De tal modo a devoção a São Martinho se propagou pela França que chegaram a existir nesse país 3.700 igrejas sob sua invocação.
Redação (11/11/2021, 08:35, Gaudium Press) Dentre os imperadores romanos que perseguiram os cristãos, certamente quem mais odiou a Santa Igreja foi Juliano o Apóstata, o qual exerceu seu nefando reinado de 361 a 363.
Tentativa de reconstrução do Templo de Jerusalém
Esse ímpio tentou reedificar o Templo de Jerusalém e convidou os judeus para participarem dessa obra. Milhares de famílias hebraicas se dirigiram para o local, levando seus rebanhos, móveis, servidores e cantando salmos.
No dia da colocação da pedra fundamental, imensa multidão estava presente. De repente houve um terremoto, as pessoas fugiram de todos os lados e muitas ficaram feridas.
Algum tempo depois tentaram recomeçar a obra, mas desencadeou-se um ciclone que dispersou os materiais de construção e durou o dia inteiro. À noite, uma grande cruz de fogo apareceu no céu e milhares de pequenas cruzes circulavam no ar e se incrustavam nas vestes dos israelitas. Muitos pediram o Batismo, porém a maioria se obstinou na incredulidade .
Afirma São João Bosco:
“Mas a coisa mais prodigiosa e terrível ao mesmo tempo é que saíam dentre aquelas ruínas globos de fogo que, serpeando com a rapidez do relâmpago, deitavam por terra os trabalhadores e os arrastavam consumindo muitos até os ossos, e carbonizando outros. Chegavam até a alcançar a alguns judeus que estavam muito longe e os sufocavam ou consumiam.
“Em vista de tão extraordinário milagre, não se atrevendo já ninguém a aproximar-se daquele lugar, desistiu-se da ímpia empresa. […]
O apóstata morre dando gritos de desespero
“Este gênero de perseguição teria sido muito mais funesto para a Igreja do que a crueldade de Nero e de Diocleciano, se Deus não tivesse derrubado por terra os planos de Juliano com uma morte prematura.
“Tinha ele ido combater contra o Rei da Pérsia, com o propósito de exterminar os cristãos assim que alcançasse a vitória. Mas a mão poderosa do Senhor desbaratou os atrevidos planos do apóstata e, quando ele contava já com a vitória, uma flecha de procedência ignorada atravessou-lhe profundamente as costas. Impaciente, fez grandes esforços para arrancá-la, mas cortaram-se os dedos e caiu desmaiado sobre seu cavalo.
“Tiraram-no do meio do combate para curar a ferida; porém, tornando-se cada vez mais agudas as dores, dava gritos de desespero. Caindo em um paroxismo de raiva, arrancava com a mão o sangue de sua ferida e, atirando-o desdenhoso para o céu, dizia: ‘Venceste, Galileu… venceste, Galileu!’, querendo assim indicar a Jesus Cristo contra Quem sempre tinha combatido. Obstinado na impiedade, morreu em 363, aos 31 anos de idade.”
Causa muita estranheza que Daniel Rops, da Academia Francesa de Letras, tenha afirmado que a figura de Juliano o Apóstata é “bastante atraente […] suas intenções eram nobres […] queria sinceramente o bem”.
Origem da palavra “capela”
Se esse monstro enxovalhou aqueles povos, houve nessa época um varão que iluminou a humanidade: São Martinho de Tours, nascido na Panônia, atual Hungria, em 316.
Sua família era da aristocracia local e, desde muito jovem, ele engajou-se no exército romano. Algum tempo depois, foi enviado para Amiens, na França, onde pediu o Batismo.
Sendo ainda catecúmeno, certo dia andava a cavalo por uma estrada, numa época de intenso frio, quando um mendigo lhe pediu um agasalho. Cheio de compaixão, ele dividiu sua própria capa ao meio e entregou uma parte ao indigente.
Posteriormente, o restante de sua capa foi colocado, para a veneração dos fiéis, num local que passou a ser designado “capela”.
