Tendo em vista que a Sagrada Escritura, em diversos versículos, mas, especialmente em I Tm, 2,5, afirma que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens, como é que a Igreja prega a intercessão dos santos?
A Palavra de Deus não mente nem engana, sendo assim, não há dúvida quando se diz que somente Jesus intercede ao Pai. Esta é a fé católica. Então, como explicar a oração que se faz uns pelos outros, expediente usado também pelos protestantes? Ora, Jesus é realmente o único mediador entre Deus e os homens, porém, Ele não é sozinho. Ele tem um corpo que é a Igreja. Ele é a Cabeça e os homens são seus membros.
É por esse motivo que São Pedro pôde dizer que os cristãos possuem um “sacerdócio santo”, que o Apocalipse afirmou serem “um reino de sacerdotes”, embora a Carta aos Hebreus tenha dito que Jesus é o único sacerdote. Ocorre que como Ele não é sozinho, é a cabeça de um corpo, deve ser considerado em sua totalidade, ou seja, o CRISTO TOTAL, não somente uma parte. Logo, como os cristãos fazem parte do “corpo” de Cristo, podem interceder uns pelos outros.
E quanto aos santos a cuja intercessão também se recorre? Após a morte, eles continuam fazendo parte do Corpo de Cristo? A Sagrada Escritura é muito clara quanto a isso, conforme se vê na Carta aos Romanos:
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Realmente, está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro. Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Rm 8, 35-39)
Portanto, a morte não aparta a pessoa do Corpo de Cristo. O que é lógico, pois não faria o menor sentido se o batismo não valesse para a vida eterna. Além disso, o Apocalipse, em diversas passagens, fala da atividade das pessoas que já morreram:
Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra? Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos. (Ap 6,9)
Os mortos dos versículos acima estão rezando, clamando a Deus por justiça! E, notem que a Ressurreição ainda nem aconteceu, essa passagem consta do período da tribulação, o que é mais notável ainda. E prossegue, agora com outro grupo:
Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm?Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está sentado no trono os abrigará em sua tenda. Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum os abrasará, porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos. (Ap 7,13-16)
Essas almas prestam culto a Deus no céu. Então, nada pode separar a alma do amor de Deus, nem mesmo a morte. No entanto, no último dia haverá a ressurreição e, em corpo e alma, adentrarão ao Reino dos Céus.
Portanto, Cristo é o único mediador, mas não no sentido estrito. Os homens são membros do corpo do único mediador e mesmo após a morte, continuam fazendo parte desse Corpo, conforme o livro do Apocalipse atesta.
Fonte: Padre Paulo Ricardo