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A religião romana está desabando

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Em situações de dificuldade, o que fazer? Criar doutrinas novas? Fazer uma reforma? A história de Roma tem muito o que nos ensinar.

Redação (18/10/2020 09:50, Gaudium Press) Temos muito o que aprender com a História, pois ela, incontestavelmente, lança luzes mediante as quais podemos interpretar os fatos presentes e entrever o porvir. Afinal de contas, será sempre mais sábio aquele que aprende com os erros alheios ou, então, constrói mais alto quem edifica sobre a obra dos antigos.

Aprendamos, então, com a História de Roma.

Roma teve tudo para ser imortal. Depois que os filhos da loba fizeram do Mediterrâneo o seu mar – o Mare nostrum –; depois que as estradas ligaram a Urbs, a Lutécia, Lugdunum, Jerusalém, Antioquia, Alexandria e a todo o mundo velho; depois que as legiões plantaram seus estandartes com aquela divisa “S.P.Q.R” pelos quatro cantos da terra conhecida; depois que a língua do Lácio se tornou a fala universal; enfim, depois de tudo isso e um pouco mais, Roma nada tinha a temer.

Todas essas prerrogativas, porém, não eram senão um castelo de cartas. A grandeza do Império estava a um passo de desabar estrondosamente. Estamos em princípios do século III da nossa era.

Sociedade e religião em colapso

Tudo caminhava mal naqueles tempos. As crises se sucediam às crises, sem que houvesse soluções e tempo para sanar umas e outras. Ora, as legiões traziam do Oriente uma doença misteriosa que se espalhava pelo Império, fazendo vítimas aos milhares; ora a natureza entrava em colapso, destruindo colheitas e multiplicando o assassino invisível: a fome. Além do mais, não faltaram guerras e invasões nestes anos.

Entretanto, a corrupção moral era mais preocupante. Ninguém mais dava crédito à religião romana. É inegável que alguns poucos frequentavam os cultos por tradição, mas eles mesmos não sabiam bem o que significavam aquelas crenças. A verdade é que ninguém acreditava em muita coisa, pois os templos estavam vazios de fiéis.

Templos vazios de fiéis e cheios de ignomínia: a conduta dos sacerdotes também não ajudava. As orgias multiplicavam-se dentro dos lugares sagrados para escândalo de grandes e pequenos.

Naquele tempo ainda, os pontífices da religião romana se assemelhavam muito aos ditadores modernos (dizemos “pontífices” porque os imperadores eram considerados como tal na crença de então). Do monte palatino, partiam as ordens mais desvairadas e contraditórias, fazendo pensar ao Senado e ao povo que estavam sendo governados ou por tiranos ou por loucos. Provavelmente, pelos dois.

Um exemplo: Heliogábalo reinou entre 218 e 222. Breve, porque seus costumes escandalizaram. Oriental de nascimento, este imperador tentou introduzir costumes alheios à religião romana, mesclando crenças de povos antigos (da Síria) aos ritos consagrados já pelos séculos. Para ele, o divórcio não era problema, pois antes dos 18 anos teve 5 casamentos. Não entraremos em detalhes das orgias ocorridas em seu palácio, das quais foi responsável. Basta dizer que suas atitudes morais chocaram os romanos, que, aliás, estavam habituados a verem monstruosidades de toda espécie.

Novo imperador, reforma da religião

Sucedeu a Heliogábalo um parente seu: Alexandre Severo. E a este homem se uniram vários intelectuais para tentar solucionar o problema da religião romana. A reforma urgia.

Lamentavam-se ainda os velhos romanos porque, se era verdade que seus templos estavam vazios, por outro lado, um grupúsculo nascido nos confins do império não cessava de angariar membros em quantidade. Para estes – que a antipatia taxou de seita – não faltavam fiéis, apesar das duras perseguições infligidas ao longo de décadas. Eles sustentavam crenças absurdas e praticavam uma moral que – falta de argumentos para atacar – os romanos chamavam de exagerada, impossível para seu tempo. Eram os cristãos.

Impossível ou não, a verdade era que os adoradores de Jesus de Nazaré cresciam incessantemente, enquanto as estátuas de Júpiter ficavam cada vez mais abandonadas. E, enquanto crescia o número das virgens consagradas de Cristo, faltavam vestais para alimentar chamas sagradas.

Alexandre Severo tomou medidas inteligentes. Ordenou que os sacerdotes do culto romano reformassem a religião, uma vez que os excessos tinham ido longe demais. Era necessário agora forjar um culto baseado nos bons costumes e colocar os sacerdotes na linha. Nada de orgias e escândalos! O imperador mandou modelar-se… nos radicais cristãos…!

Encontraram ainda uma espécie de anacoreta pagão morto há pouco para tomar como modelo e competir com o “Carpinteiro da Palestina”. Na boca daquele homem, chamado Apolônio de Tyane, colocaram algumas das máximas evangélicas e retocaram com umas tintas cristãs.

Alguns se inclinaram diante do tal Apolônio, e a farsa durou uns tantos anos. Mas a lição fora dada: religião é coisa séria. Os fiéis gostam de ver seus sacerdotes levarem o culto com seriedade.

O fim da religião romana

Roma ruiu e, com ela, a religião romana. Venceu a cruz de Cristo e desapareceram os templos pagãos com suas imoralidades, suas orgias, seus horrores. Ergueu-se, então, uma nova sociedade construída sobre os princípios do Evangelho.

Passaram-se os séculos, mas o exemplo ficou:

Quando tudo parece caminhar para o colapso, é a hora em que aparecem Alexandres Severos e Apolônios de Tiane. A trilha verdadeira não está com estes, como não está com os Heliogábalos.

Nestas ocasiões, precisamos procurar os verdadeiros cristãos. E é fácil reconhecê-los: eles não praticam orgias; eles têm crenças “absurdas”; eles seguem uma moral “exagerada”.

Por Paulo da Cruz


Bibliografia:

 BERNET, Anne. Les chrétiens dans l’empire romain. Paris: Perrin, 2003.

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