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Santa Teresa, a Grande

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Santa Teresa D’Ávila foi uma das maiores figuras femininas de toda a História. Tão extraordinária que mereceu ser proclamada Doutora da Igreja.

Redação (14/10/2020 17:35, Gaudium Press) Há pessoas tão unidas a Deus que, por assim dizer, personificam a grandeza, pois nelas resplandece a luz da vida divina presente em alto grau no seu interior.

Uma destas almas se destacou no século XVI, realizando os planos traçados por Deus para ela com tal perfeição e fidelidade, que a grandeza se incorporou ao seu nome: Santa Teresa, a Grande.

Enfermidade e convite para a contemplação

Nasceu Teresa de Cepeda y Ahumada em 28 de março de 1515, em Gotarrendura, província de Ávila, no seio de uma numerosa família da pequena nobreza castelhana. Desde menina se interessava por histórias da vida dos santos, e quando soube dos feitos dos primeiros mártires, pensou ser esta via uma linha reta para o Céu. Decidiu, então, fugir com o irmãozinho Rodrigo para o país dos mouros, a fim de ali entregarem suas vidas em defesa da Fé. Já estavam bem distantes das muralhas da cidade quando um tio conseguiu localizá-los e os regressou ao lar.

Havendo perdido a mãe com apenas 14 anos, Teresa entregou-se nas mãos de Nossa Senhora, tomando-A por única Mãe. Aos vinte anos, ingressou no Mosteiro Carmelita da Encarnação, de Ávila — a princípio contra a vontade do pai —, onde emitiu os votos um ano depois.

Ali viviam quase 200 religiosas sob a regra mitigada do Monte Carmelo. Irmã Teresa recebeu uma espaçosa cela, junto com a liberdade de atender visitas a qualquer hora e ir à cidade por qualquer motivo. Era costume passarem as freiras horas conversando no locutório, convertido em uma espécie de centro de reuniões sociais.

Sem embargo, a cruz, elemento essencial da grandeza, não tardou a se apresentar àquela alma escolhida. Pouco depois da profissão religiosa, sua saúde se debilitara de tal modo que o pai, Alonso de Cepeda, obteve permissão para levá-la ao povoado de Becedas, onde morava uma senhora cujos tratamentos médicos possuíam fama de eficazes. Na viagem, Teresa conheceu a oração mental através do livro Terceiro Alfabeto Espiritual, do padre Francisco de Osuna, sentindo-se convidada à vida de contemplação.

Os tratamentos, entretanto, não produziram o resultado esperado: “No fim de dois meses, à força de remédios, minha vida se acabava”. De regresso à casa paterna, uma contração muscular fortíssima deixou-a sem sentidos por quase quatro dias. Tê-la-iam enterrado se o pai não tivesse se oposto. Ao despertar, seu estado era lamentável: “fiquei encolhida, como que enovelada. Parecia morta, incapaz de mover braços, pés, mãos e cabeça”.

Mesmo nessas condições, Teresa desejava retornar logo ao convento. Sua alma, como a de Jó (cf. 2, 10), encontrava-se em excelentes disposições: “Estava muito conformada com a vontade de Deus, ainda mesmo que me deixasse sempre naquele estado. Se desejava sarar, era unicamente para ter solidão, como antes, e fazer oração”.

Após três anos de paralisia, suas orações a São José lhe obtiveram a cura e, a partir daquele momento, a devoção ao Santo Patriarca se tornou primordial em sua vida.

Luta interior e paz de alma

Com a saúde um tanto débil, Teresa retomou a vida comunitária, na Encarnação. Contudo, ali ficava dissipada, descuidando-se da oração interior na qual tanto progredira durante sua enfermidade. Aquele mosteiro havia perdido o primeiro fervor da vocação e se afastado do espírito carmelita. No locutório, aberto as senhoras da sociedade, conversava-se com frequência sobre frivolidades e vaidades mundanas, e tudo isso acabou tendo uma influência negativa sobre a vida espiritual da Santa.

Passado algum tempo, a conselho do Frei Vicente Varrón, sacerdote dominicano, retomou o hábito de rezar mentalmente, embora isso lhe significasse, no início, travar uma verdadeira luta contra si mesma: “na verdade, para não ir à oração, era tão insuportável a violência que o demônio me fazia — ou o meu mau costume — e tal a tristeza que me dava ao entrar no oratório, que para me vencer precisava valer-me de todo o meu ânimo, que, dizem, não é pequeno”.

Certo dia, rezando em seu oratório, ao perceber como suas conversas fúteis haviam aumentado as dores de Cristo, sentiu tão vivamente pesar por suas faltas, que se jogou aos pés de uma imagem de Nosso Senhor chagado prometendo não se levantar dali enquanto Ele não a fortalecesse para não ofendê-Lo mais.

“Minha alma” — conta ela no Livro da Vida, sua autobiografia — “recebeu grandes forças da divina Majestade, que deve ter ouvido meus clamores, compadecendo-se de tantas lágrimas. Começou a crescer em mim o gosto de estar mais tempo com o Senhor”. E acrescenta: “Quando interiormente me figurava estar junto de Cristo, […] ocorria-me de repente tal sentimento da presença de Deus, que de modo algum podia duvidar que o Senhor estivesse dentro de mim, e eu, toda mergulhada n’Ele”.

