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Pais da Mãe do Messias, avós de Deus!

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Da união de São Joaquim e Sant’Ana floresceria o Lírio dos lírios, Maria Santíssima, da qual nasceria o Salvador. No dia de hoje, 26 de julho, celebra-se a memória dos pais de Nossa Senhora.

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Redação (25/07/2023 18:29, Gaudium Press) Da união de São Joaquim e Sant’Ana floresceria o Lírio dos lírios, Maria Santíssima, da qual nasceria o Salvador. Para bem cumprirem esta missão, convinha que a Providência os elevasse a um grau de santidade jamais atingido até então.

O Verbo Eterno quis precisar de uma Mãe para n’Ela assumir a natureza humana e, recapitulando em Si o universo inteiro (cf. Ef 1, 10), reparar o pecado de nossos primeiros pais.

Nessa perspectiva, o advento de Nossa Senhora não significou apenas um enriquecimento para a obra da criação, mas sua elevação a uma plenitude inimaginável. A natividade da Rainha do Universo deu início a um novo regime de graças para os Anjos e os homens, e permitiu que Deus estabelecesse no plano físico o seu Paraíso.

E para o surgimento, no tempo, desse Paraíso preparado com esmero desde toda a eternidade, o Divino Artífice dispôs de duas almas eleitas: São Joaquim e Sant’Ana. A compreensão das graças e dons singulares com os quais a Providência os galardoou, em virtude de sua extraordinária vocação, requer que recordemos certos pressupostos teológicos fundamentais.

Limpos do pecado original e cumulados de graças

Após a queda de nossos primeiros pais, o Criador estabeleceu um pacto com Abraão e indicou-lhe rituais que santificariam seus descendentes, limpando-os da culpa do pecado original e atenuando suas sequelas. Desse modo formava para Si um povo santo, do qual nasceria o Varão centro e ápice de toda a História, Jesus Cristo. Ora, inseparavelmente unida a Ele na mente divina encontrava-Se Nossa Senhora, obra-prima do Altíssimo e sócia na obra redentora de seu Filho.

O Pai teve um carinho todo especial ao preparar o nascimento de Maria e, sob certo aspecto, cuidou mais diretamente e com mais esmero da vinda d’Ela ao mundo que do nascimento do Menino Jesus. Em primeiro lugar, porque se conformava à nobreza divina assim proceder com uma criatura mais frágil e delicada. Depois, pela simples razão de que o fator mais importante e fundamental para se dar a Encarnação era a existência de Nossa Senhora. Estando Ela na face da terra, a Trindade Santíssima podia como que “Se despreocupar” dos outros detalhes.

Como verdadeiros israelitas, Joaquim e Ana foram a seu tempo limpos do pecado original e viviam em estado de graça. Mas a grandeza da concepção da Mãe do Messias recomendava que eles se elevassem a um grau de santidade e de purificação até então jamais atingido. Por conseguinte, deveriam ser cumulados de dons e virtudes muito particulares.

Ademais, no que dizia respeito à constituição da Menina, convinha que Ana possuísse uma santidade ainda maior que a de seu esposo, pois se tornaria o tabernáculo vivo da Rainha do Universo. Sem embargo, Deus também ornou Joaquim com eminentes virtudes, porquanto elas seriam a principal herança que deixaria à sua Filha. De certa forma, a missão de ambos superava a dos próprios Anjos, uma vez que a nenhum destes Nossa Senhora chamou de “mamãe” ou de “papai”…

Efeitos da proximidade com a Mãe de Deus e seu Filho

Explica o Doutor Angélico que quanto mais próximo alguém se encontra da causa, seja qual for o gênero, tanto mais participa de seu efeito.[3] Aplicando esse princípio a Cristo, Fonte da qual nos vem toda graça e verdade (cf. Jo 1, 17), aqueles que Lhe são mais próximos, mais se beneficiam dos frutos de sua Encarnação, Morte e Ressurreição. Essa proximidade, porém, pode ser considerada sob dois aspectos diversos, mas não necessariamente excludentes: um baseado no vínculo sanguíneo e familiar, outro na complementaridade de missão.

