do reino.

Possuía também um privilégio ímpar no reino, chamado de “regalengo”, que consistia no direito de cunhar moeda em vários lugares, onde também auferia as rendas de tributos que lhe eram devidos por causa das guerras que ganhara.

Entretanto, muitos eram aqueles que tinham inveja de tais riquezas e espalharam boatos de que Dom João I resolvera dividir o reino com Nun’Álvares desde o momento em que, juntos, no ano de 1384 partiram para fundar a nova dinastia de Avis.

Desapego às riquezas

O Condestável, porém, mostrava completo desapego às mesmas, resolvendo doar tudo. As pessoas mais beneficiadas com estas dádivas foram seus próprios homens, com os quais dividiu dinheiro, propriedades, joias e tudo o que ganhara ao longo destes dez anos. Grande parte também destinou em beneficiar obras religiosas.

Considerava que seus soldados e cavaleiros haviam sido seus sócios naquela empresa, com os quais dividiu sacrifícios e desgostos, e por isso teria que dividir também os louros da vitória.  Sentia vergonha de se encontrar tão rico, ao lado de seus cavaleiros, soldados e peões, seus fiéis companheiros de armas, sem nada possuir ou com poucas posses.

No final, ao terminar de dividir tudo, percebeu que havia ficado apenas com o hábito de sua Ordem, que nunca largara. Tal desapego em doar todos os seus bens deveria causar assombros de admiração, mas em muitos aumentava mais a inveja ao perceberem que Dom Nuno com este ato se elevava ainda mais em magnanimidade, erguendo-o muito acima do comum dos vassalos do reino.

Estado é o senhor de tudo

E o ciúme invejoso açulou alguns assessores do rei, principalmente os juristas, a verem um mal naquele ato. Alegavam que Dom Nuno não podia doar aqueles bens, pois não lhe pertenciam e sim ao reino (quer dizer, ao Estado).

Aquelas doações representavam uma afirmação pura e simples de soberania aristocrática, contrária ao novo conceito jurídico que surgia na Europa em que o Estado era o único elemento soberano numa nação.  Era como se fosse uma afronta ao novo conceito de monarquia recém-nascido em Portugal com a dinastia de Avis.

Levaram a Dom João I vários argumentos jurídicos, terminando por convencê-lo a chamar o Condestável à corte a fim de rever as doações que fizera a seus homens. A oposição daqueles homens para com suas doações fizera Dom Nuno ficar muito confuso, pois não entendia porque havia ele conquistado todos aqueles bens e não os podia doar a quem quisesse.

Percebeu claramente que tal oposição não passava de obra da inveja. Lutou bravamente para manter a validade de suas doações. Como ficaria ele perante seus homens? Como chegaria até eles e pedir tudo de volta para entregar ao rei (ou ao reino), que não era dono de nada daquilo?

Como Nun’Álvares se recusasse a reaver os bens doados para os entregar ao reino, Dom João foi convencido pelos juristas e assessores de que fizesse expropriação de tudo, usando simplesmente o poder da força.

Seria um ato arbitrário, mas os legistas haviam preparado uma bem arrumada documentação para reforçar os argumentos do ato real. Quando Dom João I lavrou a sentença, Dom Nuno já havia partido da corte para o Alentejo.

Que pensava fazer? Mandou reunir seu exército, aquele mesmo que o acompanhara durante mais de dez anos, onde estavam os homens mais fiéis que havia, e lhes comunicou o que estava ocorrendo e qual a sua decisão.

Disse-lhes que o rei queria tomar todos os bens que havia doado, que lhe pertenciam há muito tempo, e perante tal afronta havia decidido abandonar o reino e partir para o exterior a procura de outro senhor a quem pudesse servir mais dignamente. Quem quisesse poderia ir com ele, ou então ficasse porque ninguém estava obrigado a segui-lo naquela viagem.  Todos seus homens resolveram partir com seu senhor, e logo de imediato tomaram o rumo da fronteira.

Um jeitinho

Quando Dom João tomou conhecimento da decisão de Dom Nuno, sabendo que tipo de caráter ele possuía e do que seria capaz, mandou urgentemente um emissário procurá-lo.

Quando o emissário partiu, logo partiram também na mesma direção alguns personagens de grande peso na corte. Tinham a intenção de fazer o Condestável mudar de propósito. Ao encontrá-lo, Dom Nuno respondeu que iria pensar nas novas propostas e pedidos do rei, que era muito seu amigo.

Em pouco tempo, o caso ficou resolvido. O rei voltou atrás e anulou as expropriações feitas. As doações ficaram mantidas, mas ele pediu a Nun’Álvares que viesse à corte a fim de assinar um documento protocolar.

Era um “jeitinho” que o bom diplomata de Avis achara para contentar ambos: os legistas e Dom Nuno. O Condestável assinaria um documento transferindo todos os bens para o reino, e, no mesmo momento, o rei assinaria outro documento doando todos aqueles bens aos atuais possuidores.

(Relato extraído da obra “A Vida de Nun’Álvares – Oliveira Martins – Lello & Irmão – Editores – Porto, 1983)

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