É o que revela um novo estudo conduzido pela Universidade Católica da América.

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Redação (17/10/2025 09:57, Gaudium Press) O Estudo Nacional de Sacerdotes Católicos de 2025, cujos resultados foram divulgados em 14 de outubro, revelou que os sacerdotes mais jovens tendem a se autodescrever como teologicamente ortodoxos e politicamente moderados. Esses clérigos demonstram maior inclinação para considerar o acesso à Missa Tradicional em Latim como uma prioridade, relatam sentimentos de solidão e percebem obrigações excessivas em atividades alheias à sua vocação sacerdotal.
Conduzido pelo Projeto Católico da Universidade Católica da América, o estudo também indicou que os sacerdotes mais jovens são menos propensos a priorizar a sinodalidade – o modelo de governança participativa impulsionado pelo Papa Francisco – e exibem menor preocupação com a influência das mulheres na Igreja, em comparação com seus colegas mais velhos.
Este relatório de 2025 dá sequência ao pioneiro Estudo Nacional de Sacerdotes Católicos de 2022, o mais abrangente estudo sobre o clero americano em mais de meio século, o qual concluiu que o clero, em linhas gerais, prosperava, apesar da profunda desconfiança em relação aos bispos e do receio de sofrerem acusações falsas de abuso.
Uma análise posterior dos dados, publicada em 2023, evidenciou uma redução drástica na proporção de novos sacerdotes católicos americanos que se identificam como teologicamente “progressistas”, em contraste com gerações anteriores.
De 70% a 8%
O relatório de 2025 fornece evidências adicionais de uma significativa divergência teológica entre os sacerdotes mais velhos e os mais jovens. Enquanto mais de 70% dos clérigos ordenados antes de 1975 se autodenominaram teologicamente progressistas, apenas 8% dos ordenados após 2010 adotaram essa autodefinição.
Em contrapartida, mais de 70% dos padres mais jovens declararam-se “conservadores/ortodoxos” ou “muito conservadores/ortodoxos”, conforme apurado pela pesquisa Gallup, realizada entre maio e junho de 2025, com uma amostra de 1.164 sacerdotes.
O estudo também identificou uma clara mudança geracional nas posições políticas, com uma redução na autodefinição liberal e um aumento da proporção de moderados entre os grupos mais recentes.
Apenas 25% dos ordenados antes de 1975 se identificaram como politicamente moderados, ao passo que 37% dos ordenados após 2010 o fizeram. No grupo anterior a 1975, mais de 61% se descreveram como “um pouco” ou “muito” liberais, e menos de 15% como conservadores. Já entre os ordenados após 2010, cerca de 10% se identificaram como liberais, enquanto 51% se declararam “um pouco” ou “muito” conservadores.
Não obstante, o relatório revelou uma preocupação generalizada, em todo espectro político sacerdotal, com as políticas do governo Trump. Dois terços dos padres que se autodenominaram “muito conservadores” manifestaram pelo menos alguma preocupação com tais políticas, e essa proporção elevou-se a 83% entre os “conservadores”.
Ademais, observou-se uma diferença geracional nas prioridades litúrgicas: apenas 11% dos ordenados antes de 1980 consideraram o acesso à Missa Tradicional em Latim uma prioridade, em comparação com 20% dos ordenados entre 1980 e 1999 e 39% dos ordenados no século XXI.
Devoção Eucarística e Sinodalidade
Os sacerdotes mais jovens demonstraram maior inclinação para priorizar a devoção eucarística, em contraste com os de gerações anteriores, que tenderam a enfatizar temas como mudanças climáticas, imigração, comunidade LGBT, pobreza, racismo e justiça social.
O relatório identificou diferenças geracionais marcantes quanto à sinodalidade — neologismo introduzido pelo Papa Francisco para designar um itinerário de renovação espiritual e reforma estrutural, visando tornar a Igreja mais participativa e missionária. Somente 29% dos sacerdotes ordenados após 2000 a mencionaram como prioridade, ante 57% do grupo ordenado entre 1980 e 1999, e 77% dos ordenados antes de 1980.
O estudo também indagou sobre o grau de preocupação com a influência das mulheres na Igreja, tema central do processo sinodal global de 2021-2024, impulsionado pelo Papa Francisco. Mais de dois terços dos padres ordenados antes de 1980 declararam-se “extremamente preocupados”, em comparação com cerca de metade do grupo de 1980-1999 e apenas um em cada cinco entre os ordenados após 2000.
