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Beata Dina Bélanger

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Beata Dina Bélanger, cuja memória a Igreja celebra no dia 4 de setembro, amou tanto a perfeição que se fez um só com Aquele que, sendo um com o Pai, é perfeito como Ele mesmo o é.

D Beata Dina Belanger

Redação (03/09/2023 16:26, Gaudium Press) No início do século passado, uma alma de escol, Maria Margarida Dina Adelaide Bélanger — a primeira canadense da cidade de Quebec a ser proclamada bem-aventurada pela Igreja — procurava descrever sua disposição interior dizendo: “Jesus e eu não somos mais dois. Somos um: somente Jesus. Ele faz uso das minhas faculdades, dos meus sentidos, dos meus membros. É Ele quem pensa, age, reza, olha, fala, anda, escreve, ensina: numa palavra é Ele quem vive…”.

Dina almejou intensamente essa união. A tal ponto ela se tornou uma com Cristo, que Ele próprio, a chamou afetuosamente de “Meu pequeno Eu mesmo”.

Jesus quer sua Autobiografia

Dina teria passado despercebida se sua superiora não tivesse discernido os favores de Deus para com ela. “Você deve escrever a sua vida, minha querida irmã”, disse-lhe. É por isso que temos sua Autobiografia“uma das mais perfeitas joias da literatura espiritual do século XX”, segundo o teólogo carmelita, padre François-Marie Léthel.

Certa vez, Nosso Senhor lhe confidenciou: “Você fará bem por meio de seus escritos”. E assim foi. Dina falava com Cristo com familiaridade, e ao anotar Suas sagradas palavras não o fazia visando apenas o próprio benefício, mas também o dos sacerdotes, dos religiosos e de toda a humanidade.

A infância de Dina Bélanger

Os primeiros anos de Dina se desenrolaram na atmosfera tranquila de uma família franco-canadense de muita fé. Nasceu no distrito de Saint-­Roch, da cidade de Quebec, e foi batizada no próprio dia de seu nascimento, a 30 de abril de 1897, com o nome de Maria Margarida Dina Adelaide.

Seu único irmão morreu aos três meses de idade. A partir desse momento, seus pais concentraram nela todo o seu afeto e cuidados. Serafina, sua mãe, levava-a sempre à igreja e em suas visitas aos pobres. Ela gostava muito de cantar para a filha, o que levou a menina, naturalmente dotada de senso artístico, a ter paixão pela música.

O pai, Otávio, era contabilista. Talvez tenha sido dele que Dina herdou sua precisão ao expressar-se e a forma metódica de cumprir seus deveres.

Resoluções e metas de vida

Dina BelangerAo longo de sua vida, Dina tomou numerosas resoluções e as cumpriu eximiamente. Quando era estudante, proclamou: “Prefiro a morte a corromper-me”. No postulado, sua meta foi: “Se começar, comece com perfeição”. E na vida religiosa visava “amar e sofrer”. Como fizera Teresa de Lisieux, poucos anos antes, ela tomou a firme resolução de ser “uma santa”. E, para guiar-se nesse caminho, adaptou o princípio de Santo Agostinho ama et quod vis fac (ama e faze o que queres), transformando-o no lema que caracterizou toda a sua espiritualidade: “Amar e deixar-se conduzir por Jesus e Maria”.

Com efeito, foi pelas mãos da Virgem Santíssima que aos 13 anos consagrou-se a Jesus Cristo como escrava de amor, segundo o método ensinado por São Luís Maria ­Grignion de Montfort.

Lutas de alma e oferecimento como vítima

Quando chegou o tempo dos estudos, Dina entrou para o Colégio Bellevue, um internato religioso dirigido pelas irmãs de Notre Dame, no qual sua primeira oração a Jesus foi: “Que eu nunca Vos ofenda nem com o menor pecado venial voluntário, durante minha permanência aqui”. Lá começaram as lutas que, devido à sua índole tímida e reservada, teria de travar durante toda sua vida. “Eu procurava sorrir para todo mundo, mas quanto preferiria estar sozinha!” Por ocasião de uma visita da mãe, ela lhe confidenciou essa dificuldade: “Mamãe, não é brincadeira viver com outras pessoas!”.

Dina conta com toda simplicidade que na primeira sexta-feira do mês de outubro de 1911, enquanto as estudantes se dirigiam à capela para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento, ela consagrou sua virgindade a Nosso Senhor. Foi também por essa época que se ofereceu como vítima de amor: “Mal ouvira falar dessa ­doação de si mesmo, conhecida como o oferecimento heroico, eu já me ofereci; abandonei-me inteiramente à vontade de Jesus, como sua vítima”. Inflamada pelo desejo de entregar a vida, estava certa de que lhe seria dada a graça do martírio do amor.