A capa de São Martinho deu também origem à palavra “Capeto”, nome da dinastia dos Reis da França, que ascendeu ao trono quando da escolha de Hugo Capeto, em 987. Seus descendentes reinaram nesse país sem interrupção até 1793, quando Luís XVI foi guilhotinado pela infame Revolução Francesa.
“O gesto de São Martinho comoveu toda a Idade Média como sendo uma expressão própria da caridade cristã, oposta à dureza do paganismo romano.
“De maneira que esse episódio pode ser considerado o primeiro feito simbólico da vida dele, recordado na era medieval através de vitrais, medalhas, iluminuras, quadros, etc.”
Bispo e Fundador de mosteiros
Depois do Batismo, dirigiu-se a Poitiers a fim de estudar Teologia e Filosofia com Santo Hilário, bispo dessa cidade. Tendo adquirido excelente formação doutrinária, dedicou-se ao apostolado.
Admirador da vida contemplativa, fundou o Mosteiro de Ligugé, o primeiro da França, para onde afluíram muitos discípulos. Certo dia, tendo falecido um religioso, São Martinho ressuscitou-o. Posteriormente, esse mosteiro recebeu o nome de “Abadia de São Martinho”, existente até hoje.
Após a morte do Bispo de Tours, em 371, a população da cidade de certa forma exigiu que São Martinho assumisse a diocese, e ele acabou aceitando.
Logo depois fundou o Mosteiro de Marmoutier, que chegou a ter, durante sua vida, 80 religiosos em sua maior parte provenientes de famílias nobres.
Por essa razão teve grande influência sobre os poderosos. Por exemplo, estando à mesa com um imperador, fazia com que, depois dele, Bispo, o primeiro a ser servido era o padre que o acompanhava, explicando que o sacerdócio é mais importante que a púrpura imperial .
Até o fim, um grande batalhador
Muitas vezes se dirigia à solidão de Marmoutier, onde era favorecido por visões de Nossa Senhora, mas também aguilhoado pelas perseguições do demônio.
Ele ali se acrisolava no amor a Deus e ao próximo, traduzidos num incansável esforço de evangelização. Seu zelo pelos povos transbordou os limites de sua diocese. Ele visitou diversas cidades da França, da Bélgica e mesmo da Espanha. Mandava destruir os templos pagãos e edificar igrejas ou mosteiros.
Sem abandonar suas prerrogativas episcopais, este varão de Deus se transformou num infatigável missionário, percorreu as mais distantes regiões numa época em que tais deslocamentos não se faziam sem grandes incômodos.
Seu amor à Igreja o levou a Flandres – Norte da atual Bélgica – em novembro de 397, para ali estabelecer uma concórdia entre os monges, problema sempre difícil. E foi ali que ele, ancião de mais de 80 anos, faleceu na paz do Senhor. Eis o fim sereno, em meio à luta, de um grande apóstolo e taumaturgo .
De tal modo a devoção a São Martinho se propagou pela França que chegaram a existir nesse país 3.700 igrejas sob sua invocação.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 43)
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1 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1891, v. X, p. 84.129.
2 – SÃO JOÃO BOSCO. História Eclesiástica. 6 ed. São Paulo: Salesiana, 1960, p. 98.99.
3 – DANIEL-ROPS, Henri. . A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante. 1988, v. 1, p. 545.
4 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Martinho de Tours, incansável apóstolo e taumaturgo. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano VII, n. 80 (novembro 2004), p. 23.
5 – Cf. DARRAS, op. cit., vol. X, p. 345-362.
6 – Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio, loc. cit. n. 80 (novembro 2004), p. 25.
7 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1891, v. X, p. 84.129.
8 – SÃO JOÃO BOSCO. História Eclesiástica. 6 ed. São Paulo: Salesiana, 1960, p. 98.99.
9 – DANIEL-ROPS, Henri. . A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante. 1988, v. 1, p. 545.
10 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São Martinho de Tours, incansável apóstolo e taumaturgo. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano VII, n. 80 (novembro 2004), p. 23.
11 – Cf. DARRAS, op. cit., vol. X, p. 345-362.
12 – Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio, loc. cit. n. 80 (novembro 2004), p. 25.
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