Segundo Pavlov, “a continuação da operação militar especial torna-se cada vez mais urgente para realizar a desatanização da Ucrânia”, devido a uma proliferação de “seitas religiosas” no país.
Redação (28/10/2022 11:13, Gaudium Press) Segundo informações da agência TASS, órgão de notícias do governo russo, Aleksey Pavlov, membro do chamado “Conselho de Segurança” do governo de Moscou, aponta para a necessidade de uma “desatanização da Ucrânia”.
Singularmente o governo dirigido por Vladimir Putin quer se apresentar como defensor da moralidade e retidão de consciência no mundo. Contra Satanás!
Para Pavlov “a continuação da operação militar especial torna-se cada vez mais urgente para realizar a desatanização da Ucrânia”. E a razão por ele alegada é uma proliferação de “seitas religiosas” no país que está sofrendo a terrível invasão.
O que é uma “seita religiosa” para um ateu?
Já o governo francês tinha erigido, em 1998, uma espécie de tribunal laico “de luta contra as seitas”, denominado MILS. Porém visto ser impossível definir “seita” – para quem se diz defensor da liberdade, da igualdade e da fraternidade –, em 2002, alteraram o nome para se converter numa agência do governo de combate aos “desvios sectários” (MIVINLUDES). No entanto, eles próprios penam para definir sua finalidade: “um desvio da liberdade de pensamento”. Se o pensamento é algo interno do homem, e ele pode pensar como bem entender, como julgar que alguém pensou de modo “desviado”? Com base em que padrão de medida é um “reto pensar”? O MIVINLUDES não explica tal contradição.
Pavlov também não explica o que é uma “seita”, mas declara que seus membros são aqueles “cujas opiniões são diretamente opostas às opiniões das pessoas normais”. O que é uma “pessoa normal” para Pavlov? E quem determinará o que o suposto sectário está pensando, de modo contrário às “opiniões das pessoas normais”? Ele próprio? Com base em qual infalibilidade? Recebida de quem? Do espírito de Lenin, Stalin e Trotsky?
Seita?
O termo seita, na linguagem católica, foi utilizado durante séculos para indicar aqueles que pelos pecados de heresia, apostasia ou cisma se separaram da Igreja querida por Nosso Senhor Jesus Cristo. Para S. Tomás de Aquino (1225-1274), qualificava aqueles que seguiram outro caminho diverso do aberto por nosso Redentor, pois o termo seita deriva do latim sectari, seguir. A palavra “seita” figurou até na normativa jurídica da Igreja durante séculos, fazendo referência às “seitas heréticas e cismáticas”. Porém, na legislação atual, seguindo os ensinamentos do Concílio Vaticano II, o termo “seita” não é mais empregado pela doutrina católica.
Contudo, isso parece não impedir que laicos e comunistas (como Pavlov) queiram instaurar um tribunal inquisitorial para perseguir a sangue e fogo o que eles consideram uma “seita”, ou seja, aqueles que não pensam “como as pessoas normais”, ou praticam algo tão pouco preciso como um “desvio sectário”.
Estaremos voltando aos tempos de Santa Joanna d’Arc, quando o bispo Cauchon e o cardeal Beafort mandaram para a fogueira quem “pensava diferente”?
Por José Manuel Jiménez Aleixandre
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