InícioNotícias da IgrejaEntre o Tabor e o Calvário, o que fazer?

Entre o Tabor e o Calvário, o que fazer?

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Engana-se quem julga que a Transfiguração de Nosso Senhor foi apenas um marco na vida dos Apóstolos. Então, qual é o significado deste grandioso acontecimento para nós?

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 Redação (06/08/2023 12:33, Gaudium Press) Os Evangelhos narram não só as inúmeras ocasiões nas quais transparecem claramente a natureza humana de Nosso Senhor, mas também abundantes fatos que manifestam a divindade de Jesus: desde os sobrenaturais fatos que envolveram o seu nascimento, sua glorificação por parte do Pai e do Espírito Santo no momento de seu Batismo, os inúmeros milagres, como curas de cegos, leprosos e coxos; ressurreições, domínio sobre a natureza e tantos outros sinais por Ele realizados. No entanto, sem dúvida, já prefigurando a glória de sua Ressurreição, a manifestação mais clara de sua divindade deu-se na Transfiguração, comemorada na liturgia de hoje.

Uma preparação para o Calvário

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o Sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram Moisés e Elias conversando com Jesus (Mt 17,1-3).

Ali, no alto do Tabor, Moisés e Elias representavam o Antigo Testamento: Moisés, a lei; Elias, o profetismo. Eram as duas grandes figuras do povo eleito que lá estavam, diante do Filho de Deus.

Quem seria capaz de imaginar todos os fulgores que os três Apóstolos contemplaram naquele momento? Trata-se de algo realmente indescritível!

Mas qual era a intenção de Nosso Senhor ao manifestar sua glória a esses três discípulos?

“Coincidentemente”, foram os mesmos – Pedro, Tiago e João – que Nosso Senhor chamou junto a Si para que vigiassem com Ele no momento de sua agonia no Jardim das Oliveiras (Cf. Mc 14,33; Mt 26,37). Terá sido mesmo mera coincidência?

Diz muito acertadamente um antigo adágio que “as palavras comovem, mas os exemplos arrastam”. De fato, “um ensino puramente doutrinário não é capaz de, por si só, mover o homem a transformar sua vida”.[1] Tendo em vista as duras provas pelas quais seus discípulos deveriam passar, Nosso Senhor poderia ter-lhes anunciado apenas com palavras a glória que estava reservada a Ele e, de alguma forma, também a todos que lhe fossem fiéis. Contudo, era tão grande o seu amor por eles, e tão grandes as dificuldades que teriam de enfrentar, que Ele preferiu não apenas anunciar-lhes a sua glória, mas quis também manifestar-lhes tal glória.

Além disso, como afirma São Tomás de Aquino, “para trilharmos bem um caminho, é necessário termos um conhecimento prévio do fim. […] E isso sobretudo é necessário, quando o caminho é difícil e áspero, a jornada laboriosa, mas belo o fim”.[2]

Assim sendo, a Transfiguração foi para os Apóstolos uma preparação feita por Jesus para os sofrimentos que lhes aguardavam, de modo que eles “não só se sentiriam robustecidos para enfrentar os traumas de sua Paixão, como também mais facilmente ajudariam seus irmãos a solidificar a Santa Igreja, e fortaleceriam os fiéis ao longo dos tempos”.[3] Neste sentido, ainda comenta o Papa São Leão Magno: “Era preciso que os Apóstolos concebessem em sua alma esta forte e ditosa firmeza, e não tremessem ante a aspereza da cruz que eles deveriam levar”.[4] Esse acontecimento foi, portanto, de suma importância para a própria perseverança e fidelidade não apenas destes, mas também dos demais Apóstolos, e até mesmo, da própria Santa Igreja.

Deste modo, enganar-se-ia muito o leitor se julgasse que a Transfiguração de Nosso Senhor foi um marco apenas naquele contexto histórico, e que, em nossos dias, este fato, belo em sua narração, não repercutiria em nossas vidas.

Entretanto, sem dúvida alguma, este acontecimento nos traz um ensinamento belíssimo, a qual devemos guardar como um verdadeiro tesouro.

Os “Tabores” de Deus em nossas almas

Conforme asseveram os teólogos, Deus derrama graças místicas sobre todos os que trilham as vias da salvação, e nenhum homem está excluído de recebê-las.[5] Elas são como tesouros preciosíssimos, como “montes Tabor” onde Nosso Senhor transfigura-Se diante de nós. Quem não terá sentido, alguma vez, uma grande alegria interior, uma consolação sobrenatural ao assistir a uma santa Missa, ao escutar uma bela pregação ou ao contemplar uma imagem piedosa?

Tudo isso são visitas de Deus à nossa alma, e devem ser guardadas não apenas na memória, mas sobretudo, no coração, onde devem ser gravadas a ferro e fogo, de modo que nunca venham a apagar-se. E, muitas vezes, elas nos são concedidas tendo em vista alguma provação pela qual tenhamos que passar em breve. Nestas ocasiões, patenteia-se de modo especial o desvelo que Deus tem por cada um de nós: antes mesmo de lhe pedirmos auxílio, Ele já nos está amparando.

Nossa atitude perante essas graças deve ser semelhante à de São Pedro na Transfiguração: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, e outra para Elias” (Mt 17,4). Ou seja, se pudéssemos, nunca permitiríamos que elas deixassem nossa alma.

Entretanto, para nossa salvação, Deus permite não apenas os agradáveis momentos de “Tabor”, mas também os árduos momentos do “Calvário”.

Saibamos, pois, fazer frutificar e corresponder a todas as graças que recebemos de Deus, pois, no momento da prova, elas serão nosso amparo, nossa força e nossa vitória.

Por Lucas Rezende


[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. LEV: Città del Vaticano, v.7, 2013, p. 136.

[2] SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q. 45, a.1.

[3] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Op. cit., p. 137.

[4] SÃO LEÃO MAGNO. Hom. Sabb. Ante II Dom. Quadr. Sur la Transfiguration, hom. 38 [LI], n. 2. In: Sermons. Paris: Du Cerf, 1961, v. 3, p. 16-17.

[5] Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. Les trois âges de la vie intérieure. Paris: Du Cerf, 1995, v. 1, p. 27.

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