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São Patrício e o Skellig Michael

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No século V, o grande São Patrício, cuja memória a Igreja celebra no dia 17 de março, encetou a epopeia de arrancar a nação irlandesa das garras do paganismo.

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Redação (16/03/2024 20:14, Gaudium Press) A terra situada no noroeste da Europa, que em tempos vindouros seria apelidada Ilha dos Santos, jazia, naquele longínquo então, nas mãos dos druidas e do politeísmo celta.

Quando Patrício chegou à Irlanda, os demônios, diz um historiador do século XII, fizeram um círculo com que cingiam toda a ilha para lhe barrarem a passagem. Patrício levantou a mão direita, fez o sinal da cruz e passou adiante. Depois derrubou o ídolo do sol, ao qual as crianças, como ao antigo Moloch, eram oferecidas em sacrifício.

Entende-se, assim, que cabia ao Apóstolo da Irlanda ser seu exorcista. Acender ali a tocha da fé significava, antes de qualquer outra ação, repelir serpentes venenosas, sapos, magos e, sobretudo, os seres invisíveis que oprimiam as almas. Foi ele quem tirou o povo “do culto aos ídolos e aos espectros, que venceu e destruiu os ídolos que adoravam; que expulsou os demônios e espíritos malignos de dentro deles, e os trouxe das trevas do pecado e do vício para a luz da fé e das boas obras”. Atribui-se ao bastão de São Patrício o poder de enxotar as serpentes.

Sua ousada ofensiva redundou em uma vitória retumbante para a Santa Igreja. Uma vez limpo o terreno, a Palavra do Evangelho fincou nele profundas raízes. A ilha se tornou um foco de monaquismo para a Europa e seus missionários estiveram na vanguarda do desbravamento de novos campos para a Fé.

Muitos até hoje se maravilham ao constatar como um homem conseguiu tamanho êxito, de maneira tão duradoura, quase por si só. Mas o manso Patrício jamais considerou sua missão assim. A grandeza dele residia essencialmente em admirar e até emocionar-se diante da própria pequenez enquanto instrumento do Todo-Poderoso. A sua eficácia estava em saber a quem apelar na hora do apuro!

O Sumo Rei dos Anjos

Segundo a tradição registrada no século XIII por monges irlandeses, São Patrício empurrou os demônios até a margem sudoeste da Irlanda, num lugar isolado. Tratava-se de um penhasco de quase vinte e dois hectares, fora da Península Iveragh, no meio do Atlântico. A fim de derrotá-los e expulsá-los definitivamente, com os braços erguidos, o patriarca recorreu à ajuda celestial, invocando o Arcanjo São Miguel.

Eis que, então, iluminaram-se os céus e um exército angélico apareceu no pico sob o comando deste Sumo Rei dos Anjos. Eles pelejaram contra os demônios, lançando-os no oceano. Depois do extermínio, os espíritos celestes se agruparam em torno de seu invicto general e regressaram ao Céu. O Arcanjo, porém, deixou na montanha o seu escudo milagroso.

A ponta da espada de São Miguel

Que São Miguel tem predileção pelo local é um fato que até mesmo a geografia sublinha. O mosteiro de Skellig Michael situa-se numa linha invisível de sete santuários miquelinos, que se estende desde a Irlanda até Israel, compondo no mapa a forma de uma espada.

Ao longo da misteriosa e célebre “espada de São Miguel”, cada local é marcado por uma especial presença e ação do Arcanjo. A maioria desses santuários está construída sobre montanhas e alguns deles em ilhas, como o famoso Mont Saint-Michel, na costa da Normandia, e o Saint Michael’s Mount, em Cornwall, Inglaterra. O mosteiro de Skellig Michael é o mais afastado de todos, sendo, portanto, a “ponta da espada”.

DIV SKELLINGMIC 01 Mosteiro de Skellig Michael

Subindo o Skellig Michael hoje

Os que hoje o visitam, realizam uma jornada inesquecível. O percurso de barco, em si, já constitui uma aventura. Ora, ele é apenas o primeiro rubicão. Chegados a seu termo, os peregrinos deparam-se com um verdadeiro penhasco a ser escalado! Enquanto se preparam para a subida, escutam as diretrizes acerca dos riscos e da ausência de comodidades turísticas na ilha…

A beleza do pico, porém, torna-se para todos uma ampla recompensa. Àquela altura, tem-se uma visão de pássaro – ou melhor, de um Arcanjo guerreiro! – do território irlandês.

Ali, a natureza parece imbuída da beleza espiritual de São Miguel. As aves marítimas esvoaçam sobre os desafiadores abismos, simbolizando a superioridade do Príncipe da Milícia Celeste sobre os infernos. Os ventos enfurecem as ondas, fazendo-as espumar contra os rochedos, representando, certamente, a força de impacto irresistível com que o Condestável do Altíssimo se lançou contra Satanás. Os raios e os trovões, que muitas vezes vêm coroar esse cenário, fazem intuir o brado daquele que foi o primeiro a defender os direitos do Criador: “Quis ut Deus? – Quem como Deus?”

A vida no meio do oceano

Sobre o vertiginoso cume, há também um mosteiro, conservado em sua forma original desde meados do século VI, quando foi construído sob o abaciado de São Finiano de Clonard, um dos pais do monaquismo irlandês e mestre dos chamados Doze Apóstolos da Irlanda.

Ora, muitos talvez se perguntam como podem ter sobrevivido ali tantos monges, a duzentos e dezoito metros acima do nível do mar… Ainda mais se tratando de irlandeses, caracterizados por sua ternura, musicalidade e sociabilidade! Terão sido os religiosos de Skellig Michael “super-homens” que despertavam em suas austeras celas sôfregos por descer os seiscentos e setenta degraus que eles mesmos haviam cravado na rocha, para pescar seu desjejum? Ou que aguardavam com prazer as perigosas idas à ilha adjacente – o Little Skellig – para colher ovos para o almoço? Ou ainda, que adicionaram ao mosteiro, composto de celas, oratório e mais tarde uma igreja, um eremitério solitário num cantinho especialmente agreste, no pico sul, por simples espírito de aventura?

Uma vida desse gênero só se compreende como sendo fruto de um arroubo de entusiasmo sobrenatural. A rudeza do edifício e a austeridade dos costumes ali vividos atestam a substância e a fé daquelas almas que fizeram uma radical entrega de si mesmas a Deus e abandonaram tudo, a ponto de se alojarem no ponto mais extremo do mundo conhecido até então. Esses varões consagraram sua existência a atrair graças do Céu sobre uma nova Cristandade. Sua doçura consistia em sentirem-se vinculados à Comunhão dos Santos, compenetrados de que seus atos repercutiam nos acontecimentos da Santa Igreja, em sua época e em todos os tempos.

O Skellig Michael foi um foco de união entre o Céu e a terra, e perdurou como elo entre um abençoado passado e um glorioso porvir.

A História da Igreja comprova o triunfo de Cristo nesta nação, que se tornaria foco de irradiação da Fé para a Europa, graças a São Patrício. “Depois de trinta e três anos de apostolado, ele faleceu, deixando a Irlanda quase toda convertida e, ademais, repleta de escolas e comunidades, destinadas a ser berço de missionários para o Ocidente”.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 248, agosto 2022. Por Ir. Elizabeth Veronica MacDonald, EP.

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