Cristo parecia andar sempre a seu lado

“Já não quero que fales com os homens, senão com os Anjos”, foram as palavras ouvidas por Teresa no primeiro êxtase que lhe concedeu a graça divina. “Desde aquele dia, fiquei tão animada a deixar tudo por Deus, como se naquele exato momento — que não me parece ter sido mais — Ele tivesse querido transformar a sua serva”. A par das provações, agora Cristo continuava a falar-lhe com frequência e parecia andar sempre a seu lado.

Não era raro, nessas intimidades com Jesus, sentir na alma o fogo do amor divino. Mais de uma vez chegou a ter seu coração transverberado por um Anjo, deixando-lhe as marcas físicas de uma perfuração: “Aprouve o Senhor favorecer-me algumas vezes com esta visão. Via um Anjo perto de mim […]. Via-lhe nas mãos um comprido dardo de ouro. Na ponta de ferro julguei haver um pouco de fogo. Parecia algumas vezes metê-lo pelo meu coração adentro, de modo que chegava às entranhas. Ao tirá-lo tinha eu a impressão de que as levava consigo, deixando-me toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor, que me fazia dar os gemidos de que falei. Essa dor imensa produz tão excessiva suavidade, que não se deseja o seu fim, nem a alma se contenta com menos do que com Deus”.

Não é tempo de tratar com Deus assuntos de pouca importância…

Depois de uma visão do inferno, por volta de 1560, se desvendou em sua alma a grande missão que lhe estava reservada. Ao conhecer os assombrosos tormentos dos precitos, sentiu ela imensa compaixão por ver o grande número de almas que se condenavam. Penalizava-a sobremaneira a situação da Santa Igreja, pois lhe chegavam notícias dos danos causados naquela época pelas seitas que começavam a se disseminar pela Europa. Via com amargura quanta gente se afastava de Deus e quão poucos eram os seus amigos.

Passou a se perguntar, então, o que poderia fazer para ser útil à Igreja nessa terrível encruzilhada: “convenci-me de que a primeira coisa era seguir o que Sua Majestade tivera em vista quando me chamou à vida religiosa, e guardar minha Regra com a maior perfeição possível”. E aconselhava às suas irmãs de vocação: “ocupadas todas em orações pelos defensores da Igreja, pregadores e letrados que a sustentam, ajudaríamos, no que estivesse ao nosso alcance, a este meu Senhor, tão atribulado por aqueles a quem fizera tanto bem”.

A partir desta resolução, sua vida foi marcada por um crescente amor à sua Ordem Religiosa, não pensando em seu proveito espiritual, mas em servir ao Corpo Místico de Cristo, por cuja causa seu coração consumia-se de zelo.

Via, sobretudo, a necessidade de reformar o Carmelo e sentia o apelo da Providência para realizar essa missão. Desejava comunidades que não fossem meros refúgios de almas contemplativas, preocupadas em fruir e gozar do convívio divino, mas verdadeiras tochas de amor ocupadas em reparar o mal que era feito à Igreja. “O mundo está pegando fogo. Querem, por assim dizer, de novo sentenciar a Cristo, levantam-lhe mil testemunhos falsos. Pretendem lançar por terra a sua Igreja. […] Não, irmãs, não é tempo de tratar com Deus assuntos de pouca importância!”.

Fundação de São José e início da Reforma do Carmelo

Esse desejo de fundar casas religiosas de estrita observância à Regra carmelitana primitiva logo foi confirmado e encorajado por Nosso Senhor. “Um dia, depois da comunhão, Sua Majestade me mandou expressamente que trabalhasse nessa empresa com todas as minhas forças. Fez grandes promessas de que não se deixaria de fundar o mosteiro, no qual Ele seria muito bem servido. Disse-me que devia ser dedicado a São José. Este glorioso Santo nos guardaria a uma porta, Nossa Senhora à outra, e Cristo andaria conosco. A nova casa se tornaria uma estrela da qual se irradiaria grande esplendor. […] Disse-me ainda que refletisse no que seria o mundo se não houvesse religiosos”.

Ajudada por alguns amigos adquiriu, na própria cidade de Ávila, uma minúscula casa em precárias condições destinada a ser o novo mosteiro. Abraçado o empreendimento, começaram as provas: uma parede que estava sendo refeita caiu sobre seu sobrinho pequeno; seu cunhado, que dirigia os trabalhos, ficou enfermo; a bula papal aprovando aquela fundação chegou incompleta de Roma… E quando, no momento decisivo, amanheceu desabada mais uma parede da casa, construída com os últimos ducados que a irmã Teresa conseguira, a tentação de desânimo ameaçou a todos. Ela, porém, olhando para os destroços, disse: “Se caiu, tornemos a levantar”.

Por fim, com as autorizações necessárias, em 24 de agosto de 1562, celebrou-se a primeira Missa no Mosteiro de São José, de Ávila, o primeiro dentre os Carmelos reformados. Na mais estrita pobreza e clausura, Teresa pôs-se a formar suas freiras, mostrando-lhes a força da vida comunitária bem levada, na obediência e na alegria. Lembrava-lhes sempre o principal motivo pelo qual haviam consagrado suas vidas: “Se para isto tivermos valimento junto de Deus, enclausuradas, pelejemos por Ele. Darei por muito bem empregados os sofrimentos pelos quais passei para fazer este cantinho, onde desejava que se guardasse com a perfeição primitiva a Regra de nossa Imperatriz e Senhora”.

Esse modo radical de viver logo atraiu muitas novas vocações. Quando Santa Teresa entrou na eternidade, em 1582, deixou fundados mais de 20 mosteiros do ramo reformado, femininos e masculinos.

 

Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho n.130. outubro 2012. Ir. Maria Teresa Ribeiro Matos, EP 

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