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Humildade, fonte da grandeza

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Assunta aos Céus, a Santíssima Virgem comprova como Deus derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes.

Asuncion de la Virgen Iglesia de San Urbano Troyes Francia FL mjvf

Redação (18/08/2024 11:01, Gaudium Press) Toda a grandeza que contemplamos em Maria Santíssima tem origem em sua humildade, o que se torna patente no trecho do Evangelho recolhido pela Santa Igreja para esta Solenidade. Em sua primeira parte, vemos, sobretudo, o quanto Santa Isabel a elogia e exalta. Mas deitemos uma especial atenção às palavras de Maria, isto é, o Magnificat.

Riquíssimo e de incomparável beleza, como convém a um cântico nascido dos lábios da Santíssima Virgem, bem pode ser considerado como um marco na História, dividindo-a em duas fases: o que veio antes, o egoísmo; e o que veio depois, a santidade, fruto da humildade. Com o pecado original o orgulho foi introduzido na humanidade, maculando sua trajetória, até o momento em que, sem nenhuma sombra desse vício, nasceu Maria. Sua Visitação a Santa Isabel é para nós exemplo da preocupação que precisamos ter uns com os outros, procurando que cada um venha a ser mais do que é.

A humildade de Maria Lhe fez merecer a glória

Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão Bem-Aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é Santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que O respeitam” (Lc 1,46-50).

Deus é a Bondade e, portanto, sumamente dadivoso, pois é próprio à sua natureza a constante disposição de dar. O grande problema somos nós mesmos, já que, com frequência, colocamos obstáculos à sua generosidade. Nos primeiros versículos do Magnificat, Nossa Senhora mostra como o Senhor olha para suas criaturas com amor e desejo de conceder seus dons. Ele nos quer tanto que, em virtude desse amor, vai infundindo em nossas almas o Bem ― que é Ele mesmo. Este é o princípio e a raiz de toda perfeição e santidade, e não o esforço pessoal, como, talvez, poderíamos ser levados a crer. Maria não levantou obstáculos a esta ação divina devido ao reconhecimento de seu próprio nada, e a claríssima consciência de sua contingência fez com que o olhar criador de Deus pousasse sobre Ela e operasse maravilhas. Sua humildade deu-lhe mérito para ser a Mãe de Deus e, tendo-se acrisolado ao longo da vida terrena, tornou-a digna da Assunção aos Céus.

Uma figura pode ajudar a entendermos com mais clareza esta verdade: imaginemos uma grande bordadeira que, ao receber de presente certo tecido de linho branco, idealiza um bordado extraordinário. Contudo, se lhe for oferecido um tecido estampado, ela não terá como exercer suas habilidades. O mesmo se passa quando Deus encontra em nossas almas o vazio, pois decide realizar nelas um magnífico “bordado”, como o fez com a Virgem Maria.

Quando conhecemos pessoas cheias de si, ficamos compadecidos, pois damo-nos conta de que impedem a Deus de cumulá-las com sua graça. Falta-lhes a humildade; virtude que vai se tornando rara em nossos dias e não deve ser confundida com uma falsa virtude propugnada pelo igualitarismo, desdobramento do orgulho, por sua vez pai de todos os vícios e causa mais profunda de tantos desvarios sentimentais e impuros. A autêntica despretensão existe quando há disponibilidade em relação a Deus, inteira consonância com Ele, abandono em suas mãos e desejo de cumprir sua santíssima vontade. Quanto falta à sociedade de hoje esse estado de espírito!

As promessas do mundo face às promessas de Deus

“Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias”. (Lc 1,51-53)

O cântico do Magnificat passa, nestes versículos, para uma segunda parte. Na primeira, como vimos, Maria descreve os favores recebidos, e nesta segunda mostra o nada do mundo, a fim de ressaltar o quanto ele e o demônio, com aparência de grande poder, fazem promessas muito diferentes das divinas. A paz mundana pareceria acalmar todos os nossos desejos ilegítimos, fruto do pecado original. No entanto, quando algo nos é proposto pelo adversário de Deus, tenhamos a certeza de ser precisamente o que ele nos irá roubar. O demônio promete a glória, e é a glória eterna que nos arrebata; promete o bem-estar, e é o bem-estar que nos tira, porque se pecarmos seremos infelizes nesta vida e depois por toda a eternidade, tal como ele.

A paz oferecida por Deus exige luta. “Si vis pacem, para bellum — se quereis a paz, preparai-vos para a guerra”. Dentro de nós, para adquirir a verdadeira paz, é preciso guerrear contra nossas más inclinações e sermos heróis. É então que se manifesta em nós “a força de seu braço”, que é onipotente e derruba os orgulhosos, enquanto “levanta do pó o indigente e tira o pobre do monturo, para, entre os príncipes, fazê-lo sentar-se” (Sl 112,7-8). Ao mesmo tempo, Ele enche de dons e graças aquele que tem sede e fome de justiça, e despede de mãos vazias os que se julgam cheios dos bens do mundo, ou seja, prestígio, fortuna, ciência, etc.

Deus sempre supera nossas expectativas

“Socorreu Israel, seu servo, lembrando-Se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre” (Lc 1,54-55).

Na última parte de seu inspirado cântico, Nossa Senhora frisa como Deus — opostamente ao demônio, ao mundo e à carne — dá tudo quanto promete e o faz em superabundância. Ele nos oferece uma vida eterna extraordinária, e quando virmos a realidade nos daremos conta de que nos concedeu muito mais do que éramos capazes de imaginar. À luz da contemplação da glória de Maria, neste dia somos convidados, com o Magnificat, a ter o coração repleto de confiança no Senhor que, em sua prodigalidade divina, quer nos cumular de bens desde que não coloquemos obstáculos.

Um caminho de luz é aberto a todos

A liturgia desta Solenidade nos abre grandes portas e um caminho florido e cheio de luz, no que diz respeito à salvação eterna. Diante do penhor de nossa ressurreição, que nos é dado pelo mistério da Assunção de Maria Santíssima, deveríamos nos considerar mutuamente uns aos outros segundo esse ideal, como se estivéssemos já ressurrectos, pois acima do abatimento e das provações desta vida brilha a esperança da glorificação para a qual rumamos.

Vivamos buscando os bens do alto, e que nosso pensamento acompanhe o trajeto seguido por Maria Virgem. Ela penetrou no Céu em corpo e alma e foi exaltada; nós, na hora presente, como não podemos adentrá-lo fisicamente, façamo-lo ao menos em desejo. Voltemo-nos para o trono de Maria Assunta, e assim receberemos graças sobre graças para estarmos sempre postos nesta via que nos conduzirá à ressurreição feliz e eterna, quando recuperaremos os nossos corpos em estado glorioso.

Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2013, v. 7, p. 198-201.

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