O amor que provém de Deus e de Nossa Senhora santifica as almas.
Redação (23/12/2024 06:06, Gaudium Press) A liturgia deste último 4º Domingo do Advento nos ensina qual o melhor modo de prepararmos nossos corações para o Natal do Senhor, isto é, estando repletos do Espírito Santo através da Mãe de Deus.
Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. (Lc 1,39)
A pressa, sinal de amor ao próximo
Os poucos episódios da vida de Maria relatados pelos evangelistas concentram em si verdades ao mesmo tempo elevadas e profundas. Após a Anunciação feita pelo Arcanjo Gabriel, Nossa Senhora dirigiu-se apressadamente à casa de Santa Isabel demonstrando que o amor não comporta lentidões. Quem ama sinceramente, faz tudo o que está a seu alcance para beneficiar o quanto antes o objeto amado. O amor da Santíssima Virgem para com o próximo, era o fruto do amor d’Ela a Deus, pois conforme a primeira Carta de São João, “aquele que não ama o seu irmão a quem vê, é incapaz de amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4,20). Maria cumpria então a regra em toda a sua perfeição, ensinando não apenas a amar, mas que o amor deve estar num estado de prontidão, pronto para dedicar-se ao bem alheio, assim que possível.
Sem embargo, ainda outra razão a impelia a partir com diligência. Era preciso cumprir a altíssima missão de transmitir o Dom de Deus ao Precursor do Messias e à sua mãe.
Os efeitos de uma visita de Maria
Entrou na Casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. (Lc 1,40-41)
Quanto gostaríamos de saber como Maria cumprimentou Isabel nessa ocasião! São Lucas, porém, não registrou tal pormenor. Tudo indica que ela, em sua suprema humildade, chegou com discrição, sem chamar a atenção sobre si. Ao ver a prima, saudou-a, chamando-a pelo nome, e o Espírito Santo agiu de maneira sensível.
Deus é tão delicado — é a própria delicadeza — que, ao se aproximarem as duas almas eleitas, inundou Santa Isabel de graças, comunicando-lhe que a Plenitude dos Tempos havia chegado e o Messias estava ali presente no seio virginal de Nossa Senhora. Esta, por sua vez, deu-se conta de não ser necessário explicar nada à prima.
Bem podemos imaginar a unção e o poder da voz da Mãe de Deus em função de seus frutos. Qualquer música da Terra, por mais bela e perfeita que seja, não pode ser-lhe comparada. Aquela voz tem força e penetração e é extraordinariamente eficaz! Ao dizer Isabel, Maria o fez com tanto amor que a entonação era carregada de sentido sobrenatural, doçura e sublimidade, pois “a boca fala do que transborda do coração” (Mt 12,34).
Sinal disto é o fato de São João Batista ter saltado no ventre de Santa Isabel. A tradição teológica reconhece ter sido nesse momento que o pecado original foi extirpado do menino, tal como se ele houvesse sido batizado.[1] Embora uma criança com seis meses de gestação ainda não tenha capacidade de compreender, ele foi objeto de um altíssimo fenômeno místico que, segundo afirmam certos autores, deu-lhe um lampejo de conhecimento racional; contudo, parece mais conforme à fé que a vida divina, existente em Maria em plenitude e superabundância,[2] lhe tenha sido transmitida pelo timbre daquela voz virginal e santificadora: a graça penetrou nele e deu-se um verdadeiro Batismo, o qual lhe infundiu as virtudes e os dons, enchendo-o do Espírito Santo.
“O mistério da Visitação foi uma imensa efusão de graças. A graça se esparge sobre o Precursor, santifica-lhe a vida, ilumina-lhe a inteligência, inaugura-lhe e consagra-lhe a carreira, pois esse estremecimento era precisamente a claríssima indicação da presença do Verbo”.[3] No instante da purificação de São João Batista, Santa Isabel foi arrebatada pelo Espírito Santo. Através de quem lhe veio esta graça? Qual foi o caminho escolhido pelo Divino Paráclito para cumulá-la de tais benefícios? Serviu-se do que transbordava de sua Esposa, que era mais do que suficiente para elevar Isabel ao auge da perfeição. Maria, ao longo de toda a sua vida, sempre esteve ornada de um extraordinário influxo de graças, o qual recebeu um constante aumento até o instante de sua partida para a eternidade.
A arrebatadora excelência da voz de Maria
Conhecer o efeito da voz da Santíssima Virgem constitui, portanto, um magnífico ensinamento para nós. Se as águas foram escolhidas por Deus para a instituição do Batismo e, como sinal sacramental após a invocação do Espírito Santo, têm o poder de lavar o pecado, quão mais poderosa é a voz de Maria, a ponto de santificar São João no ventre materno! Ela ainda não fora coroada Rainha dos Céus e da Terra e, entretanto, já atuava como intercessora. Bastou sua voz e seu desejo para a criança ficar limpa do pecado original, dando um salto de alegria.
Vemos, pois, como toda transformação ou progresso espiritual é possível quando Nossa Senhora toma a iniciativa de Se debruçar sobre uma alma. Como ensina São Tomás, o amor que desce é eficaz[4] e, vindo de Deus e de Nossa Senhora, santifica. Nesse sentido, portanto, observamos uma relevante verdade: em relação aos superiores na linha do espírito, mais importante é ser amado do que amar.
Extraído, com alterações de:
CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 5, p. 77-79.
[1] Cf. CAMPANA, Émile. Marie dans le Dogme Catholique. Montréjeau: J.-M. Soubiron, 1913, t. III, p. 91; CASCIARO, José María et al. (Org.). Notas. In: NUEVO TESTAMENTO. 2. ed. Pamplona: Eunsa, 2008, p. 382; MARQUES, José A. Comentário a Lc 1, 44. In: SANTOS EVANGELHOS. Braga: Theologica, 1994, p. 718.
[2] Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. La Mère du Sauveur et notre vie intérieure. Paris: Du Cerf, 1954, p. 34-35.
[3] CAMPANA, Émile. Marie dans le Dogme Catholique. Montréjeau: J.-M. Soubiron, 1912, t. I, p. 296.
[4] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, q. 20, a. 2.
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