Governador e patriarca da Bretanha – Noroeste da França –, aristocrata e batalhador que sabia derramar o sangue pelos seus, o Beato Carlos de Blois foi um senhor feudal perfeito.
Redação (12/07/2024 10:00, Gaudium Press) Filho do Conde de Blois e sobrinho do Rei da França Felipe VI de Valois, Carlos nasceu em 1319, na Bretanha. Recebeu esmerada educação e, levando vida virtuosa, demonstrou grande combatividade nos exercícios militares.
Em 1337, casou-se com Joana de Penthièvre, sobrinha do Duque João III de Bretanha. No contrato de casamento, ficou estabelecido que Carlos herdaria o título de Duque após a morte de João III, o qual não tinha filhos.
Com o falecimento deste, em 1341, Carlos tornou-se Duque da Bretanha, Noroeste da França, sendo aclamado por numerosos nobres e pelo povinho.
Entretanto um nobre, declarando-se herdeiro do ducado e com apoio da Inglaterra, promoveu uma guerra contra Carlos, que durou 23 anos.
Em 1347, o Beato foi capturado pelos ingleses e conduzido à Torre de Londres, onde ficou preso por nove anos, durante os quais ele se dedicou à oração, tendo sempre em vista a Deus, a Igreja e sua querida Bretanha.
Sua esposa, que fora formada por ele, dirigiu com firmeza varonil o ducado e, após ingentes esforços, conseguiu sua libertação.
Regressando à Bretanha, Carlos prosseguiu com maior denodo a luta contra aqueles que, no fundo, trabalhavam para entregar a França à Inglaterra.
Assassinado numa batalha
A fim de batalhar contra esses traidores, o Beato Carlos, assessorado pelo Condestável Bertrand du Guesclin, partiu com suas tropas rumo a uma localidade onde os inimigos se encontravam. Na Abadia cisterciense Nossa Senhora de Lanvaux, confessou-se, participou da Missa e comungou.
Chegando ao lugar, Carlos deu o sinal de ataque.
Mas, antes mesmo do choque entre as duas forças, ele caiu morto. O Martirológio romano afirma que o Beato foi “assassinado numa batalha”. Tendo perdido seu grande herói, os autênticos bretões foram derrotados. Essa tragédia ocorreu em 29 de setembro de 1364.
E o combativo Papa São Pio X o beatificou, em 1904. Sua memória é celebrada no dia de sua morte: 29 de setembro.
A luta pela França tinha um significado religioso
A respeito desse Beato, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira teceu diversos comentários que sintetizamos a seguir.
O Bem-aventurado Carlos de Blois era Duque da Bretanha, em virtude de uma herança recebida de sua esposa. Mas o tio desta, contestando a legitimidade desse título, revoltou-se e moveu uma guerra contra ele. Carlos era, portanto, a legítima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado.
Além disso, tratava-se da integridade do reino da França, porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses, que queriam dominar a França. E ele lutava então pela integridade do território francês, batalhando pela independência da Bretanha em relação à Inglaterra.
Essa luta pela França, por sua vez, tinha um remoto significado religioso, mas que ele não podia prever, não estava nas suas intenções.
A França era a nação predileta de Deus, a filha primogênita da Igreja. E a Inglaterra, também católica, futuramente haveria de tornar-se protestante. E se ela tivesse domínio numa parte do território francês, daí a alguns séculos isso seria muito nocivo para a Causa católica.
Entretanto, essa consideração de ordem religiosa, que nos faz ver o caráter providencial da luta, não estava na mente desse Beato. Ele tinha em vista, como Duque, batalhar pela integridade do território de sua pátria próxima, que era a Bretanha, e de sua pátria mais genérica, a França.
A índole das instituições feudais conduzia à santidade
O Beato ficou encarcerado na Torre de Londres, por nove anos. Mas ele soubera comunicar o seu ardor guerreiro à sua esposa que, durante esse período, também lutou valentemente para conservar o ducado.
Ao beatificá-lo, a Igreja quis elevar à honra dos altares o senhor feudal perfeito, governador e patriarca de suas terras, aristocrata e, além disso, batalhador que sabia derramar o sangue pelos seus. Esta é a síntese do senhor feudal.
Para determinados revolucionários que vivem falando contra o feudalismo, e apresentam a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente má, o exemplo do Beato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o constituem um desmentido rotundo, porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente, e que através dele se pode chegar à honra dos altares.
A índole das instituições feudais conduzia à santidade, enquanto que, de outro lado, as instituições que pressupõem uma igualdade completa levam ao contrário da santidade, que é o espírito da Revolução.
O povo da Bretanha, admirando as virtudes do Beato Carlos de Blois, via nele um reflexo de Deus na Terra.
O igualitarismo elimina a ideia de Deus
Um dos chefes do Partido Comunista Francês, chamado Roger Garaudy (1913-2012), sustentava a seguinte tese:
É ridículo nós querermos fazer suprimir no povo, por meio das perseguições, a ideia de Deus. O povo tem essa ideia por causa das desigualdades. É considerando pessoas desiguais que o homem inferior pensa, concebe a ideia de um Deus, o qual é a perfeição daquilo de que o seu superior lhe dá certa noção.
Por causa disso — dizia ele — não devemos primeiro exterminar a Religião, para depois acabar com a hierarquia política e social. Precisamos eliminar as desigualdades políticas, sociais e econômicas, para depois exterminarmos a Religião. Implantada por toda parte a igualdade, os símbolos de Deus desaparecem, e a ideia de sua existência morre na alma dos povos.
A Divina Sabedoria é a causa da desigualdade
Ensina São Tomás de Aquino:
“Nos seres naturais vemos que as espécies são gradativamente ordenadas: assim, os compostos são mais perfeitos do que os elementos, as plantas do que os minerais, os animais do que as plantas e os homens do que os outros animais; e em cada uma dessas classes encontram-se espécies mais perfeitas do que as outras.
“Sendo, pois, a Divina Sabedoria a causa da distinção das coisas para a perfeição do universo, também será causa da sua desigualdade. Pois não seria perfeito o universo se nas coisas só se encontrasse um grau de bondade”.[1]
Esclarece Dr. Plinio:
“Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre criaturas e Criador.
“Odiar, em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus.”[2]
Em nossa época o igualitarismo faz por toda parte devastações tremendas. Peçamos, então, ao Bem-aventurado Carlos de Blois que o amor à desigualdade, sacralidade, autoridade, obediência e humildade brilhe em nossas almas de maneira tal que possamos dizer: a Contra-Revolução vive em nós.[3]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Suma Teológica I, q. 47, a. 2.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 71.
[3] Cf. Idem. Beato Carlos de Blois: senhor feudal e patrono dos guerreiros. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano 18, n. 210 (setembro 2015), p. 28-31.
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