Na liturgia de hoje, Nosso Senhor nos prova como o vício do orgulho é malfazejo tanto na teoria quanto na prática.
Redação (28/08/2022 11:52, Gaudium Press) O conjunto dos Evangelhos constitui um verdadeiro tesouro da Igreja. Nem mesmo dois mil anos foram suficientes para esgotar toda a riqueza de comentário a propósito de cada gesto ou palavra de Nosso Senhor. Suas parábolas, seus ditos e ensinamentos se aplicam a todas as pessoas e a todas as épocas.
Se fosse preciso, porém, executar a difícil tarefa de pregar um sermão para a humanidade inteira reunida, desde Adão até o último homem – seria necessária uma igreja bem grande! –, e se quiséssemos engajar a todos, o Evangelho de hoje pareceria ideal.
Com efeito, a liturgia deste 22° Domingo do Tempo Comum versa sobre um tema do qual nenhum homem ou mulher, de qualquer idade, está excluído.
“Não ocupes o primeiro lugar”
São Lucas nos conta no Evangelho recolhido pela liturgia de hoje que Nosso Senhor fora convidado à casa de um dos chefes dos publicanos para uma refeição. Tendo observado que muitos escolhiam os primeiros lugares, Ele disse: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar” (Lc 14,8). O Divino Mestre transmitia este ensinamento por uma razão muito prática: se tivesse sido convidado alguém mais importante, deveríamos ceder-lhe o nosso lugar e ir ocupar o último. Que vergonha…
Santa Teresinha dizia que a humildade é a verdade. Quem aceita tal definição, deve concluir que o orgulho é a mentira. Se, porém, alguém discorda desta verdade, basta recorrer à experiência prática: em geral – para não dizer sempre – o orgulhoso se lisonjeia das qualidades que não possui. No exemplo do Evangelho: quem é convidado à uma festa e sabe que o anfitrião lhe fará ocupar o primeiro lugar nem se preocupa com isso. Agora, aquele que não está tão convencido assim da sua amizade com o dono do banquete e de sua posição diante dos outros, este é que vai sentar-se arrogantemente no primeiro lugar.
Não percebe o jactancioso que, buscando honras que não merece, apenas acumula humilhações, como diz São Cirilo: “O elevar-se prontamente a honras que não merecemos, denota que somos temerários e torna nossas ações dignas de vitupério”.[1]
O humilde é sempre bem estimado
Além disso, como afirma a segunda leitura de hoje, Deus é glorificado pelos humildes (Cf. Eclo 3,21). O humilde goza da proteção de Deus e é extremamente estimado por Ele, pois o Criador ama a humildade. Aqueles que se esvaziam de si mesmos estão prontos para serem “preenchidos” por Deus; pelo contrário, quem está cheio de si, não deixa espaço para Deus.
Ademais, a companhia do orgulhoso é insuportável, ninguém estima a alma vaidosa. Imagine o leitor ter a desgraça de aguentar por um dia, ou por uma hora sequer, alguém que só sabe falar de si, que continuamente busca aparecer e humilhar os demais. Talvez não haja martírio pior! Muito diferente é o convívio com o humilde: ameniza o ambiente, descansa e dá alegria, pois quem não se preocupa senão em servir a Deus naqueles com os quais toma contato, estes certamente serão a causa de satisfação e contentamento para os demais.
Humildade: virtude pacificadora
Um sintoma muito característico da soberba é a inquietação, a perturbação. Como o orgulhoso busca aparecer diante do mundo com “qualidades” que ele não possui – ele sabe bem disso – a agitação toma conta de sua alma; ele vive aflito. É como, por exemplo, alguém que tem uma orelha postiça: naturalmente, estará preocupado em que os outros não percebam seu defeito corporal. Assim é o orgulhoso: teme continuamente ser descoberto, receia que os outros notem que ele não é tudo o que aparenta ser. Mais uma vez se comprova o quanto é vão e vergonhoso este vício, o quanto é uma mentira.
Na alma do humilde, ao contrário, há um trono no qual se assenta a paz, a mesma paz que é cantada no salmo de hoje: “Os justos se alegram na presença do Senhor, rejubilam satisfeitos e exultam de alegria” (Sl 67,4). O humilde nada teme. Ele não tem máscaras, não se preocupa com o que os outros pensam dele. Reconhece-se pecador e sabe que todas as humilhações sofridas são meio de expiar suas faltas próprias.
O humilde é feliz, alegre e vive em paz, pois só se preocupa com a glória de Deus.
Peçamos a Nossa Senhora a graça de participar de sua humildade, pois assim não só ocuparemos os primeiros lugares do banquete do reino dos céus, mas teremos a felicidade indizível de nos assentar ao seu lado por toda a eternidade.
Por Lucas Rezende
[1] SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c. XIV, v. 7-11.
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