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Santa Hildegarda de Bingen: médica dos corpos e das almas

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17 de setembro, a Igreja também lembra a memória de Santa Hildegarda de Bingen, mística e religiosa beneditina do século XII, chamada a uma especial união com o Criador e à missão de indicar os rumos para a humanidade.

Redação (17/09/2021 10:33, Gaudium Press) Num agradável dia do verão de 1098 nascia no castelo de Böckekheim, na região do Reno, o décimo filho do casal Hildebert e Matilde de Bermersheim. Era uma encantadora menina, batizada com o nome de Hildegarda. Apesar da frágil saúde, dava ela — desde os primeiros anos de existência — mostras de aguda inteligência e inclinação religiosa.

A Providência quis ainda muito cedo atrair para Si esta angélica criança, que já aos três anos de idade era favorecida com luzes e revelações celestes. Pensando que todos recebiam igual sorte de favores, comentava entusiasmada a beleza do que via, causando estupor e maravilhamento nos que a ouviam.

Uma menina predestinada

Certo dia, caminhando com sua aia pelas redondezas do castelo, exclamou radiante: “Veja aquele bezerrinho, como é bonito! Todo branco, tem manchas apenas na cabeça e nas patas. Ah! tem uma também no lombo!”

A criada, olhando para os lados e nada vendo, perguntou-lhe onde estava o bezerro. Sem compreender como ela não via o animalzinho, a menina apontou uma grande vaca e disse incisiva: “Está ali! Está ali!”

Perplexa, a mulher pensou estar ouvindo mais uma fantasia infantil e, em tom de gracejo, contou o sucedido à mãe de Hildegarda. Entretanto, algum tempo depois nasceu um bezerro e ninguém mais riu: possuía exatamente o aspecto predito pela menina!

No silêncio da clausura germina um grande futuro

Como Hildegarda dava sinais inequívocos de vocação contemplativa, e a nobre condessa Jutta de Spanheim abandonara nessa mesma época suas glórias e riquezas mundanas para tornar-se monja beneditina, os pais de Hildegarda não hesitaram em confiar a formação da filha ao zelo dessa mulher virtuosa.

Foi assim que, aos oito anos de idade, ela ingressou na ermida de Disibodemberg, onde “cresceu em graça e santidade” a exemplo do Menino Deus.

O silêncio da clausura, as sábias orientações que lhe eram dadas, a participação nos atos litúrgicos e o carisma de São Bento foram modelando sua alma segundo o mais puro ideal monástico: refletir em todos os aspectos da vida as divinas perfeições de Jesus Cristo.

Havia, entretanto, um fator que a unia especialmente a Deus: as comunicações sobrenaturais de que era objeto. Iniciadas as visões na primeira infância e tendo continuidade ao longo de toda a sua vida, elas deram a Santa Hildegarda um discernimento profundo da ação do bem e do mal, da graça e do pecado, da realização da vontade de Deus a que o homem é chamado e a facilidade que este tem em desprezar os desígnios divinos.

Essa riqueza de compreensão foi-lhe facultada visando o cumprimento de sua missão junto aos grandes do mundo, aos pobres do povo e à posteridade ao longo dos séculos.

Com efeito, os ensinamentos de Santa Hildegarda possuem em nossos dias uma atualidade igual ou maior do que quando ela viveu, há mais de 800 anos.

Uma admirável compreensão do Universo

Nos trinta anos em que Jutta conduziu o mosteiro, grandes foram os progressos feitos por Santa Hildegarda na via espiritual. Com a morte dessa abadessa, a comunidade não encontrou senão em sua discípula a sucessora ideal.

Muito a seu pesar, enfrentando admoestações interiores que lhe ditavam a humildade, Santa Hildegarda dobrou-se ante o jugo da obediência e passou a orientar aquelas almas eleitas. Com tanta perfeição exerceu esse encargo que precisou fundar dois novos mosteiros — o de Rupertsberg em 1148 e o de Eibingen em 1165 — para acolher as numerosas vocações que a ela acorriam.

Transcorria o quinto ano de seu abadessado quando a voz divina que a acompanhava indicou-lhe uma ordem expressa: “Manifesta as maravilhas que aprendes. Escreve e fala!”

Assim originou-se a principal obra escrita de Santa Hildegarda, “Liber Scivias”, o qual recebeu nada menos que o louvor de São Bernardo de Claraval e a aprovação do Papa Eugênio III. Ambos reconheceram em suas palavras e em sua vida a autenticidade das revelações.

Mas, afinal, qual é o teor de seus ensinamentos?

