Cardeal Burke deplora vídeos “deepfakes”

25 de outubro de 2025

O Cardeal Burke explicou nas redes sociais que teve conhecimento de “produções enganosas sendo divulgadas” nas quais ele é acusado de criticar o Papa Leão XIV em questões de doutrina e liderança da Igreja.

Foto: Cardinal Burke/ X

Redação (25/10/2025 08:40, Gaudium Press) No mundo digital em que vivemos, a verdade tornou-se objeto de disputa. A máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” ganhou nova vida para o bem, mas também para o mal. É nesse cenário que se insere o recente pronunciamento do Cardeal Raymond Burke, que condenou com veemência os vídeos e imagens alteradas por inteligência artificial (conhecidos como deepfakes), qualificando-os como “gravemente pecaminosos”. Sua declaração não é meramente pontual; ela toca dimensões profundas da ética, da fé e da vida eclesial em um tempo marcado por avanços tecnológicos.

Segundo o Cardeal Burke, “chegou ao meu conhecimento que certas produções enganosas estão sendo divulgadas, atribuindo-me palavras de oposição a Sua Santidade, o Papa Leão XIV”.

Os vídeos em questão, gerados por manipulação tecnológica, continham uma “refutação” fictícia ao Pontífice — algo que Burke afirma jamais ter pronunciado. Ele assevera com clareza: “I have made no such statements, nor have I given any address or interview even remotely resembling what is being described” (Não fiz tais afirmações, nem concedi qualquer entrevista ou mensagem que remotamente se assemelhe ao que está sendo descrito). Para o purpurado, “o uso deliberado da falsidade para semear divisão dentro da Igreja é gravemente pecaminoso. […] Essas produções falsificadas trazem a nítida marca do Maligno, que sempre procura confundir os fiéis e colocar irmão contra irmão dentro do Corpo Místico de Cristo”.

A tecnologia de deepfake possibilita a manipulação de vídeos e áudios para simular declarações nunca proferidas por uma pessoa. No contexto eclesial, isso representa duplo risco: compromete a credibilidade da autoridade religiosa e ameaça a unidade dos fiéis. Quando um cardeal se vê obrigado a afirmar publicamente sua lealdade ao Papa, repudiando falsificações, evidencia-se a gravidade da situação.

Burke assinala, com precisão, que a provocação dessa falsidade dentro do “Corpo Místico de Cristo” não é trivial. A unidade não é mera formalidade hierárquica, mas “desejado por Nosso Senhor” para sua Igreja. Nesse sentido, o uso de deepfakes não é só fraude técnica; torna-se instrumento de ruptura espiritual e comunitária.

Conforme reportado pela Aleteia, o Papa Leão também foi vítima de manipulações por “deepfakes”. Um canal do YouTube que simulava sermões do Papa Leão XIV foi removido, após a constatação de que 26 vídeos, gerados por inteligência artificial, tinham quase um milhão de visualizações. Tal fato mostra que o risco não é apenas local ou isolado, mas global, uma vez a tecnologia sofisticada, a audiência massiva e a aparência de legitimidade amplificam o potencial danoso dessas falsificações.

Nesse contexto, o Cardeal Burke convoca os fiéis não à vingança ou à suspeita, mas à oração: “Peço, portanto que rezem fervorosamente por aqueles que criam e disseminam tais enganos para que, tocados pela graça divina, possam passar das trevas para a luz da verdade, da escravidão da mentira para a liberdade da conversão”.

O alerta da Igreja, nas palavras do Cardeal Burke, não é apenas sobre “vilania tecnológica”, mas sobre o futuro da comunhão cristã diante de um mundo cada vez mais apto a produzir “verdades falsas” e a acreditar nelas. Nesse cenário, manter-se fiel à mensagem de Cristo exige vigilância e discernimento.

Num tempo em que a imagem parece contorcer os limites da realidade, convém recordarmos que o Evangelho não se baseia em artifícios, mas em testemunho vivo e palpável. E testemunhar nunca foi tão urgente. Talvez tenhamos que nos acostumar a uma nova realidade nas comunicações, incluindo as comunicações católicas, que é a de crer somente após cuidadosa verificação.

Por Rafael Tavares