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Beata Eugênia Joubert: Amiga do Coração de Jesus

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“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”, disse o Divino Mestre. E Ele busca almas que sejam suas amigas, como o foi a Beata Eugênia Joubert, cuja memória é celebrada no dia 2 de julho.

Foto: Reprodução

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Redação (02/07/2024 10:00, Gaudium Press) A hora ia avançada naquele 11 de fevereiro de 1876, festa da primeira aparição de Nossa Senhora de Lourdes. Na casa da família Joubert, localizada no árido planalto do ­Haute-Loire, estavam reunidos parentes e amigos para comemorar um nascimento. Em meio à celebração, um misterioso e alegre carrilhão fez-se ouvir de súbito, repicando sem cessar durante vários minutos. Desconhecendo a origem daquele som, todos indagavam que relação ele teria com o nascimento da criança. O futuro o diria…

A menina manifestou desde cedo uma índole alegre, mas tranquila. Aos cinco anos, deixou os cuidados paternos a fim de ser educada no internato das ursulinas de Monistrol, cuja rígida disciplina e austeras abstinências foram zelosamente observadas pela jovem ingressa. No convívio com as demais, buscava sempre o último lugar e recebia com frequência mais censuras que elogios. Em outro colégio no qual estudou, uma das professoras, para provar seu caráter, acusava-lhe de faltas que não havia cometido. Ela, contudo, assumia a culpa e não permitia que as amargas decepções turvassem o céu de sua alma cândida.

Esses pequenos sacrifícios a preparavam, sem que soubesse, para os grandes atos de generosidade que um dia haveria de realizar.

Modelo de piedade, virtude e modéstia

Sua devoção a Maria era notória, como testemunhou uma de suas colegas: “Sempre que ela me falava da Santíssima Virgem, via-se o Céu em seu olhar”.

Em maio, a cada semana costumava-se dar uma flor para a aluna que apresentasse as melhores notas. Eugênia esforçava-se com afinco neste mês dedicado a Maria, e tinha a alegria de oferecer-Lhe quatro belas flores. Embora muito pequena, quando desejava ardentemente uma graça, rezava o Rosário inteiro por nove dias consecutivos, aos quais acrescentava cinco sacrifícios que mais lhe custassem. E sua Mãe Celeste lhe atendia sempre.

Mais tarde Eugênia afirmaria: “Eu A amo porque A amo, porque Ela é minha Mãe. Ela me deu tudo, Ela me dá tudo e Ela ainda quer tudo me dar. Eu A amo porque Ela é toda bela, toda pura. Eu A amo e quero que cada uma das batidas de meu coração Lhe diga: Minha Mãe Imaculada, Vós sabeis bem que eu Vos amo!”

Após concluir os estudos, ela retornou à casa dos pais, onde se dedicou a diversas obras de caridade e piedade pouco comuns para sua idade. Ora visitava os enfermos no hospital da cidade, animando-os com seu entusiasmo inocente, ora se privava das sobremesas a fim de dá-las aos pobres. Muito lhe agradava conversar longamente sobre temas espirituais com as religiosas que cuidavam do hospital.

Já nessa época aplicou-se também ao apostolado com as crianças, ensinando-as a prática da oração e o catecismo com aquela virtude que tanto as atrai e pacifica: a paciência. Suas boas maneiras eram sempre edificantes, e sua modéstia, perfeita.

O que seria desta alma tão preservada? Eis a pergunta que muitos se punham. Ela, porém, buscava abandonar-se à vontade divina e confiava que o Bom Jesus lhe indicaria o rumo a seguir: “Ainda não tomei nenhuma decisão; procuro onde Jesus quer que eu fixe minha tenda”. E Ele em breve lhe revelaria.

A vocação se define

Beata Eugênia Joubert em sua juventude

Beata Eugênia Joubert em sua juventude

Em outubro de 1893, quando contava dezessete anos, Eugênia fez uma visita à sua irmã que ingressara na recém-fundada congregação das Irmãs da Santa Família do Sagrado Coração, o que foi para ela ocasião de imensas graças.

Encantada com o modo de vida das religiosas, logo discerniu o cerne da vocação delas: o entranhado amor que provinha da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, o qual animava todas as suas obras de apostolado e de piedade.

Não seria junto a essas religiosas que o Senhor a convidava a “fixar sua tenda”? A visita deixou profundas impressões em seu espírito; parecia que ela finalmente encontrara o que há anos procurava.

