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Algo está acontecendo na Igreja da França

Comentando a análise de Jean-Marie Guénois no Le Figaro.

Santuário de Lourdes

Santuário de Lourdes

Redação (12/11/2025 10:04, Gaudium Press) Jean-Marie Guénois, em sua análise publicada no Le Figaro, destaca a acolhida que vem recebendo o novo presidente da Conferência Episcopal Francesa, o cardeal-arcebispo de Marselha, Dom Jean-Marc Aveline. Eleito na assembleia geral da primavera para um mandato de três anos, renovável uma única vez, o prelado colhe agora, durante a assembleia de outono, iniciada em 4 de novembro, elogios consistentes de seus pares.

“Ele sabe agir. Inteligente, por vezes astuto, ele preside a assembleia com tato e delicadeza”, observa um bispo. “É extremamente atencioso e bem informado”, acrescenta outro. “Possui verdadeiro carisma”, afirma um terceiro, mais distante.

Os comentários, contudo, transcendem a figura pessoal do cardeal. Guénois percebe neles a convicção de que “a Igreja da França tem um capitão”. Alguns poderiam julgá-lo excessivamente alinhado ao estilo bergogliano, mas tal impressão revelaria desconhecimento deste teólogo de alto nível, igualmente marcado por João Paulo II e Bento XVI. No último conclave, Aveline esteve entre os cinco cardeais, de 120, que receberam um número expressivo de votos.

Um governo bem aceito constitui sempre excelente impulso para qualquer associação. No caso da Igreja francesa, esse clima favorável é ainda reforçado por dados incontestes de renovação espiritual entre os jovens. O despertar católico entre essa faixa etária sinaliza futuro promissor. “Cabe ao Cardeal Aveline a grave responsabilidade de manter o rumo em tempos que se anunciam difíceis, tanto no plano eclesial quanto social e político”, escreve Guénois.

“Desacreditada pelos escândalos de abuso sexual”, continua o editor-chefe, “a Igreja Católica perde terreno na França em número de fiéis e de sacerdotes. Parece, ademais, dividida em diversas questões, inclusive litúrgicas e políticas. Embora respeitada pela dignidade humilde demonstrada na última década, mesmo em meio aos escândalos, algo se rompeu. A onda de abusos que ressurge de internatos católicos não dá sinais de arrefecimento. A luta contra esses abusos está sendo liderada com firmeza pela hierarquia, mas isso não significa que não haverá mais escândalos”.

Nem tudo, porém, é sombrio, segundo o jornalista do Le Figaro. “A Igreja francesa é reconhecida pela constância de seu serviço religioso cotidiano, pela assistência caritativa aos mais pobres e pelo trabalho educativo de uma escola católica aberta a todos”. Gera agora sorrisos e entusiasmo a “repentina afluência de jovens adultos em busca do batismo” — fenômeno inegável, ainda sem explicação consensual, que intriga uma sociedade incapaz de imaginar tal despertar espiritual, como ficou evidente no Congresso de Missões, realizado em Paris, no último fim de semana.

Os jovens franceses… Algo em seus rostos, em conexão com um passado identitário católico, não escapou ao cardeal-secretário de Estado Pietro Parolin. Por ocasião do jubileu dos jovens em Roma, no verão passado, ele deixou escapar, com seu habitual olhar diplomático: “Algo está acontecendo na Igreja da França”.

Os anos de Richelieu ou Mazarino, de bispos-príncipes brilhantes em prestígio e poder, pertencem definitivamente aos livros de história. Hoje, num dos países mais secularizados do mundo, a hierarquia da Igreja vive “com o mínimo necessário”. Prelados, como os padres, vestem-se com simplicidade e viajam modestamente. A Igreja da França é, assim, a mais modesta dos países ocidentais, onde legislações não seculares garantem às Igrejas padrão de vida superior.

Após enfrentar desafios consideráveis nos últimos anos, seu clero parece ter recuperado o entusiasmo nesta primavera, com o aumento dos batismos de jovens. O arcebispo de Paris, Dom Laurent Ulrich, confirma: “Quando eu era um jovem sacerdote, via um ou dois batismos de adultos ou adolescentes por ano, na minha diocese. Hoje são mil!”. Esses neófitos, inscritos nas paróquias, em breve superarão em número a geração das novas comunidades católicas dos anos 1990.

“É o fim do declínio; ao tocar o fundo, começa-se a subir”, declara Dom Frank Javary, jovem bispo de Châlons-en-Champagne, que participou da sua primeira assembleia em Lourdes, esta semana.

Um ressurgimento, contudo, exige diretrizes. Questionado sobre elas, o Cardeal Aveline enunciou três prioridades:

Uma Igreja em seu lugar: não uma instituição como qualquer outra, mas um mistério. Sua mensagem não resulta de consulta democrática, e sim da ação de Deus para a salvação do mundo.

Comunhão: unidade da Igreja e serviço para a paz no mundo e na sociedade.

Liberdade: a igreja deve conservar a liberdade de expressão, “no momento oportuno e no inoportuno”, para manifestar opinião quando discorda ou quando tem algo a dizer por causa do Evangelho. Certamente, a Igreja não tem adversário, mas uma mensagem a transmitir, seja fácil ou difícil — especialmente no próximo período eleitoral, em que será necessária a liberdade para não ficar à mercê das ideias dominantes”.

O arcebispo de Marselha dirigiu palavras a “certos populismos que se tornaram ameaçadores”: “Embora o desejo de identidade seja legítimo, o extremismo identitário constitui caricatura perigosa do mesmo”.

Lutas, problemas, esperanças, realidades promissoras, desafios: o que ocorre na filha primogênita da Igreja continuará a interessar e a repercutir em todo o mundo. (SCM)

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