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A inesquecível visita à gruta de São Miguel Arcanjo

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Não há dúvida de que o Velho Continente possui lugares belíssimos, e a Itália, com suas igrejas monumentais, nos dá uma noção precisa da grandiosidade e soberania da Civilização Cristã. Mas poucos lugares no mundo podem proporcionar o enlevo espiritual que se tem na Gruta de São Miguel Arcanjo.

Foto: Wikipedia

Foto: Wikipedia

 Redação (29/09/2024 10:31, Gaudium Press) No mês de agosto, depois de longo planejamento, pude realizar o sonho de uma vida inteira: conhecer a Itália. A experiência é tão extraordinária que se pensa: se não posso morar aqui, ao menos vou querer voltar.

Em duas semanas de peregrinação, tivemos oportunidade de conhecer as principais cidades do país, uma mais extraordinária que a outra, começando por Roma e suas magníficas basílicas São Paulo Extramuros, Santa Maria Maior, São João de Latrão, a Escada Santa e, claro, a indescritível Basílica de São Pedro.

Na verdade, começamos por Genazzano, vivendo a emoção de estar na capelinha onde se encontra o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, que veio da Albânia milagrosamente, sem o concurso de mãos humanas. Se a viagem terminasse ali, já teria valido a pena, mas aquilo era só o começo…

Pudemos ir a Subiaco e ajoelhar diante da gruta onde São Bento passou três anos de sua mocidade em vida eremítica, depois a Monte Cassino, Cássia, Roccaporena, Assis, San Giovanni Rotondo, Loreto, Lanciano, Orvieto, Florença, Veneza e Pádua.

Cada local reservava uma surpresa diferente. Estar diante das relíquias de grandes Santos que veneramos, ver corpos incorruptos, o Milagre Eucarístico e milênios de história é algo tão grandioso que está além de nossa capacidade de apreender e expressar adequadamente.

Isso sem falarmos no conjunto fabuloso das obras de arte. Podemos dizer que o interior de cada uma das igrejas é um local onde a terra toca o Céu.

As peregrinações na Antiguidade

Na cidade de Assis, uma das mais belas e envolventes, por causa da história de São Francisco, uma guia local nos contou uma história muito interessante. Ela disse que Assis, desde a Antiguidade é um dos principais centros de peregrinação do mundo e que, normalmente, as peregrinações, que eram feitas a pé, duravam em torno de dois anos, e era algo que as pessoas faziam dentro da mais alta espiritualidade, pois consideravam aquele o último grande ato de suas vidas, uma verdadeira preparação para a morte.

É claro que a realidade mudou, e o tempo que se andaria a pé é percorrido em ônibus e aviões, e o espírito cristão já não é tão íntegro como naquela época. Mas, depois de uma peregrinação como essa, a gente se sente absolutamente preparado para morrer, embora desejando viver o suficiente para voltar lá mais uma vez.

De todos os lugares que visitei, o mais simples seria aquele que iria me arrebatar mais plenamente.

 

A cidade mais acolhedora

A visita ao Monte Gargano (Monte Sant’Angelo) foi, para mim, a mais inusitada. Ao chegar à pequena cidade, diferente de todos os outros lugares em que estivemos, não fomos primeiramente à igreja.

Como teríamos a celebração da Santa Missa para o nosso grupo às 17 horas, a guia preferiu que fizéssemos o passeio na cidadezinha primeiro e deixássemos o Santuário de São Miguel Arcanjo por último.

O lugar é muito simples. Começa com as ruínas de um grande castelo, seguida de casinhas brancas e pequenos prédios, num emaranhado de vielas estreitas, com muitas descidas e subidas, pois o terreno é rochoso e bastante acidentado.

Lá encontramos os moradores mais gentis de toda a viagem. A cidade em si, sem a costumeira suntuosidade vista nas outras, já tem um quê de aconchegante, com seus enormes pães tradicionais e vistosos vasos de flores nas janelas ou na frente das casas.

