Após ter recebido Santa Joana d’Arc no Castelo de Chinon, Carlos VII levou-a a Poitiers – Centro Oeste da França – em março de 1429, e nessa cidade instituiu um tribunal a fim de julgá-la.
Redação (18/10/2024 19:45, Gaudium Press) O tribunal para julgar Santa Joana d’Arc em Poitiers era presidido pelo Arcebispo de Reims, grão chanceler da França, o qual posteriormente vendeu a Santa aos borguinhões, em Compiègne. Seus membros haviam sido professores da Sorbonne, Universidade de Paris, que fugiram da capital quando esta foi tomada pelos borguinhões e ingleses, em 1418.
Virgindade de pensamento e ação
As respostas da virgem às perguntas dos mestres mostram claramente que ela era orientada pelo Divino Espírito Santo. Eis alguns exemplos:
Por que usas traje masculino? – Para evitar tentações dos soldados e melhor conservar minha virgindade de pensamento e ação.
Em que língua se exprimiam as vozes que escutaste? – Num francês melhor do que o vosso.
A cidade de Orléans estava cercada pelos ingleses desde outubro de 1428. Em determinado momento, a Santa afirmou aos juízes: “Deem-me soldados para que Orléans seja libertada e o rei sagrado em Reims!”
Por fim, o tribunal a inocentou e Carlos VII concedeu-lhe soldados, pajens e, mais importante, um capelão para celebrar Missas e ministrar os Sacramentos. Dois irmãos da Santa passaram a integrar esse grupo de militares por ela comandado.
A espada que ela portava foi conseguida com auxílio sobrenatural. Obedecendo às “vozes”, Santa Joana mandou que lhe trouxessem um gládio enterrado sob o altar de uma igreja das proximidades de Chinon; em sua lâmina estavam gravadas cinco cruzes.
Realizadas escavações no local, a espada foi encontrada. Acredita-se ter ela pertencido a Carlos Martel, que derrotara os maometanos na Batalha de Poitiers, em 732.
Como aprendeu a arte militar?
Como essa jovenzinha, que fora uma simples pastora, aprendeu a arte militar?
As aparições e “vozes” celestes com que fora agraciada em Domrémy, dos treze aos dezesseis anos de idade, proporcionaram-lhe uma espécie de serviço militar “infuso”, sobrenatural, com intensa preparação física e intelectual para os combates.
Mandou confeccionar um estandarte de cor branca semeado de flores de lis, com as palavras “Jesus – Maria” e as figuras de São Miguel e São Gabriel.
Rumo a Orléans, iniciou a marcha de seu regimento cantando o Veni Creator – Vinde Criador. Impediu que houvesse entre os soldados mulheres de má vida, pois “é por causa desses pecados que Deus permite as derrotas”.[1]
Chegando à cidade de Blois, enviou uma carta aos comandantes ingleses do cerco de Orléans, na qual ordenava, em nome de Deus, que lhe devolvessem as chaves das cidades por eles tomadas: “Se não obedecerem, eu os farei matar a todos”.[2]
Remeteu também uma missiva ao Duque da Borgonha, aliado aos ingleses, declarando que ele e o Rei da Inglaterra deveriam deixar de lutar contra os cristãos e se unirem numa grande Cruzada para derrotar os maometanos.
Libertação de Orléans
Com seu exército de 10.000 homens, Santa Joana chegou a Orléans, em 29 de abril de 1429. A cidade, situada às margens do Rio Loire, estava cercada pelos ingleses havia sete meses e seus habitantes passavam fome.
Milagrosamente, soprou forte vento fazendo com que as águas subissem e seus navios, carregados de víveres, puderam entrar na cidade, sem que os sitiantes conseguissem efetuar qualquer resistência.
Saudada entusiasticamente pela população, ela logo se dirigiu a uma igreja e se prosternou diante de um grande crucifixo, agradecendo ao Redentor a graça alcançada.
Iniciaram-se diversas investidas contra os ingleses. Num ataque que comandou para conquistar uma fortaleza, Santa Joana foi atingida por uma flecha. Após o curativo que lhe fizeram, ela se dirigiu a uma vinha para rezar. À noite, regressou montada num cavalo e segurando seu estandarte. Diversos soldados viram que sobre sua cabeça voava uma pomba branca.
Um general inglês, que berrara palavras ofensivas à honra da Santa, correu sobre uma ponte a qual ruiu e ele morreu afogado.
Em 8 de maio de 1429, com a total derrota dos ingleses, Orléans foi libertada. Multidões acorriam junto à virgem guerreira para exprimir sua gratidão. Ela dizia: “Não a mim, mas a Deus agradecei!” E a seu pedido celebrou-se solene Missa na catedral.
Três dias depois, a Santa dirigiu-se a Blois para conversar com Carlos VII, mas este se encontrava num castelo de uma localidade próxima, presidindo um banquete comemorativo da vitória de Orléans para o qual não a convidou.
Terminada a festa, ela pediu-lhe reforços de soldados e armas para recuperar castelos e cidades às margens do Rio Loire a fim de chegar a Reims, onde ele seria coroado.
Mas, devido aos seus maus conselheiros e sua moleza, o monarca ficava indeciso. Transcorridas três semanas, a Santa ajoelhou diante dele e, abraçando seus pés, disse: “Gentil Delfim, não vos prendais aos dilatórios conselhos. Ide o mais rápido possível a Reims para receber uma digna coroação!” Então, concordou em ajudá-la e declarou que iria a Reims.
Recebeu oficialmente o reino da França
Ela partiu e, em uma semana, conquistou três cidades e muitos de seus habitantes se integraram ao exército da virgem heroína.
Tal era o ânimo dos franceses que, em 18 de junho de 1429, na Batalha de Patay, tiveram estupenda vitória: 2.500 ingleses foram mortos enquanto que eles perderam apenas três soldados.
Continuando sua marcha, os habitantes das cidades dominadas pelos borguinhões, sabendo das vitórias em Orléans e Patay, não fizeram resistência. Afinal, chegaram a Reims, que estava dominada pelos traidores borguinhões. E plenos de alegria descortinaram a maravilhosa e simbólica Catedral onde, desde Clóvis, os reis da França eram sagrados.
O prefeito entregou as chaves da cidade ao Delfim o qual, a rogos da Santa, se dirigiu com ela a um cartório e, por documento oficial, doou-lhe o reino da França. Em seguida, ela o colocou nas mãos de Deus e o devolveu a Carlos VII. Assim, por alguns instantes, Santa Joana d’Arc foi Rainha da França.
São Pio X, num discurso pronunciado em 13 de dezembro de 1908 quando beatificou Joana d’Arc, afirmou:
“A Donzela de Orléans, tanto em sua humilde terra natal quanto em meio à licenciosidade das tropas, se conservou pura como os Anjos.
“Corajosa como um leão nos perigos da batalha, mostrava-se cheia de piedade com os pobres e desafortunados. Simples como uma criança na paz dos campos e no tumulto da guerra, se manteve sempre recolhida em Deus e ardente de amor à Virgem Maria e à Sagrada Eucaristia, como um Querubim.”
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] SEQUEIROS, Marie de la Sagesse. Santa Juana de Arco. Buenos Aires : Katejon. 2018, p. 119.
[2] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1883, v. 31, p. 293.
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