Duas são as frases que norteiam minha jornada, uma delas é a que diz que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e que são chamados pelo seu decreto” (Romanos 8.28) e a outra de Aristóteles, onde ele afirma: “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da Verdade”.
Com a primeira, aprendi que com “todas” São Paulo quer dizer, vejam só, TODAS as coisas, o que, claramente, inclui as que não são muito agradáveis. Hoje tenho 28 anos e há mais ou menos 17 anos atrás minha querida Vó, mãe de criação, Jumerci, faleceu. Este trágico evento mudou minha vida do avesso, pois meu avô, por razões diversas promoveu uma mudança de definitiva de cidade levando-me com ele. Então o cenário era de um garoto que há pouco perdera sua mãe de criação e que agora, perde seus amigos, amores, história, casa e até mesmo seu senso de unidade e vai para um lugar inóspito sozinho, sim, pois o recém divorciado avô já de imediato investiu tudo o que tinha em um novo relacionamento por medo de morrer sozinho – e aqui preciso ressaltar que eu o entendo –, inclusive seu tempo com este rapaz. Resultado: ele era um pré-adolescente que acabara de perder [literalmente] tudo e que agora estava morando sozinho. Está aí a receita da desgraça; em poucos meses ele já estava bebendo; do álcool para o tabaco foi um processo rápido; do tabaco para a maconha outro passo e não demorou muito para chegar ao crack, thinner, cola de sapateiro e até esmalte de unha.
Tudo isso trouxe muitos problemas, obviamente, pois aconteceu tudo demasiadamente cedo para este rapaz – o que hoje alguns fazem depois dos 20 ou 30 anos, eu fiz com 13. No entanto, foi nesse cenário aparentemente desastroso que meu coração se abriu com sinceridade “ao Deus que ouvi falar” e, aos 17 anos, me rendi completamente ás graças e misericórdias d’Ele. Tive uma queda neste percurso aos 20 anos, mas desde os 21 que estou completamente limpo ininterruptamente. Algumas perguntas podem ser feitas, naturalmente, como “se minha querida Avó não tivesse falecido, eu teria um encontro com Deus?” Não sei, o que sei é que a vida que eu vivi em toda a sua concretude foi a vida que conheceu nosso Senhor Jesus Cristo. Claro que aqui não estou dizendo que Deus promove as desgraças para que o aceitemos, mas que até mesmo estas situações “cooperam para o [nosso] bem”! Dito d’outro modo, Deus em seu infinito poder e sabedoria, transforma situações ruins em seu inverso para que, de algum modo nós mesmos sejamos os primeiros a aprender com elas e também auxiliar outros que estejam na mesma situação.
Após esta queda tornei-me evangélico, caminhei em algumas denominações e por necessidades diversas ao longo de 5 ou 6 anos precisei trocar de igreja algumas vezes; ou pela igreja fechar, ou pela denominação não estar muito perto ou mesmo no caso da IURD, eu ser expulso por mostrar ao pastor que ele estava deturpando o sentido de “vida em abundancia”.
Nesse tempo empreendi uma batalha contra o ateísmo, nessa área sou conhecido em alguns núcleos. Também combati calvinistas e também lutei contra o Catolicismo. Mas aqui há de ser feita uma pequena ressalva. Contra o ateísmo e as doutrinas de João Calvino eu me aprofundei em cada área, respectivamente, e as compreendi e, a partir disso, denunciei seus equívocos. Com o catolicismo não aconteceu isso e aqui, entra o porquê deste pequeno ensaio. Anunciei minha conversão ao Catolicismo há exatos 4 meses e, surpreendentemente, houve muito alvoroço nas redes sociais. Por um lado, católicos me acolhiam, por outro, protestantes tentavam descolar de mim a origem protestante dizendo que por eu já ter feito parte de igrejas alheias ao verdadeiro protestantismo, eu nunca fora, de fato, um protestante. Curiosamente, enquanto “do lado deles”, isso nunca foi um problema. Mas devo confessar que agora, olhando para trás, fico muito lisonjeado pela repercussão por parte dos protestantes, pois, se eu fosse absolutamente insignificante, nada teriam dito de mim.
