Em 1225, o ano que precedeu sua morte, Francisco de Assis, doente e quase cego, batera na porta do convento de são Damião, onde há muito tempo irmã Clara aguardava a consolação de sua visita, e pediu para ser hospedado. Para respeitar a clausura quis ser acomodado na terra nua numa cabana de palha, no quintal. Foi aí que o trovador de Deus transbordou sua alma na oração de reconhecimento ao Senhor com o Cântico do Irmão Sol, o mais belo hino à alegria.
Com este gesto Francisco parece ter querido brindar a mais fiel e entusiasta intérprete do seu ideal ascético, pelo qual Clara, cujos familiares eram contrários à sua escolha, teve de fugir de casa aos dezenove anos. A belíssima menina, nascida em 1193 em Assis, de família rica, com rara audácia apresentou-se na noite de 18 de março de 1212, na humilde igrejinha de Santa Maria dos Anjos, aos pés do monte sobre o qual surge Assis, onde a aguardavam Francisco e seus frades. O santo cortou-lhe a cabeleira com seus longos cachos e lhe deu para vestir o grosseiro hábito de lã crua, fazendo-a pronunciar os votos de pobreza, castidade e obediência.
Em seguida Clara foi levada a um mosteiro beneditino, do qual mais tarde Francisco a tirou para conduzi-la ao paupérrimo convento de são Damião, destinado às monjas da Ordem Segunda franciscana. Abandonando a rica morada, também a mãe e as irmãs de Clara, Ortolana e Beatriz, ingressaram mais tarde no austero convento. A resposta da jovem Clara ao ideal franciscano de pobreza foi total. Para estar em consonância com o mestre pediu e obteve o “privilégio da pobreza” que a privava também da possibilidade de ter qualquer coisa de seu. Na morte de Francisco, em 1226, obteve que seu corpo fosse introduzido na clausura para que as monjas pudessem contemplar-lhe o rosto. Mas Clara teve o singular privilégio de ver projetadas nas paredes da pequena cela sem enfeites as imagens do santo e os ritos das solenes funções que se desenvol-viam em Santa Maria dos Anjos.
Por estas prodigiosas visões, Clara teve o título de protetora da televisão. Clara viveu 27 anos após a morte de Francisco. Um enviado do papa Inocêncio IV levou a demorada e aguardada bula de aprovação do privilégio da pobreza a Clara na manhã de 11 de agosto de 1253, poucos instantes antes que a santa deixasse esta vida. Dois anos após foi canonizada.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
FONTE: PAULUS