As repercussões sobre a nomeação do novo prefeito da Doutrina da Fé não param.
Redação (04/07/2023 09:52, Gaudium Press) Compreensivelmente, não param as repercussões – incluindo críticas, algumas delas muito fortes – sobre a nomeação de Dom Víctor Manuel Fernández, até agora arcebispo de La Plata, como novo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Ainda estão vivas as fortes palavras de Francisco que, na oração do Ângelus de 28 de junho de 2020, censurou os políticos cujo “amor à família é maior do que o amor à Pátria, dando cargos a seus parentes”; ou quando, na homilia proferida na capital de Madagascar, em 8 de setembro de 2019, ele denunciou essa “cultura dos privilégios e da exclusão: favoritismos, clientelismos e, consequentemente, corrupção”. Ou ainda, mais interna e recentemente, exortou os cardeais e a Cúria Romana, numa saudação de Natal, a “viverem com transparência, sem favoritismos ou grupos de influência”.
Essas declarações vêm agora à tona com a nomeação de Dom Fernández a um cargo tão alto que alguns vislumbram a primazia do profundo afeto do Papa pelo prelado, apesar de ele afirmar que não se considerava apto para todas as funções a ele associadas.
De fato, Dom Fernández – que foi elevado ao episcopado por Francisco poucos dias após sua eleição como Pontífice – declarou em uma carta à comunidade católica de La Plata que há um mês havia dito “ao Papa que não aceitava” o oferecimento que fazia, pois não se sentia “qualificado nem tinha formação para guiar” a importante “seção dedicada ao abuso de menores” do dicastério, do qual ele agora será cabeça.
Vendo Francisco idoso, necessitando de pessoas próximas de confiança, e “grato por tanto bem que recebi dele”, o arcebispo se sentiu encorajado a aceitar o oferecimento depois do Papa esclarecer que sua tarefa não seria tanto na mencionada seção Disciplinar (“porque há [lá] uma equipe de especialistas que a faz muito bem”), mas na promoção do pensamento cristão e no aprofundamento das verdades da fé, tarefas que correspondem mais à seção doutrinária.
Há certamente na Igreja muitas pessoas bem capacitadas para todas essas delicadas tarefas, embora não pertençam ao círculo próximo do Papa.
Esse carinho do Papa por Dom Fernández a ponto de confiar-lhe – apesar de ele não querer – o principal dicastério de investigação e julgamento da Igreja acerca de temas graves e hoje muito sensíveis, parece já ter consequências, se considerarmos manchetes como a de San Diego Union Tribune (“Grupo dos EUA critica escolha do Papa para atender denúncias de abuso”), afirmando que Francisco “tomou uma decisão desconcertante e preocupante” ao escolher Dom Fernández, visto que, em 2019, já teria erroneamente tratado de um caso de acusação de abuso por parte de um sacerdote de sua diocese, o qual acabou se suicidando depois de um juiz civil emitir um mandado de prisão contra ele.
“Nada em sua atuação sugere que ele esteja apto a liderar a batalha do Papa contra o abuso e o encobrimento”, insiste BishopAccountability.org, (grupo americano que documenta abusos sexuais cometidos por clérigos), segundo informa o Tribune, destacando que o prefeito da Doutrina da Fé não é apenas um chefe investigador desses assuntos, mas um promotor sensato e conhecedor da luta contra esta praga, uma das que mais manchou a Igreja em sua história. (SCM)
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