Desde que começaram a planejar como seria seu casamento, as dentistas Erika e Allana tinham em mente um detalhe da lista de tradições que faziam questão de manter: a bênção religiosa. E assim foi: no último sábado de novembro (24), uniram-se em uma cerimônia que foi a primeira entre duas mulheres no Estado de São Paulo com o aval da Igreja Anglicana – o príncipe Harry e Meghan Markle também oficializaram a união no anglicanismo. “O que para muitos pode ser novo e diferente, para nós é simplesmente fazer valer nossos direitos. Nosso casamento foi um ato político”, define o casal.
Juntas desde 2015, Erika Campos de Oliveira Bortolassi, 31, e Allana Rodrigues Ramos Bortolassi, 27, – seus respectivos nomes completos de casadas – conheceram-se na festa de confraternização da empresa em que trabalhavam. Por atuarem em unidades e cidades diferentes, demorou mais de um ano para que tivessem a oportunidade de cruzar os olhares pela primeira vez.
Cristãs, na época frequentavam igrejas distintas. Erika por mais de 20 anos esteve nos cultos da Igreja do Evangelho Quadrangular, até se converter ao presbiterianismo. Já Allana, sempre foi católica. Com o tempo, passaram a não se sentir mais confortáveis dentro dos ambientes religiosos em que estavam inseridas.
Foi o irmão de Erika, sociólogo e estudioso de religiões, que indicou que elas fossem a uma sede da Igreja Anglicana. Elas não conheciam a doutrina, fundada em 1534, no Reino Unido. De natureza também protestante e cristã, anglicanismo surgiu pelo desejo do então Rei Henrique VIII em anular seu então matrimônio – algo impensável para aquela época. Sob os olhares anglicanos, foram celebrados outros dois icônicos casamentos religiosos neste ano. Em maio, o príncipe Harry, integrante da linha de sucessão ao trono, casou-se com a atriz norte-americana Meghan Markle, sendo o primeiro da família a unir-se a uma mulher divorciada.
Em setembro, o lorde Ivar Mountbatten, primo da Rainha Elizabeth, uniu-se ao seu companheiro no primeiro casamento gay da história da monarquia do país. “Fomos e entramos de mãos dadas, como nunca havíamos imaginado. Nos sentimos como qualquer outra pessoa no mundo e isso foi especial”, lembra Erika sobre a iniciação no anglicanismo.
Ali, elas perceberam que o sonho de um casamento que unisse os direitos civis – garantidos pela lei brasileira desde 2013 – poderia se unir aos valores religiosos que lhes eram tão fundamentais. E estariam completas, como desejavam. “Fomos muito questionadas, por familiares e amigos, se era realmente necessário fazer algo tão completo e se ‘expor’ dessa maneira. Sugeriam eventos menores, apenas jurídicos, e questionavam a naturalidade que enxergávamos em todos esses pontos para um casamento gay, tal qual é qualquer um outro”, conta Allana.