Incentivados por São Bernardo de Claraval, o Imperador do Sacro Império e o Rei da França partiram rumo a Jerusalém a fim de defendê-la contra os muçulmanos que haviam tomado o Principado de Edessa.
Redação (17/06/2023 10:03, Gaudium Press) A cidade de Edessa – Sudeste da Turquia – foi conquistada durante a Primeira Cruzada e se tornou um principado católico. Mas aquele que a governava, Jocelin II, frequentemente se estabelecia em localidades próximas onde vivia em bebedeiras e imoralidades.
Em novembro de 1144, os turcos iniciaram o cerco de Edessa. Estando ausente Jocelin, a defesa foi dirigida pelo arcebispo que lutou heroicamente. Mensageiros foram enviados a Raimundo de Poitiers, Príncipe de Antioquia, pedindo ajuda, mas este, que havia brigado com Jocelin, desprezou a súplica. Por esse vergonhoso ato de amor próprio, ele se tornou um dos principais culpados pelo que ocorreu em seguida.
Os pagãos tomaram Edessa, cortaram a cabeça do arcebispo bem como de muitos católicos e as enviaram para Bagdá, capital do atual Iraque, que era, então, o centro do islamismo.
Invadindo as igrejas, fizeram orgias e abominações com os vasos sagrados. 30.000 habitantes de Edessa morreram e 16.000 foram escravizados.
Em março de 1146, São Bernardo pregou em Vézelay, França, a Cruzada. Eis um trecho de seu fogoso discurso:
“Apressai-vos em acalmar a cólera do Céu e não imploreis mais sua bondade com vãos gemidos; não vos mortifiqueis mais com o cilício, mas cingi-vos de vossos
invencíveis escudos. O barulho das armas, dos perigos, as dificuldades e as fadigas da guerra, eis a penitência que Deus vos impõe. Ide expiar vossas faltas com vitórias contra os infiéis, e que a libertação dos Santos Lugares seja o nobre prêmio do
vosso arrependimento. (…)
“O Deus vivo me encarregou de vos anunciar que castigará a todos os que não O defenderem contra seus inimigos. Todos, pois, às armas! Que a santa cólera vos anime ao combate e que no mundo inteiro ressoem estas palavras do profeta: ‘Infeliz daquele que não ensanguentar sua espada!’”[1]
Movido por essas palavras, o Rei da França Luís VII ajoelhou-se diante do Santo e se engajou na Cruzada. Sua esposa, Rainha Eleonora de Aquitânia, que estava a seu lado, quis também participar da expedição.
Em dezembro de 1146, São Bernardo participou da Dieta de Speyer, Alemanha, presidida pelo Imperador Conrado III que se prontificou a comandar um exército de Cruzados.
Fazendo pregações em várias cidades às margens do Rio Reno, o varão de Deus foi sempre acolhido com entusiasmo e realizou muitos milagres. Numa localidade em que se encontrava Conrado, o Santo foi cercado por enorme multidão e não podia caminhar. Então, o Imperador colocou-o em seus ombros e o levou até a igreja.
Batalha do Monte Cadmo
A Primeira Cruzada tinha organização. Seus chefes obedeciam à autoridade do legado pontifício, Bispo Ademar de Monteil. Na Segunda, Conrado III e Luís VII, “em vez de conjugarem as suas forças, quiseram agir cada um por conta própria, e não preparam nada”.[2]
Quando os franceses iniciaram sua marcha, Eleonora fez com que dela participasse um grupo de trovadores… Diversas mulheres, esposas de Cruzados, foram também admitidas. Além de retardar a caminhada, isso favoreceu a sensualidade em alguns destacamentos.
Os exércitos dos franceses e dos alemães, que partiram da Europa em datas diferentes, cometeram um gravíssimo erro: confiaram no Imperador de Constantinopla, Manuel Comeno, neto de Alexis Comeno que havia traído os chefes da Primeira Cruzada. Manuel era mais ladino e falso que seu avô e fizera alianças com os turcos.
Quando passaram separadamente por Constantinopla, Manuel lhes concedeu guias que os conduziram para emboscadas feitas pelos turcos, os quais massacraram milhares de católicos.
Luís VII, com um grupo de cavaleiros, caminhou por desfiladeiros ladeados por abismos profundos e rochas inacessíveis, no Sudoeste da atual Turquia. Atacados pelos infiéis, diversos católicos foram mortos.
No Monte Cadmo, um grupo de turcos avançou contra o rei cujo cavalo rolara pelas ribanceiras. Por especial graça de Deus, ele “conseguiu, agarrando-se nos ramos baixos de uma árvore, subir a uma rocha de onde enfrentou o inimigo. A crônica nô-lo mostra cortando, com sua espada avermelhada de sangue, as cabeças e as mãos dos assaltantes”[3]. Os inimigos que lograram escapar fugiram apavorados.
Orgulho e imoralidades
Com apenas vinte e cinco por cento de seu exército, Luís VII chegou ao Principado de Antioquia, governado por Raimundo de Poitiers, tio de sua esposa Eleonora, a qual se deixou enlear pelo mundanismo da corte e por longas conversas com Raimundo… Numa noite, o Rei da França a conduziu à força ao acampamento, e com suas tropas zarpou rumo a Jerusalém.
Conrado III e Luís VII, com seus exércitos bastante diminuídos, chegaram em datas diferentes a Jerusalém, então governada pela Rainha Melisenda, que era viúva e cujo filho, futuro Balduíno III, tinha 16 anos de idade.
Ela desfrutava do apoio das autoridades eclesiásticas e havia construído um mosteiro em Betânia do qual uma de suas irmãs foi abadessa. Fez grandes doações ao Santo Sepulcro, à Ordem Militar dos hospitalários e a outros institutos religiosos.
A pedido de Melisenda, os soberanos sitiaram Damasco, em julho de 1148, mas alguns católicos se deixaram arrastar pelo orgulho. Por exemplo, o Conde de Flandres, um dos principais chefes Cruzados, fez com que Conrado e Luís VII lhe prometessem conceder o governo de Damasco, logo após sua conquista que muitos consideravam certa.
Surgiram várias dissensões entre eles e o cerco foi levantado. Pouco tempo depois, os dois monarcas regressaram à Europa.
O fracasso da Segunda Cruzada se deveu, sobretudo, a que seus principais chefes não corresponderam às instruções dadas por São Bernardo de Claraval. Não poucos se enchafurdaram em imoralidades, e as atitudes da Rainha Eleonora causaram escândalo na França.
A pedido de Luís VII, em 1152, seu matrimônio com Eleonora foi anulado pelas autoridades da Igreja, por motivo de consanguinidade. Dois meses depois, ela se casou com o Duque da Normandia, que se tornou Rei da Inglaterra, com o título de Henrique II, o qual posteriormente mandou matar São Tomás Becket, Arcebispo de Cantuária.
Em nossa luta contra os inimigos de Igreja, roguemos a Nossa Senhora a humildade e a pureza para que, pela misericórdia divina, possamos participar de sua vitória como Ela prometeu em Fátima: “Por fim, meu Coração Imaculado triunfará!”.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] MICHAUD, Joseph-François. História das Cruzadas. São Paulo: Editora das Américas. 1956, v. II, p. 234.236.
[2] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 503.
[3] GROUSSET, René. La epopeya de las Cruzadas. Madrid: Palabra. 2014, p. 102.
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