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Sob o signo de Leão

“Quando, entre vós, um diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu, de Apolo’, não é isso um modo de pensar totalmente humano? Pois, quem é Apolo? E quem é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio abraçastes a fé” (I Cor 3, 3-5).

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Redação (01/06/2025 10:37, Gaudium Press) Esses dias, numa roda de conversa, cujo tema era o novo papa, alguém me inquiriu: “Pois é, seu Afonso, o Papa Leão XIV foi eleito dia 8 de maio… por que até agora o senhor não se pronunciou?” Uma pergunta que pode ser apenas uma pergunta, e que também pode ter muitos significados. Então, a partir dela, decidi me pronunciar.

A morte do Papa Francisco e a eleição do Papa Leão XIV deixou muito clara a impressão lamentável de uma Igreja dividida, algo que não deveria existir, uma vez que a Igreja Católica é santa e una. Impressão esta, aliás, bastante explorada pela mídia, até mesmo antes do Conclave: de um lado, os progressistas e liberais, mais ligados ao Papa Francisco e, de outro, os conservadores, menos ligados ao falecido papa.

Partindo desse ponto, é de se supor ­– e há vastas publicações nesse sentido – que há uma ala não totalmente satisfeita com a eleição do Papa Leão XIV, e outra, mais conservadora, bastante satisfeita, pois algumas falas e posturas do novo papa têm mostrado a imagem de um homem moderado e mais tendente à tradição católica, apesar de o próprio pontífice ter manifestado que dará prosseguimento à linha de Francisco de uma Igreja inclusiva e sinodal.

Uma aposta sem vencedores

Antes do conclave, bancos de apostas movimentaram grandes somas, e cinco candidatos ficaram na dianteira. Uma aposta que, devido à sacralidade do cargo, nem deveria haver, mas, havendo, decepcionou os apostadores, porque o resultado passou muito longe do que parecia óbvio, e o papa eleito foi um cardeal praticamente desconhecido, e que nem constava entre os vinte prováveis.

Uma surpresa que, a princípio, pareceu uma incógnita, mas, com o passar dos dias – muito poucos ainda – as coisas vão se delineando e conformando ao redor da Cátedra de Pedro. Embora já tenha desagradado a alguns, dentro e fora da religião católica, o Papa parece fazer mais contentes que descontentes.

No entanto, mais importante do que ter sido eleito papa o Cardeal Robert Francis Prevost é a questão que, sendo ele ou qualquer outro, haveria descontentes, porque as fissuras que são observadas, mais superficiais ou mais profundas, dependendo do ângulo que se olhe, levariam ao inevitável descontentamento de uns ou de outros.

Não é a primeira vez que isso acontece na Igreja, porque, como seres humanos, somos tendentes ao partidarismo, e a própria Cúria, formada por homens, não fica imune a esse perigo.

Entre Paulo e Apolo

Temos um registro muito antigo da primeira vez que esse tipo de coisa aconteceu, não necessariamente com um papa, mas com os que estavam nos entornos dele e, felizmente, junto com o relato do mal, nos é dado também o remédio, e quem no-lo dá é o Apóstolo São Paulo:

“Com efeito, enquanto houver entre vós ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um modo totalmente humano? Quando, entre vós, um diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu, de Apolo’, não é isso um modo de pensar totalmente humano? Pois, quem é Apolo? E quem é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio abraçastes a fé, e isso conforme a medida que o Senhor repartiu a cada um deles: eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. […] Portanto, ninguém ponha sua glória nos homens. Tudo é vosso: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente e o futuro. Tudo é vosso! Mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.(I Cor 3, 3-7; 21-23).

Isso não significa que não possamos ter a nossa preferência e nos identificarmos mais com um ou com outro estilo de governo, mas até o fato de termos essas preferências deixa claro os duros golpes que a Igreja sofreu nas últimas décadas, assemelhando-se muito mais a uma instituição humanitária do que ao que ela de fato é: uma sólida rocha de origem divina que, aconteça o que acontecer, governe-a na terra quem a governar, permanecerá indestrutível, pois seu fundamento é Jesus Cristo e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela.

Sob o signo de Leão

Estamos agora sob o signo de Leão. Compete a todos nós, católicos batizados, lutarmos para fechar quaisquer fissuras que existam e retomarmos a unidade dos primórdios da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a única fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, sua Esposa e também seu Corpo Místico.

Devemos ter a honestidade de evangelizar sempre e em todas as circunstâncias, pois essa é a principal missão do cristão: levar o Evangelho a todas as criaturas (cf. Mc 16, 15).

