Situada num dos mais belos panoramas do mundo, Constantinopla era a capital do Império Romano do Oriente, fundado por Constantino no século IV.
Redação (23/12/2024 18:24, Gaudium Press) O Império Romano do Oriente, fundado por Constantino no século IV, era também chamado bizantino, e Constantinopla denominada Bizâncio, na qual haviam belas igrejas sobrepujadas pela Basílica Santa Sofia.
Cidade bastante rica, a corte bizantina tornara-se “famosa pelo seu luxo, esplendor, cerimonial complicado, etiqueta refinada”.[1]
Entretanto, Bizâncio rompeu com a Igreja, em 1054, negando a supremacia do Papa e originando o Cisma do Oriente. O Patriarca de Constantinopla tornou-se o chefe supremo da igreja do Oriente, que passou a ser chamada igreja ortodoxa. Era serva do Estado, cujo chefe vendia as sedes episcopais.
Não se deve aplicar a ela o termo “ortodoxa”, o qual provém do grego e significa ‘opinião certa’, ou religião verdadeira, característica que somente a Igreja Católica possui. Na realidade, a igreja do Oriente é heterodoxa.
Afastando-se da luz da verdade, os teólogos bizantinos se embrenharam em discussões frívolas, dando assim origem ao termo bizantinismo.
Várias tentativas para os “ortodoxos”, também chamados gregos, se unirem à Igreja católica foram feitas, mas sem resultado. Em 1438, o Imperador de Bizâncio João VIII, acompanhado do Patriarca de Constantinopla e diversas autoridades eclesiásticas, foi a Ferrara – Norte da Itália – a fim de assistir a um concílio que visava, entre outros objetivos, obter a conversão dos ortodoxos à verdadeira Igreja.
O imperador e o patriarca assinaram um decreto de união com a Igreja Romana. Quando regressaram à Constantinopla, na Basílica de Santa Sofia celebrou-se solene cerimônia durante a qual foi lido aquele documento, mas muitos clérigos, religiosos, membros da nobreza e do povo se rebelaram contra o mesmo.
Traição do Grão Mestre dos Cavaleiros de Rodes
João VIII morreu em 1448 e foi sucedido por seu irmão, Constantino XI. O império bizantino havia perdido grande parte de seu território e ficou reduzido praticamente à cidade de Constantinopla.
E os turcos otomanos, que eram maometanos, aumentavam seus domínios através de invasões. Provinham do Turquestão, na Ásia Central, e um dos seus primeiros sultões, ou chefes militares, chamava-se Othman, morto em 1326.
Seu sucessor organizou um exército cujos membros principais se chamavam janízaros, recrutados entre os meninos cristãos, roubados de suas famílias e “educados no fanatismo muçulmano. (…) Os janízaros formavam um corpo de elite, ao qual os sultões otomanos deveram suas principais conquistas”.[2]
Entre os católicos, houve um grande herói albanês, Scanderbeg, que venceu diversas batalhas contra os turcos. Mas o Grão Mestre dos Cavaleiros de Rodes, Jean de Lastic, fez uma aliança com o sultão Murade II, traindo a Santa Igreja.
Tendo este falecido durante uma orgia, seu filho Maomé II sucedeu-o, em 1451, e inaugurou o governo pelo assassinato de seu irmão consanguíneo mais novo.
O Império bizantino foi perdendo, ao longo dos anos, várias regiões e ficou reduzido à Constantinopla, a qual possuía 200.000 habitantes.
Cabeça do imperador no alto de uma coluna
E Maomé II construiu diante dela uma enorme fortaleza com o objetivo de assaltar a capital, cujos habitantes só se preocupavam com seus confortos e não queriam lutar.
No início de abril de 1453, auxiliado por uma frota de 120 navios, o sultão reuniu 100.000 homens e cercou-a. Sua tropa de elite era constituída por 20.000 janízaros. E o Imperador Constantino XI contava apenas com 10.000 soldados.
Percebendo que o ataque era iminente, o imperador dirigiu-se à Basílica de Santa Sofia que estava repleta de pessoas. Confessou publicamente seus pecados, pediu perdão a todos e recebeu a Eucaristia. O povo soluçava e ele por instantes foi dominado pela dor. Logo depois, montou a cavalo e foi dar aos soldados as últimas normas para a defesa.
Em 29 de maio de 1453, os turcos penetraram na cidade e uma das primeiras vítimas foi Constantino XI, que se encontrava junto à porta principal lutando vigorosamente. Cortaram sua cabeça e levaram-na ao sultão.
Muitas pessoas correram para a Basílica Santa Sofia a fim de obter refúgio, e ali foram decapitadas pelos turcos. Maomé sentou-se sobre a mesa do altar mor, como se fosse o deus do templo, e ordenou que a cabeça do imperador fosse colocada num fuste e alçada no alto de uma coluna.
Em seguida, imagens, colunas raras, ornamentos religiosos, manuscritos, evangeliários foram destruídos. E as paredes caiadas para cobrir as pinturas representando Santos.
Arrancaram um crucifixo e o levaram pelas ruas gritando blasfêmias.
Grão-Duque e seus filhos assassinados
Os grandes personagens foram massacrados, suas esposas levadas para o harém de Maomé e mais de 50.000 gregos vendidos como escravos.
O corpo de Constantino XI foi encontrado numa montanha de cadáveres, e só foi reconhecido porque os imperadores de Bizâncio usavam sapatos vermelhos. Conta-se que um homem tocava calmamente um instrumento musical. Os turcos o mataram e quebraram o instrumento.
O Grão-Duque Notaras, pertencente a uma das famílias mais ricas do império e exercendo o mais alto cargo, conseguiu escapar da matança e se apresentou, acompanhado de seus filhos, ao sultão.
Vendo o mais jovem deles, com quatorze anos de idade e de formosa aparência, Maomé ordenou ao pai que lhe entregasse para cometer horrendos pecados de luxúria.
Indignado, o Grão-Duque afirmou preferir morrer do que consentir em tal abominação. O sultão mandou que decapitassem todos os seus filhos diante dele e depois fizessem o mesmo com o pai.[3]
Os turcos mudaram o nome de Constantinopla para Istambul, e transformaram em mesquita a Basílica de Santa Sofia.
A respeito desse tema, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:
O islamismo representava naquele tempo o maior perigo para a Cristandade. “Inimigo da Fé, visava exterminá-la da face da terra. A seu serviço tinha as riquezas, as armas, o poderio de um dos mais vastos impérios da História, qual era naquele tempo o dos turcos.
“A luta entre os muçulmanos vindos do Oriente e os cristãos do Ocidente não era apenas um choque entre dois povos, mas entre duas civilizações, mais do que isto entre duas religiões”.[4]
A queda de Constantinopla marcou o fim da Idade Média e o início a Idade Moderna.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Reflexões para o final do ano. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XV, n. 177 (dezembro 2012), p.17.
[2] AIMOND, Charles. Le Moyen Âge. Paris: J. de Gigord. 1939, p. 326.
[3] Cf. ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Liège: J. G. Lardinois. 1847. v. 22, p. 71-90. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1883, v. 31, p. 421-437.
[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Catolicismo e carolice: reflexões para a festa de São João de Capistrano. In Catolicismo. Campos dos Goitacazes. n. 15, março 1952.
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