Watson tornou-se um exemplo de pureza de intenção em meio às calúnias. Ainda após ser perseguido, não deixou de provar seu zelo pela causa da Igreja.
Redação (16/10/2021 16:29, Gaudium Press) Sendo a sabedoria popular quase inerrante em seus ditames, sempre é sensato fiar-se no que diz a experiência sete vezes milenar do ser humano. Nesse contexto, cita-se aqui um velho adágio alemão que apregoa: “guter Wein lobt sich selbst” (o bom vinho faz seu próprio elogio). Ora, isso que se aplica tão maravilhosamente a quase tudo, claudica quanto à sua aplicação ao homem, por ser ele dotado de inteligência e livre-arbítrio. Assim sendo, muitas vezes o inocente é confundido com o culpado, e o culpado com o inocente.
O caso em questão é, pois, um desses fatos nos quais a morte e a glória dançam sua risonha valsa em torno do suposto inocente… ou pseudo-culpado.
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O início da história dá-se quando, em 9 de dezembro de 1865, um americano chamado Watson-Surett – oficial que havia lutado na Guerra de Secessão dos EUA – engaja-se nas fileiras dos zuavos pontifícios[1], na Itália.
Em março do ano seguinte, ingressa também no movimento um outro jovem americano chamado Sainte-Marie, que servira sob as ordens de Watson em seu país.
Certo dia, o vagomestre[2] do regimento remete, por engano, a um outro destinatário uma carta que era para Sainte-Marie. Tal soldado, não conseguindo lê-la – por estar em inglês – entrega-a ao coronel Allet (comandante do destacamento dos zuavos) que, surpreso, percebe que o escrito provém do chefe de polícia de Nova York, agradecendo pelas notícias dadas e afirmando estarem em andamento os requerimentos à Santa-Sé, a fim de prender Watson.
Uma vez convocado, Sainte-Marie revela-se ser um detetive da polícia nova-iorquina que buscava informações sobre Watson, acusado de cumplicidade no assassinato do presidente Abraham Lincoln, ocorrido em Washington no dia 15 de abril de 1865. Paralelamente a isso, os outros dois autores do crime haviam sido presos, e até mesmo a mãe de Watson fora enforcada por ter hospedado um dos criminosos em seu hotel, mas Watson conseguira fugir. Tal notícia não podia deixar de causar espanto ao coronel, uma vez que o oficial americano era ótimo católico e prestava exímios serviços ao Papa.
Assim sendo – não podendo devolver a seu país um suposto culpado e não querendo perder um soldado exemplar – as autoridades encontram para o caso uma saída à la romaine: encarcerá-lo numa prisão em Veroli e ordenar secretamente ao tenente belga Victor Mousty para “fazê-lo” evadir-se. Dessa maneira, o assassino escapa do cárcere suspenso por uma corda, à noite, enquanto todos os soldados atiram sobre ele (tendo tido a precaução de esvaziar os fuzis…).
O fugitivo vai para Nápoles, onde embarca em um navio para o Egito. Contudo, a meio-caminho, ele é abordado por um cruzeiro americano e é reconduzido para ser julgado em seu país natal. Diante do tribunal, para assombro de todos, ele consegue provar sua inocência e até mesmo reabilitar sua mãe (lastimosamente muito tarde).
Após a emaranhada história, e aí é onde está a beleza do fato, J.B. Suratt (Watson era apenas um pseudônimo), retorna à Europa com o intuito de retomar sua luta a favor da Igreja e prosseguir sua missão de defensor do poder temporal do Santo Padre.
Não será digna de louvor uma pessoa que, apesar de todas as calúnias e difamações, rende seu serviço com despretensão e generosidade?
Por Eduardo Nasivert
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
GUENEL. Jean. La dernière guerre du Pape: Les zouaves pontificaux au secours du Saint-Siège – 1860-1870. Campus de La Harpe: Presses Universitaires de Rennes, 1998, p. 87-88.
[1] Zuavos pontifícios foram os que lutaram pelo Papa contra a anexação dos Estados Pontifícios ao Reino da Itália promovida por Giuseppe Garibaldi. Essa luta deu-se de 1860 a 1870.
[2] Designa, no exército francês, o suboficial que expede cartas e dinheiro enviados aos soldados.
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