Sétimo Ministro-Geral dos franciscanos, São Boaventura, cuja memória a Igreja celebra no dia 15 de julho, soube compendiar em, um livro, os fatos da vida de seu Pai espiritual, e, em si mesmo, as virtudes que ele praticou, tornando-se assim um outro Francisco de Assis.
Redação (15/07/2024 09:00, Gaudium Press) Inúmeros são os carismas que o Espírito Santo suscita na Igreja, diversos são os modos de vida que glorificam a Deus, e mais variados ainda são os dons que os santos recebem para conduzir as ovelhas ao verdadeiro Pastor.
Na história da Igreja, verifica-se uma constante luta para manter a fidelidade aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo; são enfrentamentos com hereges que contradizem ou deformam a pura doutrina de Cristo; renúncias e sacrifícios que se opõem à dissolução de costumes de determinada época; são, enfim, êxtases e elevações de espírito que aproximam o Céu da terra, sublimando toda a ordem da Criação.
Na vida de São Boaventura, vemos reluzir diversos aspectos, alguns aparentemente contraditórios. Sem deixar de ser um simples discípulo do Poverello, ele se tornou doutor e mestre na importante Universidade de Paris, chegando a ser “um dos teólogos mais importantes da história da Igreja”.[1] Nomeado Ministro-Geral dos franciscanos, soube aliar magistralmente a ação e a contemplação, sem jamais abandonar sua vida espiritual e monástica. De fato, desvelou empenhadamente pelo progresso e harmonia de toda a ordem franciscana.
O fruto de um milagre
Nascido provavelmente no ano de 1217, o jovem João de Fidanza sofria uma grave enfermidade e estava às portas da morte. Embora seu pai fosse médico, não conseguia curar o menino. Sua mãe o confiou, assim, ao patrocínio de São Francisco de Assis e milagrosamente ele recuperou a saúde. Esse episódio marcou profundamente a vida do santo.
Alguns anos mais tarde, foi estudar em Paris e, após terminar os estudos, quis ingressar na Ordem dos Frades Menores, para seguir as vias de São Francisco.
Portando já o hábito dos franciscanos com o nome de Boaventura, recebeu ordem de prosseguir seus estudos, agora de Teologia, na Universidade de Paris. Assim o fez. E no dia da formatura, deu-se um inocente fato, no qual reluzia a virtude da despretensão. Dois eram os santos que se formavam naquela ocasião, São Boaventura e São Tomás de Aquino. No momento de receberem o diploma travou-se uma disputa entre os dois. Após expressar os vários argumentos, o filho de São Domingos teve que ceder, aceitando a primazia de Boaventura.[2]
Entretanto, naquela época, houve uma grande polêmica sobre o direito das ordens mendicantes ensinar na Universidade. O conflito foi apaziguado e o Papa Alexandre IV, em 1257, reconheceu São Boaventura como Mestre e Doutor na Universidade de Paris.
Ministro-Geral dos Franciscanos
Em meados do mesmo ano, houve o capítulo geral da ordem e São Boaventura foi designado Ministro-Geral dos Franciscanos, o sétimo da ordem.
Além de muitas viagens apostólicas e cuidados para manter a unidade de todos os Frades Menores, São Boaventura se dedicou a escrever muitas obras, sobretudo um livro a respeito da vida de São Francisco, procurando documentos e ouvindo os fatos narrados por aqueles que conviveram com o santo. O título da obra foi a Legenda Maior, que tinha como intuito ressaltar a pessoa do Fundador e sua real espiritualidade, a fim de evitar futuros desvios na ordem.
No capítulo geral de 1263, o texto foi reconhecido como a mais fiel biografia do santo e passou a ser a oficial. Desse modo, o discípulo glorificava seu Pai espiritual, manifestando a configuração que São Francisco tinha com Cristo e indicando esse ideal para todos os seus seguidores.
Cardeal da Santa Igreja
O Papa Gregório X, conhecendo a sabedoria de São Boaventura, chamou-o para auxiliar no cuidado da Santa Igreja. Assim, conferiu-lhe o encargo de preparar o II Concílio Ecumênico de Lyon, onde se procuraria restabelecer a união entre a Igreja latina e grega.
Apesar de trabalhar com diligência nessa tarefa, não chegou a ver o término do Concílio, pois, durante seu desenvolvimento, o santo ficou gravemente enfermo e entregou sua valorosa alma a Deus no ano de 1274.
Fato único na história: o Papa ordenou que todos os sacerdotes do mundo inteiro celebrassem uma Missa por sua alma.
Esse fiel discípulo de São Francisco merece eterno louvor por ter mantido unida a ordem dos franciscanos. Com efeito, sua principal glória foi a de ressaltar a figura do Fundador como ideal a ser seguido e imitado.
Foi canonizado, em 14 de abril de 1482, pelo Papa Sisto IV. Ademais, foi declarado Doutor da Igreja em 1588, por Sisto V, em razão das inúmeras obras teológicas que escreveu.
Comenta o Papa Bento XVI que a transcrição da fisionomia moral de São Francisco, que São Boaventura fez na Legenda Maior, pode se resumir no seguinte: “Francisco é um alter Christus, um homem que procurou Cristo apaixonadamente. No amor que impele à imitação, conformou-se de modo total com Ele.” E tal foi o entusiasmo de São Boaventura por seu Pai, que poderíamos aplicar-lhe as mesmas palavras. Seu amor ao Fundador foi tal que passou a ser uma representação viva de São Francisco.
Neste 2024, celebramos setecentos e cinquenta anos da entrada dele na eternidade.
Por Jiordano Carraro
[1] BENTO XVI. Audiência sobre São Boaventura, em 3 de março de 2010. Disponível em: <www.vatican.va>.
[2] ROHRBACHER. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. v. 13.
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