De modo geral, os sacerdotes americanos revelaram-se desconectados do processo sinodal, fenômeno já observável durante a própria iniciativa. Ao serem questionados se o Sínodo sobre a Sinodalidade representara uma perda de tempo, 37% concordaram, enquanto 39% discordaram. Apenas 28% afirmaram sentir-se plenamente incluídos no processo, contra 36% que o negaram; ademais, somente 25% consideraram o processo útil para seu ministério, em oposição a 42% que o rejeitaram.
Solidão e responsabilidades de um sacerdote
Embora o estudo de 2025 tenha constatado que os sacerdotes mantiveram elevados níveis de bem-estar pessoal três anos após o relatório inicial, a solidão manifestou-se de forma mais acentuada entre a geração mais recente de clérigos.
Apenas 27% dos ordenados antes de 1975 se classificavam como solitários, em contraste com 34% do grupo ordenado entre 1980 e 1999, e 40% dos ordenados após 2000. Os autores do relatório concluíram que “padres com maior tempo de serviço são substancialmente menos propensos a relatar sentimentos de solidão”.
Uma nítida divisão geracional também emergiu ao se indagar se os sacerdotes eram solicitados a realizar tarefas alheias à sua vocação sacerdotal. Somente 13% do grupo anterior a 1980 concordaram com essa afirmação, comparados a 38% do grupo de 1980-1999 e 45% dos ordenados após 2000.
O relatório destaca que “essa disparidade geracional sinaliza uma preocupação crescente com a sustentabilidade do ministério, particularmente diante do aumento das exigências paroquiais”. Ademais, pode refletir divergências na compreensão geracional do significado da vocação sacerdotal: “Esses homens estão sendo solicitados a fazer coisas que não se pediam às gerações anteriores, ou será que eles simplesmente não veem essas coisas como responsabilidade de um sacerdote, enquanto as gerações anteriores viam?”
Como possível explicação, o documento sugere que “poderia ser que os sacerdotes ordenados mais recentemente são incumbidos de responsabilidades maiores do que as gerações anteriores”.
Eles sentem que estão sendo solicitados a fazer demais
Desde o ano 2000, diversas dioceses nos Estados Unidos têm fechado ou fundido paróquias em resposta a transformações demográficas. De acordo com o relatório, embora a maioria dos sacerdotes administre uma única paróquia, 23% supervisionam duas e 17% gerenciam três ou mais.
O documento conclui que os padres mais jovens experimentam níveis elevados de esgotamento (burnout) e solidão em comparação com gerações anteriores, além de uma proporção maior deles sentir que são solicitados a fazer mais do que deveriam”.
“Com a aposentadoria da geração mais idosa de sacerdotes, é razoável prever que os mais jovens assumirão responsabilidades ainda maiores nos próximos anos. Consequentemente, não é difícil antecipar um aumento contínuo no esgotamento, à medida que o número de clérigos ativos diminui.
“O estudo indica que, em termos gerais, a saúde mental dos padres americanos é satisfatória, embora 11% tenham relatado o recebimento de tratamento ou terapia para saúde mental.
“Embora não seja possível segmentar os dados por diocese, evidências robustas apontam para variações significativas nos fatores de estresse entre dioceses — e até mesmo entre paróquias —, o que pode ser agravado por reestruturações diocesanas, processos de falência e circunstâncias análogas”, observa o relatório.
Pouca confiança nos bispos, muita no Papa
Em meio às incertezas, observou-se um leve aumento na confiança dos sacerdotes em relação aos bispos, elevando-se do mínimo histórico de 22% em 2022 para 27% em 2025, conforme apontado pelo relatório.
Os pesquisadores também avaliaram a opinião dos sacerdotes sobre o Papa Leão XIV, eleito em 8 de maio de 2025 após a morte do Papa Francisco em 21 de abril. Eles indicaram que 86% dos sacerdotes expressaram “grande” ou “bastante” confiança no primeiro papa nascido nos Estados Unidos, enquanto 80% esperavam que as relações entre o Vaticano e a Igreja americana melhorassem “um pouco” ou “significativamente”.
Com informações The Pillar
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