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A oração pode ser inútil?

A oração é o melhor meio que nós temos para alcançar graças e favores de Deus. Entretanto, se não tivermos cuidado, o orgulho pode fazer essa arma tão eficaz perder toda a sua utilidade.

Parábola do Fariseu e do publicano - Museu Lázaro Galdiano, MadriFoto: Francisco Lecaros

Parábola do Fariseu e do publicano – Museu Lázaro Galdiano, Madri Foto: Francisco Lecaros

Redação (25/10/2025 18:43, Gaudium Press) A oração tem uma importância essencial em nossa vida espiritual, pois, como ensina Santo Afonso de Ligório, “quem reza se salva e quem não reza se condena”. Entretanto, em determinadas ocasiões, as orações perdem seu valor e tornam-se praticamente inúteis. Quais são essas ocasiões e como saber se nossa oração é verdadeiramente aceita por Deus? É o que nos ensina a liturgia desse 30º Domingo do Tempo Comum.

Uma forma de orgulho especialmente perigosa

“Naquele tempo, Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros” (Lc 18, 9)

Chama atenção a forma como São Lucas inicia o Evangelho de hoje, colocando, já no início, um princípio importantíssimo. Nosso Senhor conta uma parábola na qual aparecem dois homens: um fariseu e um cobrador de impostos. Os fariseus tinham uma origem virtuosa e louvável, pois foram aqueles que rejeitaram a influência do relativismo grego que grassava entre os judeus por volta do ano 200 a.C., entretanto, por falta de vigilância, acabaram caindo num extremo perigosíssimo do orgulho: aquele que se une ao desejo da radicalidade e perfeição.

Com efeito, ao deixarem de lado a virtude da humildade, definida por São Tomás como responsável por reprimir o apetite para que ele não busque grandezas além da reta razão,[1] transformaram aquele movimento de separação iniciado por um reto ideal em um contínuo desejo de mostrar aos outros suas autênticas ou supostas qualidades.

Tal disposição de alma acarreta ainda outro problema: por se julgar tão bons e virtuosos, os fariseus colocavam sua confiança em suas próprias capacidades e dons, julgando supérfluo e desnecessário pedir o auxílio de Deus — causa e dispensador desses dons — como podemos ver bem representado na parábola de Nosso Senhor.

Uma oração infrutífera

“Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como ou outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda’” (Lc 18, 10-12).

A oração do fariseu é tipicamente orgulhosa, pois, ao invés de contemplar as perfeições de Deus ou um bom exemplo recebido de outro, ele se coloca no centro, louvando-se a si mesmo mais do que a Deus e tratando com desprezo aos demais.

Comentando esse fato, Santo Agostinho afirma: “Subiu ao templo para orar e não quis rogar a Deus, mas sim louvar-se a si mesmo”.[2]

Uma oração como essa tem algum fruto? O que Deus pode fazer para uma alma como a do fariseu, que pensa já ter tudo para alcançar o Céu, quando, na verdade, está comprando a sua condenação? E o pior é que muitas vezes — como parece ser o caso do Evangelho — o orgulhoso é incapaz de se corrigir desse defeito, pois não consegue reconhecer que possui defeitos, que é fraco e pecador, fechando as portas de sua alma Àquele que pode curá-lo.

Nessas situações, um dos modos de Deus agir é permitindo um desastre moral, o que é uma misericórdia da parte d’Ele, pois, assim, pode ser que a alma orgulhosa sinta a sua debilidade, a sua maldade e perceba que aquela ideia irrepreensível que possui de si mesma é falsa, abrindo-se à ação da graça.

A verdadeira oração

“O cobrador de impostos, porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’” (Lc 18, 13)

Nosso Senhor, em sua didática divina, não só condena o mal, mas também nos deixa o modelo da oração bem feita e agradável a Deus, como foi a do cobrador de impostos: por reconhecer a sua contingência e pedir auxílio ao sobrenatural, tinha a alma aberta à ação do Criador, que podia facilmente curá-lo, como afirma Jesus:

“Eu vos digo, este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado” (Lc 18, 14)

Peçamos, portanto, a Nossa Senhora a graça de reconhecemo-nos fracos, contingentes, e que, se algum dia colocarmos nossa confiança em nós mesmos, caindo na cegueira causada pelo orgulho, que Ela permita um desastre, mas não nos entregue em nossas próprias mãos.

Por Artur Morais


[1] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q. 161, a. 1, ad 3.

[2] AGOSTINHO DE HIPONA. Sermo CXV, n. 2.

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