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O Rei da eternidade

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Antes de ser flagelado, coroado de espinhos e crucificado, Nosso Senhor Jesus Cristo declara diante de Pilatos a sua soberania sobre toda a criação: “Eu sou Rei”.

Cristo Rei - Igreja Nossa Senhora da Glória, Juiz de Fora (MG). Foto: Leandro Souza

Cristo Rei – Igreja Nossa Senhora da Glória, Juiz de Fora (MG). Foto: Leandro Souza

Redação (23/11/2024 19:04, Gaudium Press) O Papa Pio XI ensina como, ao longo da História, as festas da Santa Igreja nasceram e foram se acrescentando ao Ano Litúrgico, instituídas e organizadas pela Cátedra infalível de Pedro com o intuito de beneficiar os fiéis em função das necessidades de cada época. Assim, no dia 11 de dezembro de 1925, fazendo-se já sentir a terrível e avassaladora onda de laicismo que invadiria todos os países e levaria a humanidade a voltar as costas a Deus, no momento em que muitos católicos entregavam seu sangue em defesa de Cristo e de sua Igreja, o mesmo Papa proclamou com sua voz infalível: Cristo é Rei! A Encíclica Quas primas, estabelecendo a festa da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo no término do Ano Litúrgico, tinha um especial significado como oposição ao relativismo e ao ateísmo: declarava ao mundo que tudo tem seu fim e seu princípio em Cristo, Rei do Universo.

Jesus declara sua realeza

Na primeira leitura (Dn 7,13-14) desta Liturgia, a visão de Daniel mostra-nos Nosso Senhor Jesus Cristo na manifestação de sua grandeza régia: “Foram-Lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviam” (Dn 7,14a).

Com efeito, Ele é o Rei glorioso, coroado na eternidade e detentor da autoridade sobre toda a criação. Mas, paradoxalmente, o Evangelho de São João apresenta a figura deste Rei em situação de humilhação, com as mãos amarradas, prestes a ser flagelado, coroado de espinhos, condenado por seu próprio povo, morto e crucificado. E, então, inicia-se um dos mais belos diálogos de toda a Escritura.

O governador interroga o Todo-Poderoso

“Naquele tempo, Pilatos chamou Jesus e perguntou-Lhe: ‘Tu és o Rei dos judeus?’” (Jo 18,33b)

Pela pergunta, percebe-se que o governador já ouvira as denúncias dos membros do Sinédrio contra o Divino Prisioneiro (cf. Mc 15,3; Jo 18,28-30) e desejava conhecer suas intenções. Pretenderia Ele subir ao trono de Israel e sublevar os judeus contra o domínio de Roma (cf. Lc 23,1-2)? Ter-Se-ia arrogado, de fato, o título de Messias, quando foi aclamado pela multidão como Filho de Davi, ao entrar em Jerusalém poucos dias antes (cf. Mc 11,9-10)? Contudo, o romano via diante de si um Varão tão respeitável, virtuoso, equilibrado e submisso! Tratava-se realmente de um revolucionário?

“Jesus respondeu: ‘Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de Mim?’ Pilatos falou: ‘Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes Te entregaram a mim. Que fizeste?’” (Jo 18,34-35)

O governador ainda vai argumentar, alegando não estar concernido à prisão de Nosso Senhor, que a ele foi entregue pelos próprios judeus. Era esta a ocasião escolhida por Jesus para Se declarar Rei, apesar de estar em circunstâncias que sugeriam o oposto. Ele havia entrado em Jerusalém aclamado como Rei, mas tal aclamação correspondia a uma concepção baixa, naturalista e terrena da realeza. A nação queria carregar em triunfo um potentado deste mundo, um messias político, o qual, auxiliado por milagres, deveria obter-lhe uma salvação estritamente humana: a eliminação dos impostos e a supremacia sobre os romanos.

Em relação a esta mentalidade materialista, Nosso Senhor será pedra de escândalo e sinal de contradição (cf. Lc 2,34). Diante de Pilatos, representante do poder supremo da época, Ele dará de Si mesmo e de sua autoridade régia uma visão muito diferente — a única válida —, toda sobrenatural, que será odiada e perseguida por não poucos no decurso de toda a História, mas permanecerá como signo do Cristianismo até o fim dos tempos.

A onipotência da verdade

“Jesus respondeu: ‘O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é daqui’”. (Jo 18,36)

Poderia alguém talvez concluir que, com esta revelação, Jesus havia renunciado ao seu domínio sobre o mundo. Carece de sentido tal afirmação sendo Ele o Onipotente, a quem está sujeito o universo inteiro. Ao contrário, quer lembrar que Ele é antes de tudo o Homem-Deus, como explica São Tomás, mencionando o pensamento de São João Crisóstomo sobre esta passagem do Evangelho: “Tu perguntas se sou Rei e Eu te digo que sim. Mas o sou por um poder divino, pois para isso nasci do Pai, de uma natividade eterna, como Deus de Deus, bem como Rei de Rei”.[1]

Portanto, o verdadeiro alcance da sua declaração é este: “Meu Reino não é como os governos deste mundo, nem de acordo com as máximas dele”. Mais ainda: como Autor da graça e, de maneira especial, pela Redenção que irá operar, Jesus é o Rei dos corações. Ele veio oferecer aos homens a filiação sobrenatural, a qual não consistirá numa adoção segundo o conceito humano, mas na participação real em sua natureza divina, como dirá mais tarde o Apóstolo São João: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato” (1Jo 3,1). Sim, filhos de Deus, herdeiros do trono celeste e príncipes de uma casa eterna!

Somos da linhagem do Rei

A Solenidade de Cristo Rei, convidando-nos a voltar a atenção e o coração para estes panoramas grandiosos, pede a compenetração de especiais responsabilidades em nossa vida. Uma vez que participamos da natureza divina e nos tornamos filhos de Deus pelo Batismo, dentre outros privilégios cabe-nos inclusive a sua realeza, pois, além de sermos cortesãos de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei dos reis, pertencemos à sua família como verdadeiros irmãos d’Ele, elevados à categoria de príncipes.

Portanto, se nos alegramos por ser da mesma linhagem e da família real de Nosso Senhor Jesus Cristo, templos da Santíssima Trindade, somos obrigados a levar esta filiação até as suas últimas consequências em nossa existência diária, ou seja, vivendo conforme o Reino de Cristo, e não de acordo com o reino deste mundo.

Extraído, com alterações de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 4, p. 531-543.


[1] TOMÁS DE AQUINO. Super Ioannem. C. XVIII, lect. 6.

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