Numa linguagem isenta de qualquer pretensão literária e repleta do colorido próprio à sua época, Santa Hildegarda fala a respeito da relação entre Deus e os homens, da Criação e do Juízo Final, e insiste sobre o papel da Igreja na história da salvação.

Seu coração filial transborda em exaltações à Santíssima Trindade, não exclui vigorosas denúncias aos erros morais da humanidade e fala da importância dos sacramentos na santificação das almas.

Para ela, o Universo criado é um espelho admirável das realidades espirituais e divinas: “Deus, que fez todas as coisas por um ato de sua vontade e as criou para tornar conhecido e honrado o seu nome, não se contenta em mostrar através do mundo apenas o que é visível e temporal, mas manifesta nele aquelas realidades que são invisíveis e eternas. Isto é o que me foi revelado”.

Uma alma cheia da ciência divina

Todavia, se Santa Hildegarda logrou surpreender os estudiosos ao longo dos tempos, foi sobretudo por suas ousadas afirmações medicinais.

Demonstrou ela uma penetração abarcativa nas relações entre o homem e o mundo, sua constituição espiritual e física, e as propriedades benéficas dos seres vivos. São de sua autoria as duas únicas obras médicas compostas no Ocidente ao longo do século XII, de que temos notícia.

Afirma ela que os desequilíbrios nervosos e espirituais se refletem de modo inevitável na saúde corporal, originando os problemas de metabolismo que conduzem à depressão.

Em nenhum momento, Santa Hildegarda deixa de considerar a mútua influência que corpo e alma exercem entre si. Na sua opinião, a vida religiosa deve buscar um sábio ponto de equilíbrio entre os dois fatores.

Defende ainda a tese de que a saúde se mantém essencialmente por um sadio regime alimentar, e se detém em explicar com riqueza e profundidade as características de centenas de plantas medicinais e nutritivas. Nem mesmo as pedras escapam à sua análise, sendo vistas como excelentes elementos canalizadores da energia humana.

E se ainda fosse pouco esse vasto conhecimento empregado generosamente no cuidado da comunidade e de todos os necessitados que acorriam ao mosteiro, Santa Hildegarda foi também uma notável musicista.

Dotada de rara acuidade, bela voz e originalidade, ela compôs em torno de setenta sinfonias segundo os estilos de seu tempo. Eis o que ela afirma sobre a música:

“Lembremo-nos de que, com o pecado, Adão perdeu sua inocência e, em consequência, perdeu também a voz que antes possuía, semelhante à dos anjos do Céu. Tendo perdido essa capacidade de louvar a Deus, os profetas, inspirados pelo Espírito Santo, inventaram os salmos e os cânticos para incitar os homens a se voltarem para esta doce recordação do louvor da qual gozava Adão no Paraíso. Também os instrumentos musicais, pela emissão de múltiplos sons, podem instruir espiritualmente os homens.”

Uma mulher prega nas catedrais

Na conjuntura da sociedade em que vivia a santa abadessa, a Igreja passava por perigos que comprometiam a paz e a salvação das almas. O Papa estava sendo perseguido pelo Imperador Frederico Barba-Roxa, o qual, julgando-se possuidor de maior poder espiritual que o Sucessor de Pedro, sentia-se no direito de destroná-lo e de colocar em seu lugar quem favorecesse seus intentos ambiciosos.

Há pouco eclodira a heresia dos cátaros, que tão profundamente marcaria a época, num delírio de aversão à vida e ao verdadeiro Deus. Por fim, reinava um visível relaxamento de costumes que gradualmente conduzia os homens para o abismo da perdição.

Santa Hildegarda não restringe sua atuação ao âmbito do mosteiro; é necessário fazer ressoar sua voz profética nas abóbadas das igrejas, apontar com sua sabedoria os erros de um século surdo à voz de Deus; urge que uma alma fervorosa faça trepidar a modorra da tibieza.

Ela parte, já idosa, para pregar — coisa impensável — nas grandes catedrais repletas pelo clero, nobreza e povo, desejosos de ouvir suas justas admoestações.

Sucessivamente, as catedrais de Mainz, Bamberg, Tréveris, Colônia e muitas outras são palco de seu apostolado. Os efeitos não se fazem esperar: multiplicam-se as conversões e se espalha a fama de taumaturga da santa abadessa a cujas palavras seguiam-se os prodígios.

Além das pregações, ela enviou muitas cartas a diversas personalidades, sempre exortando a uma maior observância do Evangelho.

Aos 81 anos, sem dobrar-se ante o peso das fadigas e dos sofrimentos, aquela que nunca recusou socorro aos filhos de Deus entregou sua alma em meio à grande paz e serenidade de seu mosteiro. Era o dia 17 de setembro de 1179.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 69, setembro 2007.

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