Os embaixadores de Cristo e os do demônio têm por campo de batalha a sociedade atual e cada alma em particular. Por qual dos lados optaremos nesta Quaresma?
Redação (01/03/2024 09:42, Gaudium Press) Hoje o mundo é assolado por terríveis catástrofes. Quando não se trata da ameaça de inimagináveis cataclismos nas suas mais diversas formas, é o perigo de uma guerra mundial prestes a se tornar nuclear que desponta no horizonte. Em meio a essa insegurança, Deus nos oferece nesta Quaresma, uma vez mais, um tempo favorável para a conversão.
As falsas promessas dos embaixadores do demônio
Não há pecado que não tenha por raiz o orgulho. E para combatê-lo, é preciso pôr-se na contemplação de Deus: quanto mais se ama ao Senhor, mais se recebem luzes para participar de sua felicidade. Essa realidade, tão simples de ser enunciada, constitui a grande dificuldade do homem nesta terra. Por isso, aqueles que querem servir ao demônio na sua obra de perdição e, portanto, se erigem em seus embaixadores, usam deste terrível vício para conduzir os demais pelas vias que levam ao inferno.
Tal loucura é estigmatizada pelo Divino Mestre no capítulo sexto do Evangelho de São Mateus, ao descrever uma série de costumes praticados por aqueles que Ele denomina “hipócritas”, referindo-se, sem dúvida, aos judeus que se deixavam guiar pela prática religiosa toda feita de exterioridades da seita farisaica.
Neste ano de 2024, esse período penitencial reveste-se de um caráter especial. Tal como nas épocas passadas, nos é dado escolher entre os embaixadores de Cristo, que nos apresentam o caminho da salvação, e os novos embaixadores do demônio que, como os fariseus do tempo de Nosso Senhor, oferecem soluções alicerçadas no orgulho e em recursos humanos, cujo fim último reside nesta terra.
Multiplicam-se as descobertas científicas que pretendem tornar a vida humana mais agradável e prolongá-la indefinidamente, como se a felicidade plena se encontrasse neste mundo e não no Céu.
Proliferam-se avanços tecnológicos cada vez mais ousados e invasivos, cuja aceitação sempre exige alguma “entrega desinteressada”, haja visto os efeitos deletérios para a saúde dos onipresentes aparelhos cibernéticos. Impõe-se uma nova religião com moral própria, cujos “atos de piedade” visam tão só impressionar a opinião dominante, em geral avessa à Lei de Deus.
Tornou-se bonito, por exemplo, pedir perdão pelos “pecados” cometidos contra o meio ambiente, chegando às vezes a extremos que ferem o senso comum, ou penitenciar-se por atos tachados de “inadequados” pela nova moral, mesmo se isso signifique romper com a fidelidade ao ensinamento tradicional da Santa Igreja em matéria de Fé e de costumes, enquanto esta mesma fidelidade passa a ser considerada rigidez e falta de caridade por não pactuar com o relativismo reinante.
Os embaixadores do demônio, enquanto subestimam o valor dos Sacramentos e, portanto, da graça divina, supervalorizam a ciência, que assegura acabar com certos males, sem nunca o fazer inteiramente. À semelhança de seu caudilho, eles nunca dão o que prometem, mas tiram o que afirmavam garantir. Em cada época, enfim, o demônio cria um bem-estar pseudoeterno para o homem, que lhe faça esquecer a Deus.
O que oferecem os embaixadores de Cristo?
Em sentido diametralmente oposto, os embaixadores de Nosso Senhor Jesus Cristo exortam a uma verdadeira conversão do coração, fruto de um arrependimento sincero e um confiante pedido de perdão, que se manifesta em atos de piedade e penitência autênticos. Esses embaixadores, como São Paulo frisa, dão todo o valor à graça de Deus, exortando a que ela não seja recebida em vão (cf. II Cor 6, 1).
Cabe então perguntar: o que nos impede de seguir o conselho do Apóstolo e nos deixarmos reconciliar com Deus (cf. II Cor 5, 20)? Diversos fatores, entre os quais: não reconhecer nossas próprias culpas; não considerar nos acontecimentos que nos circundam a mão da Providência a nos chamar para Si; não ver em Deus o Pai bondoso, compassivo, paciente e cheio de misericórdia que consentiu em sacrificar seu Unigênito para nos redimir (cf. II Cor 5, 21); não buscar a salvação na graça divina, concedida pelos Sacramentos. Em suma, detém-nos o fato de dar mais ouvidos aos embaixadores dos demônios que aos de Nosso Senhor.
O orgulho leva o homem a situações ridículas, mas Nosso Senhor, mais uma vez nesta Quaresma, nos convida à simplicidade de coração e a nunca chamar a atenção sobre nós mesmos. Em suma, Ele nos ensina que quem procura o seu tesouro na terra perde o do Céu, e quem nega os prêmios do mundo ganha os do Céu.
Atendamos à voz de Cristo que nos vem por meio de seus embaixadores. E se nossa consciência nos acusa de alguma falta, façamos uma boa Confissão, que nos reconcilie verdadeiramente com Deus e seja o ponto de inflexão para a retomada do bom caminho, no qual perseveremos, com ajuda da graça, de ora em diante.
Por Mons. João Clá Dias, EP.
Texto extraído, com pequenas adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 254, fevereiro 2023.
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