O fato decisivo para sua completa entrega a Deus foi uma conversa com o fundador da congregação, Pe. ­Louis-Étienne Rabussier, em 2 de julho de 1895.

Em 6 de outubro de 1895, Eugênia ingressou definitivamente na vida religiosa. A graça fazia-lhe sentir a doçura de uma existência de obediência, pureza e sacrifício. Imensa era sua alegria por ter “sido admitida na Santa Família de Jesus, Maria, José; nesta casa de fervor, onde o único Rei é Jesus, onde Maria é Rainha de todos os corações”.

“Vencer-se até o fim”

“Vencer-se, vencer-se até o fim!”, foi sua meta desde o postulantado. Para isso, entrou nas vias da perfeição como um guerreiro na batalha, como bem exprime um pequeno trecho extraído de seus escritos: “Combater a moleza pela generosidade. Ainda mais amor. Ainda mais sacrifício! Não olhar para mim mesma, mas sim para o Coração de Jesus e o Coração de Maria. Nada que o amor pede é insignificante”.

Desde logo, demonstrou profunda seriedade e maturidade, que ultrapassavam o comum para as jovens de sua idade. Era um modo de ser forjado pela responsabilidade de uma alta vocação e iluminado por uma concepção da vida sem ilusões sentimentais. Seus gestos e palavras denotavam “uma alma que se aplicou a viver com Nosso Senhor em seu coração”.

Não poupou esforços para desprender-se inteiramente das criaturas, a fim de ter o coração livre para Deus. Certo dia durante a Quaresma no qual assumira a função de porteira, viu aproximar-se uma amiga que conhecera no passado e lhe disse:

— Estamos na Quaresma e não se podem receber visitas.

Com essas poucas palavras fechou a porta e a amiga afastou-se, sem nada replicar.

Atrair o olhar de Jesus pelas humilhações e pela obediência

Fazia parte das atividades das Irmãs do Sagrado Coração ministrar o catecismo para crianças pobres e de pouca instrução. Nas redondezas de Le Puy-en-Velay, o resultado desse apostolado era excelente. O pároco de Aubervilliers, desejoso de vê-lo frutificar nos subúrbios de Paris, ambiente hostil à Religião e muito trabalhado pela propaganda socialista, apelou às religiosas.

Em 1896, sete delas responderam ao chamado, entre as quais se encontrava Eugênia, que havia pouco pronunciara os votos. Era uma oportunidade que se apresentava para provar seu amor, e ela se entregou sem reservas a esta missão durante quatro anos.

Eugênia nunca se esquivava do trabalho; dava inúmeras aulas ao longo do dia, chegando, às vezes, a perder a voz. Ela possuía um dom especial para cativar as crianças, em especial as mais rudes e indomáveis, as quais se tornavam dóceis e afáveis durante suas aulas.

Aos poucos, começou a suscitar pequenos apóstolos. Certa vez, um dos alunos – talvez o mais turbulento de todos – reuniu os companheiros na rua, diante de um crucifixo. Subiu num banco e, elevando a voz, indagou:

— Quem pregou Jesus na Cruz?

Como ninguém respondesse, acrescentou:

— Fomos nós que O fizemos morrer por causa de nossos pecados. Devemos Lhe pedir perdão!

E os meninos se ajoelharam para recitar o ato de contrição.

Entretanto, em meio às atividades apostólicas, uma santa preocupação lhe afligia: como unir-se mais ao Sagrado Coração de Jesus? A resposta para tal pergunta não tardaria em chegar, pois uma dura prova em breve se iniciaria.

Subindo o calvário

Em 1901, Eugênia retornou à casa da congregação a fim de continuar os estudos regulares. Durante os preparativos para a festa do Sagrado Coração de 1902, sentiu em seu íntimo um ardente convite a estreitar sua união com Deus. Desejava tudo dar a Jesus: sua vontade, sua liberdade e até sua vida.

Na noite da festa, os sintomas da doença que a conduziriam à eternidade se apresentaram e o diagnóstico não tardou: tuberculose. A jovem religiosa era convidada por Nosso Senhor à imolação de si mesma num ato de amor e abandono. Fiel ao seu Amado, ela nada recusaria: “A cruz é o mais precioso de todos os dons, de todos os diademas. Nosso Senhor me ama e quer unir-me a Ele. Resposta: Fiat… […] Eu serei a pequena hóstia e a Santíssima Virgem será o sacerdote que a oferecerá segundo o desejo de Nosso Senhor”.

