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A história dos calendários – Parte III O calendário Gregoriano

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O que fez com que o Papa Gregório XIII, imediato sucessor de São Pio V, quisesse reformar o calendário?

Redação (21/08/2022 18:15, Gaudium Press) “Eis que eu renovo todas as coisas” (Ap 21,5). A vinda de nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo dividiu a História em dois períodos: o antes d’Ele e o depois d’Ele. Tudo, pois, haveria de se reajustar em função do Redentor.

Inclusive no modo de se computar os dias, meses e anos houve sérias modificações. Uma das grandes mudanças deu-se no séc. IV, com o concílio de Niceia (325), quando se iniciou a tentativa de ajustar algumas celebrações, em especial a da Páscoa, segundo o decorrer dos dias do ano.

Dionísio, “o exíguo”, que viveu em Roma entre os anos 500 e o 545, foi um personagem que sempre gostou de resolver mistérios históricos. Um dos seus principais feitos foi o de estimular que o ano em que Cristo nasceu fosse considerado como o ano zero (0); além de sugerir, através de estudos e cálculos seus, que o dia 25 de dezembro tenha sido o dia em que Ele nasceu.[1]

Entrementes, esta sua tese recebeu a chancela papal no séc. VII, por meio de Bonifácio IV. Em virtude disso, começou-se a contar os anos “a partir de Cristo”, muito embora os anos precedentes continuassem a ser computados conforme a fundação da cidade de Roma, com a conhecida sigla A.U.C.

De modificações em modificações foi-se, aos poucos, surgindo a necessidade de se reformar o calendário, muito embora o calendário vigente – o juliano, de 46 a. C. – estivesse constituído e organizado; ademais de sabido que o ano é constituído de 365 dias e um quarto, ou seja, mais seis horas.

Entretanto, a questão não fora resolvida nesta época e, com o passar dos decênios, voltou-se ao problema de coincidir algumas datas especiais do calendário litúrgico com as do calendário civil e as do ano trópico.

No campo científico, as coisas se desenvolviam. E com as novas descobertas, revelou-se que o ano, na realidade, possui 365 dias, 5 horas e 45 minutos, diferentemente do que se cria antanho, havendo assim a irregularidade de quinze minutos por ano. Somados e contabilizados, em fins do séc. XVI, a contagem mais precisa resultou na “perda” de dez dias no calendário.

Tais notícias se espalharam, e todos entraram numa expectativa de mudança e de resolução, até que um acontecimento fez despertar a atenção mundial: uma mudança no sólio pontifício, dado que S. Pio V havia morrido.

Com efeito, “após a morte do papa dominicano, foi eleito o cardeal Buoncompagni – que adotou o nome de Gregório XIII; perguntou-se se esse décimo terceiro Gregório lembraria mais do que pelo nome o grande reformador que fora o sétimo. Um pacífico septuagenário, um jurista sério, um bom sacerdote de quem não havia nada a dizer, ao menos desde que recebera as Ordens sagradas. Sabia-se que fora amigo de Pio IV; mas seria digno de Pio V? Sim, certamente, e para surpresa de muitos. Gregório XIII (1572- 1585) revelou-se um animador, um líder, um verdadeiro restaurador. O seu nome ficou ligado à reforma do Calendário. Por que a mandou realizar? Para levar a cabo a do missal e a do breviário, e para estabelecer a concordância entre o ano litúrgico e o ano civil: era algo estritamente lógico.

“A ideia determinante foi a de fazer coincidir a data da Páscoa com a lua-cheia de março, segundo a decisão do Concílio de Niceia (325). Várias vezes os concílios (e uma sessão de Trento em particular) tinham exprimido o voto de que se pusesse termo a essa anomalia. Até que, por fim, o Papa Gregório XIII promulgou, por meio da bula Inter Gravissimas (1582), a reforma do calendário. Esta fez com que o calendário levasse o seu próprio nome: Calendário Gregoriano. A solução logo foi encontrada pelo astrônomo calabrês Luís Lúlio: tirar dez dias ao ano em curso, o dia seguinte ao de 4 de outubro de 1582 foi, pois, o dia 15 de outubro”.[2]

Nos países onde a Igreja Católica gozava de plena liberdade, tais como Espanha, Portugal e Itália, além de algumas zonas da Polônia, o novo calendário foi adotado com facilidade. Contudo, nos demais países da Europa, em especial naqueles em que havia um predomínio protestante e/ou anglicano, a reforma não foi aceita, visto que havia sido emanada pelo Papa, contra o qual se opunham.[3] Não obstante, tais países, paulatinamente, a partir do séc. XVII e XVIII, foram adotando o calendário católico.

Os gregos ortodoxos, por sua vez, adotaram-no apenas em 1923, ao menos em parte; “e a Rússia, em 1948, embora algumas Igrejas russas (no exílio) não tenham abandonado o calendário juliano, por não reconhecerem a autoridade do Papa em seus territórios”.[4]

Por João Pedro Serafim


[1] Cf. BERARDINO, Angelo (dir.). Patrologia: Do concilio de calcedônia a Beda. v. 4. Madri: BAC, 2000, p. 237.

[2] ROPS, Daniel. A Igreja da Renascença e da Reforma: a Reforma Católica. Trad. Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1999, p.351.

[3] Ibid.

[4] Cf. ibid.

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