Assim que soube do início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, ofereceu-se uma vez mais a Nosso Senhor, de corpo e alma, em espírito de reparação e de amor: “Fiquei aflita, sobretudo, pelo perigo moral que ameaçava o mundo”.

Estudos em Nova York

Depois de ter terminado os estudos no internato, já com 16 anos, voltou a viver em sua casa. Seus pais decidiram que deveria continuar com o estudo da música, que iniciara em pequena. Esta arte lhe aproximava de Deus e oferecia-Lhe cada uma de suas notas ao piano como um ato de amor, constituindo para ela uma verdadeira oração, pois seu coração pertencia somente a Deus.

Alguns meses mais tarde, pediu ao diretor espiritual para entrar no convento das Irmãs de Notre Dame, de Villa-Maria, mas foi aconselhada a adiar sua decisão pela negativa dos pais. Cumpria as obrigações sociais com dignidade, dava concertos, apesar destes lhe custarem um esforço enorme, e chegou a ser uma pianista de certo renome. Sempre teve um verdadeiro amor ao próximo, sendo muito sensível à cortesia e ao bom trato. Mas no fundo sempre pensava em seu desejo de ser religiosa. Surgiu-lhe, então, uma boa oportunidade de aperfeiçoar, num Conservatório de Nova York, seus estudos de piano, harmonia e composição. A oferta era tentadora:“Gostei do plano, pois apreciava apaixonadamente a arte e a beleza. E sempre almejei a perfeição.”

Seus pais duvidaram, mas aconselhados pelo pároco que insistia nisso consentiram, pensando que seria uma boa experiência para sua formação e, de 1916 a 1918, ela estudou nos Estados Unidos. Sendo do Canadá francês, teve dificuldades para se comunicar em inglês, mas encontrou conforto na música, já que o piano tem o mesmo som em qualquer país… Vivia na residência Nossa Senhora da Paz, dirigida pelas religiosas de Jesus-Maria, e estudava bastante no Conservatório, sentindo forte atração pela harmonia musical, matéria que mais gostava. Ao término dessa experiência em Nova York, seu relacionamento com Nosso Senhor tinha-se aprofundado e sua consciência permanecia sem mancha alguma: “Tive de seguir a moda e seus caprichos no que dizia respeito às cores e tecidos, mas evitei vigorosamente as suas exigências extravagantes e culposas”.

Caminho de perfeição e vida religiosa

Quando Dina retornou de Nova York, contava com 21 anos. Nos quatro anos que transcorreram até sua entrada na vida religiosa, em 1921, os quais passou na casa de seus pais, rezou muito e passou por tremendas aridezes de alma.

Continuou um curso de harmonia por correspondência no Conservatório de Nova York e seguia com os concertos musicais. Gostava muito da música. Mas a vida contemplativa lhe encantava e esse contraste da vida do mundo com suas aspirações lhe provavam a alma. Às vezes podia ouvir a voz de Cristo no fundo do seu coração, mas ficava incerta, com receio de estar sendo vítima de alguma ilusão; depois, porém, se tranquilizava: “Eu notava que Jesus só me falava ao coração quando tudo estava absolutamente calmo”. Em uma ocasião, Nosso Senhor mostrou-lhe um caminho cheio de espinhos pelo qual Ele tinha passado, manifestando o desejo de que ela O seguisse. Para ajudá-la, deu-lhe Sua Mãe Santíssima.

Quando soube que Santa Margarida Maria havia feito um voto de perfeição, Dina imediatamente tomou a resolução de fazer em todas as ocasiões o que era o mais perfeito, embora não tivesse autorização para se obrigar por um voto formal. “Parecia-me que fazer algo menos perfeito seria sinal de um amor tíbio”, escreveu ela.

Diante da dúvida sobre qual comunidade religiosa deveria escolher, o próprio Jesus lhe comunicou: “Quero que você entre na Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Tinha sido fundada na França, em 1818, por Santa Claudine Thévenet, dedicada à educação das jovens. Ali foi recebida como noviça em 15 de fevereiro de 1922, adotando o nome de Maria Santa Cecília de Roma. Em 15 de agosto de 1923 fez a profissão religiosa, recebendo a incumbência de ensinar a arte musical para as alunas da Congregação.

Grandes experiências místicas

Dina Belanger 1897 1929 en 1922Antes de entrar na plena alegria da união com Cristo, nos albores da sua vocação, ela tinha sentido o tormento da “noite escura da alma”. Entretanto, nesse período de provações fortaleceu-se sua vocação e recebeu ­diversas graças, entre as quais a de um rompimento tão profundo com seu passado, que ela se sentia como se tivesse morrido e nascido novamente.