Em Maria ambos os aspectos se verificam de modo ímpar, uma vez que pela Maternidade Divina Ela contribuiu para a formação do Corpo perfeitíssimo de seu Filho e, como Corredentora e Medianeira Universal de todas as graças, Se associou à obra de salvação por Ele operada. Por isso, Aquela que mais plenamente se beneficiou ante previsa merita da Redenção foi Nossa Senhora, isenta de qualquer mancha de pecado e plena de graça desde o primeiro instante de sua concepção.

Algo similar teria ocorrido com São José, conforme o Autor expôs em outra obra. Sem que o Glorioso Patriarca houvesse oferecido qualquer contributo biológico para a concepção de Jesus, sua singular proximidade física, enquanto pai virginal do Homem-Deus e verdadeiro esposo de Maria Santíssima, propiciava igualmente uma participação sui generis nos efeitos da Redenção.

Recapitulados esses princípios fundamentais, a pergunta surge inevitavelmente: o que terá se passado com Sant’Ana e São Joaquim? Os Evangelhos nada dizem a seu respeito, nem sequer mencionam seus nomes. Entretanto, são eles os pais de Nossa Senhora e os avós de Jesus!… Haveria vínculo sanguíneo mais estreito e mais íntimo? Quais foram então os efeitos da graça sobre o santo casal, em vista da concepção de Maria, a Imaculada? Uma passagem do Antigo Testamento pode ajudar a responder essas questões.

O exemplo de Tobias e Sara

As Sagradas Escrituras narram com detalhe os esponsais de Tobias e Sara, sua prima, moça de rara beleza (cf. Tb 7-8). A jovem era vítima de Asmodeu, o demônio da impureza, o qual matara na primeira noite após o casamento sete maridos que dela haviam se aproximado movidos pela paixão e, portanto, distanciados de Deus em seu interior. Muito aflita, Sara pensou no suicídio, mas resistiu à tentação em vista do desgosto que causaria a seu bom pai, Raguel.

A Providência, contudo, preparava uma admirável solução para o caso. Tobias, instruído pelo Arcanjo São Rafael, que o acompanhava em forma humana com o nome de Azarias, venceria a concupiscência da carne, exorcizaria Asmodeu e desposaria Sara com o coração puro.

Com a devida anuência dos pais, celebrou-se de modo solene a festa dos esponsais. Terminada esta, e tendo apenas entrado no aposento nupcial, Tobias disse: “Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite consumaremos nossa união; porque somos filhos dos santos patriarcas e não nos devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus” (8, 4-5).

Esgotado o prazo, observado por ambos em fervorosa prece, Tobias rezou a Deus antes de consumar o matrimônio: “Vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito” (8, 9).

Por sua pureza e obediência aos conselhos do Anjo, Tobias exorcizou sua união nupcial e teve uma longa vida em companhia de Sara.

A castíssima geração de Maria, prelúdio da vingança divina

À luz desse fato, põe-se a questão a respeito de São Joaquim e Sant’Ana. Quando se considera que nos dois convergiu o que havia de mais requintado no povo eleito, tanto no que se refere aos dons naturais quanto aos sobrenaturais, com vistas à sua plena manifestação em Nossa Senhora e no Homem-Deus, parece razoável admitir que também eles, de forma ainda mais perfeita que Tobias e Sara, tenham sido purificados da concupiscência da carne antes da concepção de Maria.

Ademais, tratando-se da Medianeira Universal de todas as graças – mediação que abarca por inteiro a História da criação –, os primeiros a se beneficiarem desta prerrogativa não deveriam ser os seus próprios pais? Essa hipótese se apresenta como o modo mais decoroso e casto de preparar a aurora da Redenção, que despontaria na concepção da Santíssima Virgem.

O Autor crê que a Providência tenha concluído sua obra em ambos concedendo-lhes essa graça, de maneira que na geração de Maria a concupiscência em nada maculasse o ânimo dos esposos. Assim, a castíssima concepção de Nossa Senhora constituiria o prelúdio da vingança sobre a serpente, que Deus prometera no Paraíso (cf. Gn 3, 15).

Por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Extraído, com pequenas adaptações, de: CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens.  São Paulo: Arautos do Evangelho, 2020, v.II, p.57-73

 

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