E também, claro, pela ótima receptividade que tive por parte dos Católicos, que outrora combati com tanta veemência, que estavam de braços abertos me aguardando. Muitos, nesse meio tempo, questionaram o motivo pelo qual abandonei uma crença e parti para outra. Pois bem, esperei pacientemente a poeira baixar e decidi quebrar o silencio. Alguns disseram que minha conversão se deu por eu ser aluno do professor Olavo de Carvalho, mas isso não faz sentido por 3 motivos. O primeiro é que o professor não faz proselitismo em suas aulas, e seus alunos sabem muito bem disso. Segundo, que se assim o fosse, seus alunos teriam um perfil predominantemente de católicos, mas isso não procede, pois, os alunos do professor Olavo são das mais diversas crenças e, em terceiro lugar, conheço o professor desde 2013 e sou seu aluno desde 2015. Se ele fizesse essa propaganda desenfreada, como alguns acham, é muito provável que eu tivesse aderido antes e não 4 anos depois de ter acesso aos seus livros e 2 anos depois de ter contato semanalmente com suas aulas. O motivo, o verdadeiro, começa com a frase citada no início “Sou amigo da Verdade”. Isso quer dizer que, aqueles que estão em busca da Verdade, não ligarão para o que disserem a seu respeito, mesmo com um histórico de lutas contra aquilo que ele pretende aderir.
A coisa começou em 2013 quando comecei a cursar faculdade de Filosofia e já no primeiro semestre conheci a filosofia patrística e escolástica. Ali percebi, mesmo que inconscientemente, que nada que eu combatia no catolicismo estava ali, e desde sempre soube que essas duas correntes filosóficas são os pilares do catolicismo. Em 2016, por eu iniciar um curso de defesa da fé cristã que incluía a análise de muitos nomes que compuseram a escolástica e a patrística, ficou claro que eu havia criado um espantalho do Catolicismo, batia nesse espantalho e em seguida, cantava vitória achando que havia derrotado os pilares católicos. Em seguida baixei (pois não queria gastar dinheiro com esse livro) e li todo o Catecismo Católico e percebi que estava diante da Verdade acerca do Cristianismo. Muito do que sempre desconfiava, mesmo enquanto protestante, ali se solidificou e houve uma sincronia linda entre os dogmas Católicos e eu. Em seguida, conheci o padre Paulo Ricardo, que desmistificou algumas dúvidas que tive sobre alguns pontos específicos do Catecismo – é claro que ficaram muitas dúvidas, mesmo tendo uma aceitação geral, afinal, foram 5 anos de pré-conceitos contra o Catolicismo – até culminar no estudo sistemático de Sto. Agostinho e Sto. Tomás de Aquino, sínteses da Patrística e Escolástica nas obras “Cidade de Deus”, “Confissões” e as “Sumas Teológica” e “contra os gentios”. Depois, e somente depois disso, pude fazer aquela declaração que gerou tanta polêmica “A partir de hoje podem me chamar de Católico”. Hoje estou relendo o Catecismo, agora em livro físico, estudando a história dos Santos e a própria história da Santa Igreja e posso, mais do que nunca afirmar com orgulho que sou Católico; novamente, é muito provável que esta abertura só tenha acontecido justamente pelo histórico que tenho das igrejas protestantes, o que deixa claro que as duas frases citadas no início, não são teoréticas, mas que fazem parte de minha vida, pois hoje percebo que “todas [essas] coisas contribuíram para o bem” deste que vos fala.
Paz de Cristo a todos!
Acompanhem o trabalho do Prof. Kauê Varela na Logos Filosofia
Fonte: https://logosfilosofia.com/2017/06/21/como-cheguei-ao-catolicismo/