A Igreja Católica na Suíça divulgou o primeiro relatório nacional sobre os abusos sexuais ocorridos em seu seio. O documento foi elaborado sob a supervisão de um comitê de pesquisa da Universidade de Zurique
Redação (12/09/2023 14:30, Gaudium Press) A Igreja Católica na Suíça divulgou o primeiro relatório nacional sobre os abusos sexuais ocorridos em seu seio. O documento de 136 páginas foi elaborado sob a supervisão de um comitê de pesquisa da Universidade de Zurique e apresentado à imprensa neste 12 de setembro.
Foram compilados, por meio do trabalho das historiadoras Marietta Meier e Monika Dommann, mais de mil casos de abuso, envolvendo 921 vítimas entre 1950 e 2022. Dentre essas vítimas, 56% são do sexo masculino, e 74% dos crimes envolveram pedofilia, cometidos por 510 pessoas diferentes.
Fontes de informação
Este é o primeiro documento de uma série de relatórios “de acompanhamento”, principalmente abordando o período de 2014 até 2026; outros relatórios estão previstos para os próximos anos. A principal fonte de informações para o relatório apresentado nesta terça-feira foi composta pelos arquivos confidenciais, bem como pelos registros dos comitês especializados em “Abusos Sexuais” da Conferência Episcopal Suíça e das dioceses.
Os arquivos públicos e privados foram utilizados de forma secundária. Para os futuros relatórios, outras fontes de informação também serão consultadas. A comissão de estudos propõe uma série de medidas preventivas e orientações para as autoridades eclesiásticas.
Minimização dos fatos e silenciamento das vítimas
Lorraine Odier, uma das pesquisadoras do grupo de estudo, destacou dois pontos importantes identificadas durante os trabalhos de pesquisa: em primeiro lugar, a minimização e o silenciamento dos fatos por parte das autoridades eclesiásticas quando informadas dos casos, e, em segundo lugar, a priorização da defesa da imagem da Igreja em detrimento da proteção das vítimas.
Algumas vítimas veem a publicação do relatório como um passo importante e um sinal de que a Igreja está comprometida em enfrentar essa questão. No entanto, outras críticas surgem, como no caso de Marie-Jo Aeby, vice-presidente da associação SAPEC, que auxilia pessoas abusadas por membros do clero na Suíça. Ela observa que o Dicastério da Doutrina da Fé se recusou a abrir seus arquivos para contribuir com o projeto suíço.
A resposta prática da Igreja Católica
Por sua parte, a Igreja Católica propõe uma série de medidas para evitar novos casos de abuso, incluindo a criação de uma entidade nacional para notificação e apoio às vítimas, embora os detalhes específicos ainda não estejam definidos. Até o momento, as instituições têm operado de maneira autônoma e descentralizada. Dom Bonnermain, responsável eclesiástico na constituição do dossier, também anunciou medidas mais restritivas e avaliações psicológicas para os futuros sacerdotes, diáconos e qualquer outra pessoa ativa na Igreja.
Com a divulgação deste relatório, a Suíça segue o exemplo de outros países europeus, como França, Portugal e Itália, que estabeleceram comissões de estudo sobre os abusos sexuais na Igreja e medidas de prevenção e reparação desses crimes. (FM)
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