E, evangelizando, não podemos cair em enganosas armadilhas que nos levem a acreditar e ensinar qualquer coisa diferente disso, pois, se pelo escrúpulo humano de querer tentar agradar a todos, propagarmos que todos os caminhos e todas as religiões levam à salvação, estaremos simplesmente negando Nosso Senhor Jesus Cristo, contrariando a revelação que Ele mesmo nos fez: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).

Nós somos a Igreja

Notemos um detalhe muito interessante nesta afirmação de Jesus que deve estar no centro de nossa fé. Ele não disse “ninguém vai ao Pai”, mas “ninguém vem ao Pai”, deixando muito claro que o Pai e o Filho são a mesma Pessoa, o que explica minuciosamente nos versículos seguintes:

“Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto. Disse-lhe Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta’. Respondeu Jesus: ‘Há tanto tempo que estou convosco e não me conhe­ceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai… Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras. Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim’.” (Jo, 7-11).

Isto é ser católico, esta é a nossa fé. A Igreja Católica foi fundada pelo próprio Deus. Ela não foi criada por um profeta, por teólogo, por um dissidente; e, se não somos claros com relação a isso, estamos enganando a nós mesmos, traindo o nosso Batismo e também enganando as outras pessoas.

Portanto, devemos ser cristãos e rezar pela Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana e ser cada vez mais santos para fazê-la mais santa, porque a Igreja somos todos nós e esse “todos” é formado por cada um…

O primeiro cargo foi dado a uma mulher

Mas, se querem saber se me agradou a escolha do Cardeal Robert Prevost, sim, me agradou. Primeiro, me surpreendeu, como a todos, e depois, me alegrou, porque, desde a sua primeira aparição na Loggia e o anúncio do nome por ele adotado, Leão XIV, um ar de sacralidade parece ter voltado a envolver a Igreja.

Foi marcadamente importante também a sua primeira visita ter sido a Genazzano, onde repousa o milagroso afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho, cuja réplica esteve presente na Missa de Entronização do seu pontificado. Tudo isso me parece muito salutar.

Conheci Nossa Senhora do Bom Conselho por intermédio de Mons. João Clá Dias – que era muito devoto dela assim como seu formador espiritual, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira – que escreveu um excelente livro contando toda a história da trasladação do afresco da Albânia a Genazzano e os desdobramentos disso.

Mons. João nos deixou um legado muito importante que tem Fátima em um dos extremos e Genazzano no outro; duas manifestações milagrosas de Nossa Senhora com forte ligação aos acontecimentos dos tempos atuais.

A primeira, Nossa Senhora de Fátima, por ter revelado segredos fundamentais para a nossa fé e compreensão das transformações pelas quais passaria o mundo, e a outra, Mater Boni Consilii, por ter sido a conselheira de papas e santos, inclusive de fundadores de ordens religiosas, como Santo Afonso Maria de Ligório, São Paulo da Cruz, São Clemente Maria Hofbauer, São Gaspar del Búfalo, São Luís Orione e São João Bosco.

Mons. João Clá, que também foi um fundador, não deu início aos Arautos do Evangelho de outra maneira que não sob os conselhos dessa amorosa Mãe. Portanto, tenho muitos motivos para estar satisfeito com um papa que retoma aspectos importantes da tradição da Igreja e que dá o primeiro posto de seu pontificado a uma mulher: Nossa Senhora do Bom Conselho.

Um nome atípico escolhido pelo padrinho

E para concluir, quero partilhar uma história que poucas pessoas conhecem, mas que, devido a uma antiga amizade, tive oportunidade de acompanhar. Três anos atrás, Mons. João tornou-se padrinho de batismo de um menino, cuja escolha do nome os pais confiaram a ele. Surpreendentemente, Monsenhor sugeriu que o menino se chamasse Leão. Embora possa soar estranho tal nome para um bebezinho, os pais não relutaram e o pequeno foi batizado como Leão.

“Conselho ousado e pais corajosos. Vai sofrer bullying quando entrar na escola”, esta foi a primeira coisa que pensei. E, hoje, o pequeno Leão é um homônimo do Sumo Pontífice! Pequenos sinais que nos fazem perceber que nossa visão se amplia muito quando, mesmo vivendo no mundo, nos deixamos guiar pelo Espírito Santo de Deus.

Rezemos pelo pontificado de Leão XIV, lembrando-nos do ensinamento de São Paulo: “apenas um servo que nos foi dado”. Um servo de Cristo. Um servo de Deus!

Por Afonso Pessoa

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