Num castelo forte da cidade de Aquino, no Reino de Nápoles – Itália central –, nasceu em 1225 um varão que iluminou a Igreja e o mundo inteiro, não só devido à sua inteligência, mas sobretudo por sua santidade: Tomás de Aquino.
Redação (26/01/2024 12:18, Gaudium Press) Seus pais pertenciam à altíssima nobreza; entre seus parentes figuravam dois imperadores: Barba Ruiva e Frederico II. Tiveram nove filhos, e São Tomás era o caçula.
Sendo ainda bebê, houve um fato indicativo do amor que Nossa Senhora tinha por Tomás e a fiel correspondência a esse amor por ele demonstrada ao longo de sua vida.
Certo dia, sua ama de leite observou que ele segurava na mão um papelzinho. Procurou tirá-lo, mas o bebê o apertava no peito e chorava sempre que tentasse abrir sua mãozinha. Por fim, sua mãe conseguiu pegar o papel e verificou que nele estava escrito: “Ave Maria”. Admirada, ela o devolveu ao filhinho que o levou à boca, o engoliu e sorriu.
Aos cinco anos de idade, para aprimorar sua educação a família o levou à Abadia de Monte Cassino, governada pelos beneditinos, onde passou a morar. Diversas vezes, ao ver um monge caminhar pelos corredores ele perguntava: “Quem é Deus?” Isso mostra como São Tomás, por especial graça divina, já possuía o espírito sobrenatural.
Em 1239, o ímpio Frederico II, que se revoltara contra o Papa Gregório IX, expulsou os religiosos de Monte Cassino. E São Tomás, com 14 anos, mudou-se para Nápoles e frequentou a universidade dessa cidade, onde estudou Filosofia bem como a arte de discursar, argumentar e se exprimir com perfeição de linguagem, ou seja, a retórica, a dialética e a gramática.
Ali ele tomou contato com Ordem dos dominicanos, recém-fundada por São Domingos de Gusmão, e nela ingressou aos 18 anos de idade.
Com uma brasa expulsou uma mulher torpe
Tendo seu pai falecido, sua mãe e seus irmãos se opuseram furiosamente a que Tomás se tornasse membro de uma Ordem mendicante, como era a dos dominicanos.
Ele caminhava rumo a Bolonha – Norte da Itália –, em 1243, a fim de cursar a célebre universidade dessa cidade, quando ocorreu um episódio assim narrado por Monsenhor João Clá Dias.
“Tremenda foi a batalha afrontada por São Tomás de Aquino contra os seus. Queriam seus familiares que ele fizesse carreira religiosa no prestigioso Mosteiro beneditino de Monte Cassino, pois, com o tempo, poderia se tornar ali o abade. Tomás, no entanto, havia encontrado sua verdadeira vocação na recém-fundada Ordem Dominicana, que conhecera em Nápoles, onde frequentou o convento desses frades mendicantes dos quatorze aos dezoito anos. Sentia ele forte atração para o estudo da doutrina, ao qual se dedicavam os filhos de São Domingos, com vistas à pregação.
“Pouco depois de ser admitido como noviço, quando ele estava a caminho de Bolonha, deu-se o célebre episódio dos dois irmãos do Santo que, a pedido da mãe, sequestraram-no e o prenderam numa torre, até hoje existente em meio às ruínas de um castelo dos Aquino.”
Sua progenitora tentou fazê-lo abandonar seu propósito de ser dominicano, mas nada conseguiu. Então, encarregou suas duas filhas de dissuadirem o irmão “rebelde”, dizendo-lhe que ele poderia ter uma promissora carreira eclesiástica, desde que renunciasse à Ordem Dominicana.
O Santo lhes respondeu com tanto amor de Deus, convicção e serenidade que ambas se tornaram suas ardentes defensoras. Uma delas decidiu fazer-se religiosa e partiu para o convento de Santa Maria de Cápua, onde viveu santamente e foi abadessa.
Voltemos à questão da torre.
“Mais tarde [seus irmãos] introduziram no recinto uma mulher de maus costumes com o intuito de pervertê-lo e dissuadi-lo de sua entrega a Deus. O jovem se defendeu e retirou com uma tenaz uma brasa da lareira, ameaçando com ela a desventurada, que fugiu espavorida pelas escadas da torre; o Santo recebeu, então, uma graça insigne, o ser cingido nos rins por um Anjo e ficar isento até o fim da vida dos ardores da concupiscência carnal.”[1]
Nessa torre ele passou aproximadamente um ano. Rezou muito, leu a Sagrada Escritura e algumas obras de Teologia e Filosofia, levadas por frades dominicanos e que lhe eram entregues através de suas irmãs convertidas. Seus familiares por fim o libertaram da prisão em 1245, tendo ele 20 anos de idade. E o próprio Superior-geral dos dominicanos – Johannes von Wildeshausen – o conduziu à capital da França, onde passou a residir no Convento de Saint-Jacques e cursar Teologia na celebérrima Universidade de Paris, na qual teve por companheiro São Boaventura e por mestre Santo Alberto Magno.
São Tomás era alto e robusto. Caminhava sempre ereto, o “que correspondia à retidão de sua alma”. Quando passava pelo campo, as pessoas paravam o serviço para o contemplar, tal era a sua imponência e pulcritude de traços. “Acreditava-se que o Espírito Santo estava verdadeiramente com ele, pois estava sempre alegre, doce e afável”.[2]
Pureza do corpo e pureza da inteligência
O fato acima narrado prova sua ilibada pureza corporal, que manteve ao longo de sua vida. A castidade é também chamada virtude angélica. E as obras que escreveu demonstram que ele possuía a pureza de inteligência.
Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Mas, se existe uma pureza que, segundo nosso estado, devemos conservar íntegra em nosso corpo e em nosso coração, existe também uma pureza virginal de inteligência, que devemos cultivar ciosamente, e que certamente agrada de modo incomensurável a Nosso Senhor.
“É a pureza da inteligência verdadeiramente católica, templo vivo e imaculado do Espírito Santo que nunca sentiu atração e nem deu apoio a qualquer doutrina herética, que detesta a heresia com todo o vigor indignado com que as almas puras detestam a luxúria, e que se preserva de toda e qualquer adesão a um pensamento que não seja o da Igreja, com cuidado com que as almas castas sabem manter longe de si todas as impressões impuras.”[3]
Entre os diversos títulos que São Tomás recebeu após sua morte, o mais difundido pelo mundo é o de “Doutor Angélico”, que celebra sua alcandorada pureza de alma e de corpo.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. PETITOT, OP, L. H. La vida integral de Santo Tomás de Aquino. Buenos Aires: Cepa, 1941, p.38-54. Apud CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. 2016, v. I, p. 103.
[2] TORRELL, Jean-Pierre. Initiation à Sant Thomas d’Aquin: sa personne et son oeuvre. Paris: Cerf. 3. ed. 2015, p. 357-359.
[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário, São Paulo, 10-3-1940.
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