A experiência foi, em todos os sentidos, tão arrebatadora que, se pudesse morar em outro lugar do mundo, certamente seria ali.

Depois de andarmos, tomarmos sorvete, comprarmos lembrancinhas, tirarmos fotos e conversarmos com os moradores, chegou, finalmente, o horário de ir para a igreja.

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Monte Sant’Angelo e a Gruta de São Miguel

O Santuário é o mais antigo da Europa Ocidental dedicado ao Arcanjo São Miguel e tem sido um importante local de peregrinação desde a Idade Média. Surgiu de maneira mística e é um dos lugares sagrados da Linha Sacra de São Miguel.

Esta linha compreende sete santuários em linha reta, que vão da Irlanda a Israel, passando pela Inglaterra, França, Itália e Grécia.

Estão a grande distância um do outro – em três deles, há exatos mil quilômetros entre cada um – mesmo assim, estão numa linha surpreendentemente reta, e a construção de todos tem um caráter místico.

Depois de tantas igrejas e basílicas suntuosas, pelo lado de fora, o Santuário de Monte Sant’Angelo é bastante simples e até comum. Percorre-se um grande pátio, e chega-se a duas portas fechadas. Abre-se a porta e, em vez de altar, bancos e imagens de santos, apenas uma grande escadaria descendente, a qual, começando a descer, tem-se a sensação de que não vai acabar mais.

Quando a escadaria termina, não encontramos nada daquela decoração riquíssima, com grandes imagens e afrescos que nos acostumamos a ver nas outras igrejas. Não, tudo é muito simples, uma capela pequena, que não acomoda mais que 80 pessoas sentadas.

Exceto o piso, o altar e a imagem de São Miguel, construídos por mãos humanas, tudo é gruta, tudo é pedra, tudo ali foi esculpido por Deus.

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Quem como Deus?

O Santuário começou a ser construído no ano 490, depois das aparições de São Miguel Arcanjo, onde ficou marcada na pedra do altar original, ainda conservada, a pegada de uma criança, no local em que o Arcanjo apareceu.

Como disse, o lugar, de todos, é o mais simples e a iluminação é precária. Ali, estamos embaixo da terra, numa gruta que, outrora, devia ser de muito difícil acesso, mas que mostra o grande amor e a misericórdia de Deus para conosco.

Desde pequeno, minha mãe me ensinou a devoção aos Santos Anjos e sou especialmente devoto de São Miguel, mas nunca imaginei que um dia estaria naquele lugar.

Das outras igrejas, eu posso falar da beleza arquitetônica, das obras de arte, da sacralidade, do zelo com as imagens, das relíquias. Mas dali eu não tenho palavras para expressar o transporte de graças que senti.

E não fui o único. Muitas pessoas foram profundamente tocadas dentro daquela gruta tão iluminada pela luz espiritual.

Este é o mês dedicado pela Igreja à celebração da Festa de São Miguel, São Gabriel e São Rafael, que a tradição determina que fazem parte dos sete Arcanjos que assistem na presença do Senhor e ali, naquela gruta, minha alma esteve diante de um deles, São Miguel, o Príncipe da Milícia Celeste, aquele que derrotou Lúcifer e que, diante de nossa soberba, nos pergunta: Quem como Deus?

Esta é uma experiência que, nem que eu viva 200 anos, terei palavras para explicar!

Como eu disse no princípio, se a viagem tivesse terminado no primeiro dia, em Genazzano, já teria valido as 12 horas de desconforto dentro de um avião.

No Monte Sant’Angelo, tive a mesma sensação. Se terminasse ali, estaria perfeito, mais nada que eu visse me impactaria tanto.

A viagem ainda durou alguns dias e tudo foi muito especial, porém, como aquela gruta, não, de forma nenhuma. Nas outras igrejas ficou a sensação de que a terra encontra o Céu, ali, a de que, naquele lugar, o Céu encontra a terra e a inunda com o esplendor de sua grandeza.

Somente estando lá para experimentar.

Por Afonso Pessoa

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