Constantino cumpriu sua missão de dar liberdade à Igreja e se confessou pouco antes de morrer, podemos esperar que tenha se salvado pela misericórdia de Deus e rogos de Maria Santíssima.
Redação (30/01/2021, 11:30, Gaudium Press) O Imperador Constantino, que tantos benefícios havia concedido à Santa Igreja, deparou-se com um inimigo muito pior que o paganismo: a heresia propugnada por Ário.
Desterro de Ário
Nascido numa localidade da atual Líbia, Ário foi para Alexandria, onde conseguiu ser ordenado sacerdote, e começou a propagar uma doutrina que, em síntese, negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Essa heresia difundiu-se rapidamente por várias partes do Império Romano. Santo Alexandre, Patriarca de Alexandria, excomungou Ário, mas este obtinha partidários entre bispos, padres e leigos.
A fim de solucionar esse grave problema, Santo Alexandre e outros bispos fieis à Igreja sugeriram a Constantino a convocação de um concílio. O Imperador consultou o Papa São Silvestre, que aprovou a ideia, e assim foi realizado em 325, numa cidade da atual Turquia, o Concílio em Niceia.
Dele participaram 318 bispos. Todas as despesas de viagem e hospedagem foram pagas pelo tesouro do Império, por ordem de Constantino. Nunca houvera um acontecimento tão grandioso para tratar de assuntos da Igreja.
Muitos prelados tinham sofrido terríveis perseguições promovidas pelos pagãos. Entre os participantes do Concílio destacavam-se: Santo Alexandre, Patriarca de Alexandria, o qual estava acompanhado de seu conselheiro Santo Atanásio, então diácono; São Nicolau, Bispo de Mira, cidade da Turquia, célebre pelos seus milagres. Consta que São Nicolau, quando se deparou com Ário, desferiu-lhe uma sonora bofetada na cara.
Havia também certo número de bispos arianos, entre os quais o de Niceia e os dois Eusébios – o de Nicomédia e o de Cesareia.
O Concílio condenou os erros de Ário, e Constantino decretou que as decisões da magna assembleia teriam força de lei em todo o Império. Além disso, ordenou o desterro de Ário, bem como dos Bispos de Nicomédia e de Niceia.
O povo canta pelas ruas louvores à Mãe de Deus
Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Houve muita dificuldade em condenar [o arianismo]. Mas o povo de Niceia ficou entusiasmado quando, afinal, essa condenação se deu. E no momento em que Nossa Senhora foi proclamada verdadeira Mãe de Deus, o povo saiu cantando pelas ruas para dar graças a Nosso Senhor pela definição dessa verdade, a respeito da qual, entretanto, as autoridades eclesiásticas tinham vacilado algum tempo.”
Esse entusiasmo se propagou por outras regiões, de tal modo que populações inteiras abraçavam a verdadeira Fé, templos e ídolos pagãos eram abatidos e se construíam igrejas.
No interior de seu palácio, em Nicomédia, Constantino mandou edificar uma capela, na qual rezava e frequentemente fazia vigílias noturnas. Ordenou que em todo o Império o domingo fosse observado como dia oficial de descanso.
Pouco tempo depois, a Imperatriz Santa Helena, mãe de Constantino, tendo quase 80 anos de idade, empreendeu uma viagem à Terra Santa. No alto do Calvário, havia um templo de Vênus. Ela mandou que o destruíssem e perfurassem o solo a fim de procurar relíquias da Paixão.
À grande profundidade, foram encontradas três cruzes. Para saber qual delas era a do Redentor, São Macário, Bispo de Jerusalém, levou-as para junto de uma mulher católica e de família nobre, que há muito tempo sofria de uma doença incurável e estava agonizante. Colocaram sobre ela duas cruzes e nada aconteceu. Quando a terceira tocou seu corpo, a mulher ficou imediatamente curada; era a Cruz de Nosso Senhor.
Além da Santa Cruz, foram encontradas a plaqueta na qual estava escrito, em três idiomas, Iesus Nazarenus Rex Iudeorum-INRI – “Jesus Nazareno Rei dos Judeus”, os cravos e a coroa de espinhos.
Santa Helena levou certa quantidade dessas relíquias a Roma e, a fim de venerá-las, Constantino construiu a Basílica da Santa Cruz. A maior parte delas ficou em Jerusalém, onde foi edificada a Basílica do Santo Sepulcro, no cimo do Calvário.
Constantino, a pedido de sua mãe, também mandou edificar, em Belém, a Basílica da Natividade e, no alto do Monte das Oliveiras, a Basílica da Ascensão.
“Vê-se que Constantino e sua mãe Santa Helena abriram, com 800 anos de antecedência, a rota dos Cruzados e preparavam o magnífico movimento que precipitou o mundo cristão para a conquista do túmulo de Jesus Cristo.”
Constantinopla torna-se capital do Império
Em 327, Constantino resolveu mudar a capital do Império para Bizâncio, situada às margens do Estreito de Bósforo, que liga o Mar de Mármara ao Mar Negro, separando a Europa da Ásia.
Para a construção da nova cidade e da imensa muralha que a circuncidava trabalharam 40.000 godos prisioneiros, em regime forçado . Famílias senatoriais e equestres foram levadas de Roma para Bizâncio, cujo nome o Imperador mudou para Constantinopla.
Após a morte de Santa Helena, em 328, Constantino se deixou influenciar por Constância, sua irmã e viúva intrigante do Imperador Licínio. Ela era dominada pelos arianos.
Pressionado pelos hereges, Constantino anulou o desterro de Ário, o qual tentou reentrar em Alexandria, mas Santo Atanásio, agora Patriarca dessa cidade, se opôs veementemente. O Imperador quis obrigá-lo a receber o heresiarca, mas o Santo não se dobrou.
Então, Constantino convocou um concílio na cidade de Tiro, no atual Líbano, o qual se realizou em 335. A maioria dos bispos que dele participaram eram arianos, e quando Santo Atanásio chegou ao local da assembleia foi objeto das mais nefandas calúnias. Emaranhado pelas mentiras dos arianos, Constantino desterrou o Santo para a cidade de Tréveris, na atual Alemanha.
O pior erro de Constantino
Nesse mesmo ano, Constantino dividiu o Império entre seus três filhos e dois sobrinhos. Foi um erro dele fazer essa partilha. Mas a pior atitude desse Imperador consistiu em apoiar o arianismo, heresia que se tornou um dos maiores flagelos contra a Santa Igreja.
Encontrando-se em Constantinopla, ele ficou doente, confessou-se e pediu para ser levado a Nicomédia, onde faleceu. Era o ano 337. Tendo em vista que Constantino cumpriu sua missão de dar liberdade à Igreja e se confessou pouco antes de morrer, podemos esperar que tenha se salvado pela misericórdia de Deus e rogos de Maria Santíssima.
Seu corpo foi levado aos ombros por soldados, desde Nicomédia até Constantinopla, onde foi sepultado na suntuosa Basílica dos Apóstolos, que ele mandara construir.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 39)
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1 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Decadência e queda do Império Romano do Ocidente, lição para os dias de hoje. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano I, n. 6 (setembro 1998), p. 18.
2 – DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1876, v. IX, p. 289.
3 – Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante. 1988, p. 430.
4 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1876, v. IX, p. 97-341.
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