Santa Hildegarda pronunciou conferências em importantes catedrais e escreveu diversas obras contendo revelações místicas. E declarou que, após a ruína do papado e do império, surgirá um povo novo o qual terá convívio com os Anjos.
Redação (09/06/2023 15:19, Gaudium Press) Após a morte do Beato Eugênio III, em 1153, assumiu o papado Anastácio IV que enviou carta à Santa, pedindo conselhos. Em sua resposta, ela censura o pontífice por ter negligenciado o combate aos maus, e o incita a fazê-lo para que “não sejas acusado de não ter purificado teu rebanho de sua sujeira”.[1]
Além de dirigir o mosteiro do qual era abadessa, escrever centenas de missivas a pessoas altamente colocadas, ela fez conferências em catedrais, tais como: Colônia, Tréveris, Mainz, Bamberg e Wurtzbourg (Alemanha); Metz (França); Liège (Bélgica).
Na Catedral de Colônia, Santa Hildegarda denunciou os hereges cátaros que, entre outras coisas nefandas, afirmavam haver dois deuses: o bom e o mau. O deus bom criou o mundo invisível dos espíritos; o deus mau produziu a matéria. Condenavam o nascimento de crianças por ser a proliferação da matéria essencialmente má, e pregavam o suicídio sagrado. Contrariando tudo quanto ensina a Doutrina católica, o catarismo era uma heresia que, no fundo, visava a destruição da humanidade.[2]
Voz de Adão antes do pecado original
Além de 400 cartas, é autora de diversas obras das quais a mais importante recebeu o título de Scivias, abreviação de Sci vias Domini – Conhece os caminhos do Senhor. É um verdadeiro tratado onde aborda questões tais como: Unidade e Trindade de Deus, os Anjos, o homem – sua queda e reerguimento –, a Igreja, o fim do mundo.
Antes do pecado original, diz ela, Adão possuía uma “voz divina que se harmonizava plenamente às vozes dos Anjos no louvor a Deus”. Com sua queda ele perdeu esse dom e guardou apenas uma lembrança vaga daquelas harmonias angélicas.
Mas Deus, na sua misericórdia, enviou profetas que compuseram hinos e propiciaram a fabricação de instrumentos musicais a fim de recordar o canto de Adão e dos Anjos.[3]
Diz Monsenhor João Clá: “A função fundamental do profeta não é a de prever o futuro, mas sim a de ser guia do povo e apontar-lhe o rumo de sua trajetória”.[4]
Quanto aos hinos e instrumentos musicais, citamos o canto gregoriano e o órgão, que evocam os Anjos, elevam as almas, ajudam-nas a aumentar o conhecimento e o amor de Deus.
Afirma a Santa que o “demônio é hostil ao canto que vem do Espírito Santo e se esforça em suprimir ou afear, no coração de todo homem e também na Igreja, a confissão e a beleza do louvor divino”.[5] O que dizer de certas “músicas” afeadas que, em nossos dias, se tocam até mesmo durante a Missa em certas igrejas?
A vida do homem é uma batalha constante
Ela compôs perto de 70 obras musicais, entre as quais Ordo virtutum – Ordem, disposição das virtudes –, peça teatral onde as virtudes são representadas por pessoas atacadas pelo demônio e contra-atacam. E surgem figuras cheias de beleza para caracterizar o bem: pedras preciosas, trombetas de marfim.
De fato, a vida do homem é uma batalha constante como nos adverte São Paulo Apóstolo:
“Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus” (Ef 6,14-17).
Redigiu dois tratados de Medicina nos quais afirma: A decadência espiritual de uma pessoa, que não combate seriamente seus defeitos, se reflete em sua saúde originando desordens no organismo tais como a depressão.
Conjunto de orquestras que cantam a glória de Deus
Para Santa Hildegarda, “toda a Criação é uma sinfonia do Espírito Santo”.
Afirmou Dr. Plinio Corrêa de Oliveira: Deus criou como que várias grandes orquestras – Anjos, homens, animais, vegetais e minerais –, as quais cantam a sua glória. Ele faz residir a sua glória, não tanto numa só criatura, mas no conjunto delas porque o conjunto é melhor do que cada parte.
Diz o Gênesis que “Deus descansou no sétimo dia, considerando a sua obra. Esse descanso é exatamente a alegria por sentir que a criação Lhe está dando glória, vendo que cada coisa era boa e o conjunto era ótimo”.[6]
Santa Hildegarda, que foi profetiza, escreveu: “O papado e o império decaídos […] vão desabar. Das suas ruínas, o Espírito Santo fará surgir um povo novo; a conversão será geral e os Anjos, confiantes, voltarão a habitar entre os filhos dos homens”.[7]
Essa conversão da humanidade dará início ao Reino de Maria, onde os homens habitarão entre os Anjos, comandados por sua Rainha, Nossa Senhora.
São Luís Maria Grignion de Montfort, no Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, “previa em termos claros o advento de uma autêntica era histórica de luz e de paz, na qual a face da terra seria renovada e reformada pela Santa Igreja, e em que Maria Santíssima seria reconhecida universalmente como Soberana”.[8]
Essa grande mística e profetisa morreu no Mosteiro de Bingen, em 17 de setembro de 1179, aos 80 anos de idade. Ao cair da noite, apareceu no céu dois arcos brilhantíssimos de diversas cores, com uma cruz maior e outras menores, que se estendiam por todo o firmamento. Sua sepultura exalava suave perfume e muitos milagres ali se realizaram.
Pela Carta Apostólica de 7 de outubro de 2012, Bento XVI proclamou-a Doutora da Igreja e afirmou:
“A sua mensagem é extraordinariamente atual no mundo contemporâneo, […] na ideia de reforma da Igreja, não como estéril mudança das estruturas, mas como conversão do coração.”
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen – mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos (RS) : Minha biblioteca católica. 2020, p. 93.
[2] Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 589-591.
[3] Cf. PERNOUD. Op. cit., p. 191-192.
[4] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 147.
[5] DICTIONNAIRE DE THÉOLOGIE CATHOLIQUE. Paris: Letouzey et Ané. 1914, v. 6-II, coluna 2476.
[6] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A História do Universo e sua interpretação doutrinária. In Dr. Plinio. Ano XIV, n. 159 (junho 2011), p. 21.
[7] DANIEL-Rops. Op. cit., p. 158.
[8] CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. 2016, v. II, p. 176.
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