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Correspondendo a um chamado grandioso

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O contraste entre a grandeza do chamado cristão e as limitações humanas faz com que muitos se julguem incapazes de cumprir a própria vocação. Entretanto, a “pedagogia” de Deus nos transmite um ensinamento diferente.

Redação (06/02/2022 15:06, Gaudium Press) Como vemos nos Evangelhos, os primeiros seguidores de Nosso Senhor não foram constituídos apóstolos, no sentido estrito do termo, logo no primeiro encontro com o Divino Mestre. Tal encargo os levaria a estreitar os vínculos de união com Ele, fazendo-os participar de seu próprio Poder; exigiria uma dedicação total ao apostolado e um abandono de tudo o que era alheio ao serviço missionário.

Antes de lhes enviar a pregar o Evangelho, Jesus, qual “Divino Pedagogo”, preparava-os de modo paulatino e muito cuidadoso. Eles, de sua parte, dividiam seu tempo e sua atenção entre o discipulado e as atividades profissionais, necessárias para a subsistência própria e das respectivas famílias. Por exemplo, Simão, André, Thiago e João eram todos pescadores. E não era raro avistar suas barcas sobre as águas do lago de Genesaré, em meio àquelas silenciosas noites da Palestina. Foi precisamente após uma destas noites de pescaria que se deu o chamado à vocação dos quatro primeiros discípulos.

A pesca miraculosa

Naquele tempo, Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se a seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes (Lc 5, 1-2).

Naquela época o lago de Genesaré era centro de intensa atividade pesqueira, que constituía o principal meio de subsistência da população local. Como o exercício da profissão exigia sempre a ação em conjunto, os pescadores se reuniam em pequenas equipes, sendo comum duas ou mais dessas corporações se associarem. Com barca própria e sob a direção de um arrais, os grupos de consócios uniam esforços de cada jornada e partilhavam o produto final obtido.

No episódio aqui contado, as duas embarcações — uma, de Simão; outra, dos filhos de Zebedeu — haviam regressado após uma noite de vãs tentativas. Ao estado de desapontamento geral dos pescadores somavam-se os incômodos de outros fatores humanos, como o cansaço da noite passada em claro e a necessidade de lavar as redes, labor indispensável depois da pesca, fosse ela bem ou mal sucedida…

Segundo a cuidadosa pedagogia do Mestre, era assim, exaustos e fracassados, que os pescadores se encontrariam nas condições ideais para receber a missão a eles reservada.

Pescadores de homens

Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. […]  Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam.  Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem (Lc 5, 4-7).

Com esta ordem de avançar “para águas mais profundas”, o Redentor indicava a ousadia que deveria caracterizar as metas daqueles pescadores dali em diante, predispondo-os a uma ação mais ampla do que os limitados horizontes lacustres nos quais trabalhavam: o plano divino da salvação dos homens. Em outras palavras, Nosso Senhor pedia corações generosos.

Como resultado final da pesca, os Apóstolos obtiveram uma tal quantidade de peixes que foi necessário pedir a ajuda à outra barca. O Salvador mostrava, assim, quanto a união de forças seria indispensável para a evangelização dos povos.

Entretanto o principal efeito desse milagre foi a abertura de alma conferida aos apóstolos para que aceitassem o chamado de Nosso Senhor: “Vós sereis pescadores de homens” (Cf. Lc 5, 10). Eles responderam no mesmo instante, deixaram tudo e seguiram o “Divino Pescador”, pois ficou-lhes claro o quanto Ele possuía poder sobre tudo, desde os peixes até os corações dos homens, dirigindo todas as coisas conforme os seus planos elevadíssimos. Assim, apesar de não se sentirem inteiramente aptos para tal incumbência devido a seus defeitos (Cf. Lc 5, 8), eles se entregaram nas mãos do Mestre e seguiram-No, tornando-se “pescadores de homens”.

Um chamado para todos os séculos

O eco do encargo entregue aos Apóstolos às margens do lago de Genesaré repercute ao longo dos séculos e chega também a nós, conclamando-nos à missão de trabalhar pela glória de Deus e da Igreja, quer sejamos clérigos, religiosos ou leigos. Como católicos, devemos buscar a edificação de uma sociedade conforme aos preceitos evangélicos e, para isso, cabe-nos a responsabilidade de atrair as almas dispersas no mar revolto do mundo moderno e levá-las à barca de Pedro.

Não obstante, inúmeras vezes nos depararemos com nossas próprias insuficiências e falhas. Frente a elas, avançar e lançar as redes afigura-se, às vezes, como algo impossível… O que é necessário, então, para corresponder a uma missão tão superior às nossas capacidades?

É o próprio Mestre quem nos responde, pela pena de São Paulo: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” (II Cor 12,9). Portanto, quanto mais nos sentirmos incapazes de cumprir a vocação à qual Deus nos chama, maior deve ser nossa confiança no poder da voz que nos convoca. É vendo uma atitude de humildade cheia de fé que Nosso Senhor opera a pesca milagrosa, deixando patente que os bons resultados não dependem das qualidades nem dos esforços humanos. Ele confunde os fortes deste mundo e conduz os fracos à realização de obras grandiosas (cf. I Cor 1, 27).

A exemplo de Pedro, sejamos generosos e confiantes, pois também em nossas vidas Cristo apareceu ordenando: “Duc in altum![1] (Lc 5,4) Eu os quero como instrumentos para renovar a face da Terra! Não tenham medo, pois Eu mesmo lhes darei as forças para a vossa plena vitória!”

Por Jerome Sequeira.

 

Extraído com adaptações de “O inédito sobre os Evangelhos” de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, volume VI, p. 63-75.


[1]Do latim: avance para mais alto.

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