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Ordenação de novo Bispo em Xangai pelo Partido Comunista desafia o Vaticano

Nem o Papa, nem a Secretaria de Estado, nem mesmo a nunciatura foram consultados. Mais uma vez, Roma toma conhecimento da notícia através dos comunicados do regime.

Santa Sé anuncia nomeação e ordenação de Thomas Chen Tianhao como novo bispo chinês e que "Há previsão de outras nomeações”.

Redação (12/10/2025 12:15, Gaudium Press) A Diocese Católica de Xangai procederá à ordenação do Padre Wu Jianlin como novo bispo auxiliar na manhã de 15 de outubro, na Catedral de Santo Inácio, em Xujiahui, em um contexto marcado por crescentes inquietações entre clérigos e fiéis quanto à politização das nomeações eclesiásticas na China.

A notificação oficial foi comunicada nesta sexta-feira, 10 de outubro, aos presbíteros da diocese, confirmando os detalhes da cerimônia. Contudo, indícios do evento já haviam emergido no início da semana, quando a paróquia da Catedral de Xujiahui anunciou o fechamento temporário para visitantes entre 13 e 15 de outubro, em razão de “eventos religiosos”, com a proibição de estacionamento no pátio da igreja até o meio-dia de 15 de outubro.

Membros da paróquia e observadores prontamente associaram o fechamento à ordenação episcopal do Padre Wu, uma dedução reforçada por uma diretriz diocesana que determinava a obrigatoriedade da presença de todos os presbíteros e religiosas em uma liturgia na manhã de 15 de outubro, na Igreja de Santo Inácio. O comunicado destacava que ausências não seriam toleradas, intensificando especulações sobre as motivações ocultas ao evento.

Essa ordenação ilegítima, sem o consentimento da Santa Sé, constitui uma nova afronta na tumultuada história das relações entre a China e o Vaticano. Apesar das promessas de diálogo, o acordo secreto assinado em 2018 nunca produziu nada além de confusão, divisões e submissões.

Em sete anos, menos de uma dezena de bispos foram nomeados, a maioria segundo a vontade de Pequim. Muitas paróquias foram obrigadas a hastear bandeiras vermelhas, os crucifixos foram retirados dos santuários e os padres fiéis à Santa Sé continuam a ser vigiados ou presos. A promessa de uma coexistência pacífica transformou-se em controle ideológico. De acordo com várias organizações cristãs, mais de 1.500 igrejas foram fechadas ou “sinizadas” nos últimos cinco anos. Seminaristas foram expulsos por se recusarem a assinar declarações de lealdade ao Partido Comunista.

Quem é o Padre Wu Jianlin

O Pe. Wu Jianlin, figura de destaque na comunidade católica de Xangai, foi eleito bispo auxiliar em 28 de abril deste ano, por uma assembleia do clero. A China aproveitou a vacância da Sé Apostólica para impor dois novos bispos. A votação ocorreu apenas uma semana após o falecimento do Papa Francisco, em 21 de abril, durante o período de sede vacante, quando o Vaticano não contava com um pontífice em exercício.

Fontes próximas ao processo informaram à AsiaNews que o Bispo Joseph Shen Bin, atual ordinário de Xangai, promoveu ativamente a escolha de Wu, tendo realizado visitas a diversos vicariatos e conduzido reuniões e diálogos privados para garantir apoio. Adicionalmente, autoridades de assuntos religiosos de distritos locais realizaram sondagens junto aos presbíteros diocesanos para avaliar suas intenções de voto, uma iniciativa que gerou perplexidade entre aqueles que defendem maior autonomia para a Igreja.

Em pelo menos duas reuniões diocesanas com a participação de clérigos e leigos, o Bispo Joseph Shen Bin teria afirmado: “Todos os católicos que integram a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) são bispos; cedo ou tarde, também deveríamos nomear o Pe. Wu Jianlin como bispo.” Essa declaração, relatada a jornalistas por participantes que pediram anonimato, evidencia as credenciais políticas do Padre Wu.

Após a suspensão do Bispo Auxiliar Thaddeus Ma Daqin, em 2012 — decorrente de sua renúncia pública à filiação com a Associação Patriótica Católica Chinesa (CCPA) —, Wu assumiu o papel de coordenador do “Grupo dos Cinco” da diocese, um relevante órgão administrativo. Ele foi eleito para a Conferência Consultiva Política Municipal de Xangai em 2013 e, posteriormente, promovido ao nível nacional em 2018, posições que o alinham estreitamente às estruturas sancionadas pelo Estado.

O Partido Comunista tenta mais uma vez transformar a Igreja em um mero instrumento do regime. Após a nomeação unilateral de Monsenhor Shen Bin em 2023, finalmente reconhecida pelo Vaticano após três meses de hesitação, a nova ordenação de Wu Jianlin confirma a estratégia de Pequim: impor bispos e depois forçar Roma a endossá-los. Cada concessão enfraquece um pouco mais a credibilidade da diplomacia vaticana e alimenta a frustração dos católicos chineses, divididos entre a obediência e a fidelidade.

Leão XIV, que desde sua eleição insiste na fidelidade a Cristo acima de qualquer diplomacia humana, terá que escolher entre a continuidade prudente de seus antecessores e uma ruptura profética. Seu silêncio, por enquanto, parece uma meditação antes da batalha.

Da resposta do Papa Leão XIV dependerá talvez a própria sobrevivência de uma Igreja verdadeiramente católica na China, livre, universal e fiel a Pedro, apesar do medo e da perseguição.

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