Nos primeiros tempos de sua vida de religiosa, Dina recebeu por duas vezes uma singular graça de amor: numa experiência mística, ela “viu” Jesus levar seu coração e deixar o dEle em seu lugar. Depois, já professa, ela “viu” mais uma vez Jesus mostrar-lhe seu coração, que Ele havia levado para Si, queimá-lo todo no altar de Seu amor, bem como ela mesma, e soprar sobre as cinzas, ­fazendo-as desaparecer, e ficando Ele próprio em seu lugar.

Jesus avisou-lhe ainda que ela morreria em 15 de agosto de 1924, exatamente um ano depois de sua profissão. Quando chegou esse dia, ela não morreu fisicamente, mas Ele ­deu-lhe a entender que misticamente havia morrido para este mundo e sua união eterna com Ele tinha começado.

Em 3 de outubro desse mesmo ano, foi-lhe permitido fazer o tão almejado voto de perfeição. Numa linda formulação, prometeu a Jesus fazer, em qualquer circunstância, tudo do modo mais perfeito, nos pensamentos, desejos, palavras e ações. Ela se entregou a Deus com confiança e com plena consciência de sua própria fragilidade.

É Cristo que vive e fala em Dina

Depois dessa data, tendo Dina “desaparecido”, é somente a voz de Cristo que domina sua autobiografia. Ele lhe fala com uma ternura tocante e nela encontra a maior receptividade possível.

Certo dia, na festa do Nome de ­Jesus — que ela considerava a sua festa, uma vez que tinha sido substituída por Cristo — escrevia: “Desde o meio-dia, o meu doce Mestre me tem atraído a Si com uma ternura inefável… Depois do meu exame de ­consciência, notei que estava gozando da presença sensível de Jesus. E Ele me disse delicadamente: ‘Em honra da minha festa!’ Oh! Quanto eu gostaria poder pôr em palavras a doçura de Jesus!”.

Muitas vezes, antes de entregar–lhe Seu cálice ou Sua cruz, para que ela sofresse com Ele, pedia o consentimento dela com Sua costumeira gentileza: “Aceita?”. De um modo que a deixava sem palavras de tanto amor: “O sofrimento de meu Coração é o martírio do amor; e é isto, minha pequena esposa, que estou lhe dando”.

Jesus falava-lhe da necessidade de que seus sacerdotes tenham uma perfeita vida interior: “Meus sacerdotes… Oh! Quanto os quero! Eu os chamo a serem outros Cristos, a serem réplicas minhas. […] Ofereça a meu Pai, por meus sacerdotes, o espírito de oração do Meu Coração, o Meu espírito de oração, a perfeita união do meu Coração com Ele. Isto é o que falta à maioria dos meus sacerdotes: espírito de oração e uma intensa vida interior. […] Demasiados religiosos e almas sacerdotais não compreendem que os sacrifícios que lhes peço são chamas de amor que vão se desprendendo de meu Divino Coração para os arrastar e santificar seu humano coração”.

Pela pena de Dina, Jesus se manifestava à humanidade, esquecida de seu amor: “Meu Coração está tão transbordante de amor pelas almas que já não consegue mais segurar as torrentes de graças que Eu gostaria de derramar sobre elas: mas a maioria das almas não quer ter nada a ver com o meu amor…”.

“As almas ficam tristes na medida em que se distanciam de Deus. O grande desejo do meu Pai, e o meu, é de ver todas as almas felizes, ainda nesta terra”.

Dina Belanger 1897 1929 en 1929

Um cântico de amor

Dina faleceu no dia 4 de setembro de 1929, apenas sete meses antes de completar a “idade perfeita”, em que Cristo entregou Sua vida por nós na Cruz: 33 anos. Nos sofrimentos da enfermidade que a levou à morte — a tuberculose —, Jesus aceitou seu oferecimento como vítima, colhendo-a em tão jovem idade.

Em seus últimos escritos, de julho de 1929, num “cântico de amor”, Nosso Senhor abraça, por meio dela, a humanidade inteira:

“Nenhuma invocação responde melhor do que esta ao imenso desejo de meu Coração Eucarístico de reinar nas almas: ‘Coração Eucarístico de Jesus, venha o Vosso reino, pelo Imaculado Coração de Maria’. E ao meu infinito desejo de comunicar minhas graças às ­almas, nenhuma invocação responde melhor do que esta: ‘Coração Eucarístico de Jesus, abrasado de amor por nós, abrasai nossos corações de amor a Vós’”.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 93, setembro 2009. Por Ir. Elizabeth Veronica, EP.

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