InícioNotícias da IgrejaPena eterna, uma verdade que merece atenção!

Pena eterna, uma verdade que merece atenção!

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Nosso dia a dia deve estar ordenado à vida eterna.

O Divino Mestre instruía os discípulos por meio do convívio - Vitral da Igreja de St. Patrick, Roxbury (Estados Unidos) - Foto: Gustavo Kralj

O Divino Mestre instruía os discípulos por meio do convívio – Vitral da Igreja de St. Patrick, Roxbury (Estados Unidos) – Foto: Gustavo Kralj

Redação (22/03/2025 16:32, Gaudium Press) Pouco tempo antes do episódio em que o povo estava reunido no Templo para a oferta da Páscoa, alguns galileus, inconformados com o domínio romano, aproveitaram a grande confluência de peregrinos para iniciar uma sedição contra a autoridade de César:

“Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam” (Lc 13,1).

Ao tomar conhecimento desse fato, Pilatos indignou-se e mandou executar os revoltosos. Ora, entrando os soldados no átrio do Templo, além desses promotores da sublevação, mataram também outros galileus que lá se encontravam para oferecer os sacrifícios de costume, derramando assim sangue inocente. A notícia produziu grande alvoroço e algumas pessoas apressaram-se a ir contar o ocorrido a Jesus.[1]

A propósito do castigo temporal, alerta para a pena eterna

“Jesus lhes respondeu: ‘Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas, se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo’” (Lc 13,2-3).

Imaginavam os portadores da notícia que, sendo galileu, Jesus tomaria naturalmente o partido dos compatriotas mortos. Talvez até esperassem que a brutalidade da repressão levasse o Divino Mestre a pronunciar-se a favor do nacionalismo judaico.

Ora, as cogitações de Nosso Senhor situavam-se sempre num plano muito superior ao das disputas políticas. Em sua resposta, Ele não se compromete com os aspectos concretos da questão, mas aproveita a circunstância para dar uma lição moral, assim sintetizada por Fillion: “Sem julgar o procedimento do governador, nem descer ao terreno das discussões políticas, recorda aos seus ouvintes que, como todos ofenderam a Deus, estão todos expostos aos golpes da justiça divina, enquanto não se arrependerem e se converterem sinceramente”.[2]

Deparamo-nos, aqui, com uma primeira atitude de Jesus a imitar: quando um fato da vida cotidiana se apresentar revestido de especial interesse, evitemos analisá-lo apenas segundo os aspectos terrenos, e procuremos elevar-nos até o plano sobrenatural, a fim de melhor julgá-lo.

De outro lado, na opinião de Leal e os outros professores da Companhia de Jesus, o teor da resposta do Divino Mestre visava corrigir uma ideia errada comum entre os judeus daquela época, segundo a qual toda dor era um castigo.[3] Porém, ensina o Cardeal Gomá, só o Senhor “sabe se existe alguma relação entre os pecados pessoais e as desgraças ocorridas a alguém; os exemplos de Jó, de Epulão e Lázaro desmentem a teoria errônea e supersticiosa dos judeus”.[4]

Ao afirmar que aqueles galileus mortos não eram mais pecadores do que os seus interlocutores, Jesus lança mão de um recurso psicológico para mais vivamente alertá-los sobre a gravidade intrínseca do pecado e das penas correspondentes. Pois, como afirma Maldonado, “tencionava Jesus advertir, acerca da pena eterna, os seus ouvintes impressionados pela narração daquele castigo temporal, como se lhes dissesse: […] não reputeis miseráveis os homens que sofreram essa morte corporal, mas sim aqueles que sofrerão a morte da alma, e esta cairá com certeza sobre todos vós, se não fizerdes oportuna penitência”.[5]

Extraído, com alterações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 5, p. 213-215.


[1] Diversos comentaristas antigos, entre os quais São Cirilo, identificam este episódio com a revolta de Judas Galileu, narrada pelo próprio São Lucas em At 5, 37 (cf. SÃO CIRILO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.XIII, v.1-5). Entretanto, autores mais recentes, como Louis-Claude Fillion e os professores da Companhia de Jesus, consideram tratar-se de um fato diferente, acontecido pouco antes do episódio aqui narrado (cf. FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.II, p.387; LEAL, SJ, Juan; DEL PÁRAMO, SJ, Severiano; ALONSO, SJ, José. La Sagrada Escritura. Evangelios. Madrid: BAC, 1961, v.I, p.696).

[2] FILLION, op. cit., p. 387.

[3] Cf. LEAL; DEL PÁRAMO; ALONSO, op. cit., p.696.

[4] GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Año tercero de la vida pública de Jesús. Madrid: Rafael Casulleras, 1930, v.III, p.244.

[5] MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.616.

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