No momento, o Papa Francisco não recebe visitas e está circundado pela equipe médica e de saúde que o assiste 24 horas por dia e atende às suas necessidades.

Foto: Vatican news

Redação (29/03/2025 08:23, Gaudium Press) O Papa Francisco retornou ao Vaticano, encerrando um período de 38 dias de internação no Hospital Gemelli, em Roma; a internação mais longa de um pontífice na história recente. Sua saída foi marcada por grande emoção, com fiéis e peregrinos reunidos em oração desde as primeiras horas do dia.

Antes de deixar o hospital, o Papa apareceu brevemente na sacada de um andar inferior, sorrindo e abençoando os presentes. Visivelmente debilitado, mas sem auxílio do oxigênio, agradeceu àqueles que lhe prestaram apoio durante sua hospitalização. Sua voz ainda estava fraca devido à recente luta contra uma dupla pneumonia que, segundo os médicos, quase lhe custou a vida.

 Ao deixar o hospital em um Fiat 500 branco, sentado no banco da frente ao lado do motorista, o Papa, ainda fragilizado, acenou para a multidão, mas desta vez com uma cânula nasal para receber oxigênio de alto fluxo. Como será a continuidade de seu pontificado?

A gravidade de sua condição médica foi confirmada pelo Dr. Sergio Alfieri, responsável pelo seu tratamento. “Tivemos que escolher entre parar (o tratamento) e deixá-lo partir ou insistir e tentar com todas os medicamentos e terapias possíveis, correndo um risco muito alto de danificar outros órgãos.” Francisco esteve à beira da morte em duas ocasiões: no dia 28 de fevereiro, quando inalou o próprio vômito e sofreu uma grave insuficiência respiratória e, em 3 de março, quando uma dupla falha pulmonar exigiu duas broncoscopias. “Foi terrível, realmente pensamos que não conseguiríamos”, relatou o médico. “Posso dizer que, duas vezes, a situação estava perdida, e então um milagre aconteceu.”

A decisão final foi tomada com base nas instruções do próprio Papa, comunicadas por seu assistente de saúde, Massimiliano Strappetti. Francisco, consciente do risco, optou por lutar pela sua vida.

Antes de retornar à Casa Santa Marta, onde reside desde o início de seu pontificado, Francisco fez uma parada inesperada na Basílica de Santa Maria Maior para agradecer sua recuperação diante do ícone mariano. Sem sair do carro, entregou um buquê de flores ao cardeal responsável pela basílica e pediu que fosse colocado diante da imagem.

Agora, o Papa passará um período de convalescença de, pelo menos, dois meses. Sua residência na Casa Santa Marta foi isolada para garantir sua recuperação, com acesso restrito a poucos membros de sua equipe. A recomendação médica é que ele continue com terapias motora e respiratória.

Diante da preocupação com sua saúde, surgiram especulações sobre uma possível renúncia. No entanto, um dos seus colaboradores mais próximos, o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández afastou essa hipótese, garantindo que Francisco continua mentalmente apto para liderar a Igreja. “Eu realmente não acredito nisso. Isso não!”, disse o purpurado aos jornalistas após a apresentação de um livro sobre a poesia no pontificado do Papa Francisco, escrito pelo jesuíta Antonio Spadaro.

Fernández ressaltou que o Papa “aprendeu muitas coisas” durante sua internação e que seu pontificado pode entrar em uma “nova fase”. “Quem sabe o que ele tirará da cartola!”, disse. O cardeal revelou que a internação foi emocionalmente difícil para Francisco, que resistia a tratar-se no hospital e precisou ser convencido por amigos próximos que o cardeal não nomeou. “Disseram a ele: ‘Você tem que ir, senão cortamos essa relação.’”

Segundo Fernández, “não é fácil para ele seguir os conselhos médicos”, pois tem um desejo constante de se doar. O Papa quer aproveitar o tempo que lhe resta para continuar servindo, em vez de apenas focar na própria recuperação. “Tenho certeza de que algo muito bonito sairá desta experiência… serão as surpresas do Papa Francisco.”

A grande questão agora é como essa nova fase do pontificado se desenrolará. Sua presença na Semana Santa ainda é incerta, já que os médicos querem garantir sua plena recuperação antes de qualquer compromisso público. O encontro marcado com o Rei Charles da Inglaterra, em 08 de abril, foi cancelado. Mesmo assim, Francisco segue determinado a continuar sua missão, adaptando-se aos desafios impostos pela idade e agora pela saúde fragilizada.

O Ano Jubilar, dedicado ao tema “Peregrinos da Esperança”, prevê uma série de eventos com a presença do Santo Padre. Certamente, a equipe do Arcebispo Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Nova Evangelização, terá que se adaptar à ausência do Papa em muitas dessas ocasiões. Diante de sua saúde fragilizada, é difícil imaginar que Francisco consiga cumprir a agenda de visitas, discursos e celebrações previstas para os próximos meses.

O mesmo vale para as viagens apostólicas. O Papa já visitou cerca de 60 países e sempre fez dessas viagens uma oportunidade para transmitir mensagens e realizar gestos simbólicos que marcaram seu pontificado. No entanto, torna-se ainda mais improvável sua presença na próxima Jornada Mundial da Juventude, na Coreia do Sul, em 2027. Terá ele condições físicas para suportar os compromissos extenuantes desse evento? Terá forças para enfrentar mais uma maratona internacional? A possibilidade da renúncia parece remota. Além do Cardeal Fernández, outros prelados afastaram esta possibilidade: o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado classificou as especulações como “inúteis”; Dom Giuseppe Baturi, Secretário-Geral dos bispos italianos, considerou-as “desrespeitosas” e Dom Francisco César García Magán, porta-voz dos bispos espanhóis, afirmou que não há condições que justifiquem a renúncia.

Além disso, a convocação de uma Assembleia Eclesial em 2028 e a instauração da fase de implementação do documento final do Sínodo sobre a Sinodalidade sob a supervisão do Vaticano também testemunham que Francisco quer avançar enquanto durarem suas forças.

O mais provável é que este ano vejamos Francisco em um ritmo mais tranquilo, possivelmente mais concentrado em questões internas e intelectuais, aparecendo menos publicamente, com uma agenda menos carregada de discursos e viagens. Esse período de convalescença pode permitir ao Papa revisar a diplomacia do Vaticano, concluir a reforma da Cúria Romana e aprofundar seu magistério por meio de documentos, em vez de pronunciamentos públicos.

No entanto, para o Bispo Athanasius Schneider, de Astana, no Cazaquistão, Francisco deveria aproveitar esse tempo para “retratar-se” e emitir um documento que esclareça os erros disseminados em seu pontificado. Em um vídeo recente, o prelado pediu orações para que o Papa tenha a humildade e a coragem de corrigir declarações e atos que, segundo ele, “enfraqueceram a clareza” da fé católica nos últimos 12 anos. Schneider defende que o Papa, como pai espiritual da Igreja, deveria reafirmar a verdade da fé e aproveitar o tempo que lhe resta para eliminar ambiguidades teológicas que causaram confusão entre os fiéis.

Não se sabe se este apelo chegou aos ouvidos do Papa. Porém, se Francisco já encontrou dificuldades para seguir os conselhos de seus médicos, parece improvável que siga os de Schneider.

Por Rafael Tavares

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