Uma brusca mudança se operou em sua vida. Vítima de uma doença que a consumia aos poucos, a operosidade da vida de estudos, trabalho e apostolado deu lugar a uma aparente inação. E às dores do corpo juntaram-se as penas da alma. Suportaria ela o abandono interior em que seria deixada? Que valor tinha sua vocação se já não possuía forças para cumpri-la?

Contudo, tendo sido sempre magnânima nas pequenas e cotidianas obras, no momento da grande adversidade sua generosidade ultrapassou as expectativas.

Em meio aos sofrimentos, íntima união com o Sagrado Coração

O sofrimento é o instrumento do qual Nosso Senhor Se utiliza para elevar a patamares de santidade inauditos aqueles que O amam. E com Eugênia não foi diferente. Seus últimos dias estiveram marcados por grandes padecimentos.

Devido ao clima mais favorável, enviaram-na a Liège, onde teve uma pequena melhora, mas passageira. Em meio ao silêncio e à solidão da enfermaria, Eugênia permitiu que o Senhor se apossasse de sua alma. Seus sofrimentos não deixaram de ser recompensados com profusas graças místicas.

Datam deste período alguns colóquios com Nosso Senhor transcritos por ela, que permitem vislumbrar a mudança que o Redentor operava em sua alma. “Minha filha, deixa-Me fazer em teu coração e em todo o seu ser o que Eu desejo […]. Desde toda a eternidade vi tuas faltas, tuas infidelidades. Não sou Eu o Mestre? Não sou livre de amar tua miséria, teu nada? Desde que teu nada seja obediente, é sobre ele que realizo minhas obras”.

Ela, por sua vez, perguntava-Lhe como retribuir tantas graças. Disse Ele: “Tu me darás o que Eu te dou. Tu me amarás com o meu Coração. Tu obedecerás com a minha vontade. Meus desejos serão os teus, e tu salvarás as almas comigo”.

Árduos, contudo, foram aqueles dias. “Tudo é seco, frio e impotente em meu coração. Vinde, Jesus, tende piedade de mim!” Ao que o Mestre lhe respondeu, com extremos de satisfação: “Porque, minha filha, achar ruim o que Eu acho bom? A oração do sofrimento e do sacrifício Me é mais agradável que a contemplação”.

“Consummatum est”!

No 18 de junho de 1904, Eugênia caiu de cama para não mais se levantar. As hemoptises passaram a ser contínuas. Entre cada acesso de tosse, não cessava de murmurar “Tudo por Vós, tudo por Vós…”

No dia 26, seu estado agravou-se e lhe administraram a Unção dos Enfermos. A intensificação das dores não arrefeceu seu ânimo nem turvou sua esperança.

Ao ser encorajada a unir seus sofrimentos aos da Paixão de Jesus, respondeu: “Eu o faço sem cessar em meu coração. Sofrer sem o bom Deus, eu não o poderia”.

Em 2 de julho, após recitar várias orações, Eugênia indagou as horas. Eram as dez da manhã. A resposta lhe fez abrir um grande sorriso: eram exatamente o dia e a hora em que, havia nove anos, atendera ao apelo divino de consagrar-se à vida religiosa!

As dores da agonia se intensificaram e sua vida parecia estar presa a um fio, que insistia em não se romper. Entre terríveis crises de asfixia, dizia quase sem voz: “Já não posso mais… Quando Ele virá?” Nosso Senhor exigia dela até a última gota de sofrimento.

Por fim, osculando piedosamente um crucifixo e pronunciando por três vezes o nome de Jesus, a religiosa de vinte e oito anos exalou o último suspiro, rendendo sua alma Àquele do qual se fizera íntima amiga. Era a primeira sexta-feira do mês, dia dedicado ao Sagrado Coração de Jesus!

Sua vida, à primeira vista simples e discreta, mas permeada de graças místicas e atos de insigne virtude, revela o profundo mistério de amor que envolve o Sagrado Coração de Jesus. Sendo Deus, Ele tudo possui e tudo pode. Entretanto, deseja almas que O consolem e nas quais possa derramar sua bondade, almas que sejam suas amigas e estejam dispostas à entrega completa de si mesmas.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos da Evangelho n. 247, julho 2022. Por Ir. Isabel Lays Gonçalves de Sousa, EP.

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