É iminente a possibilidade de um cisma em parte da comunidade católica Siro-Malabar, na Índia, devido a discordâncias litúrgicas
Redação (29/01/2023 06:50, Gaudium Press) É iminente a possibilidade de um cisma em parte da comunidade católica Siro-Malabar, na Índia, devido a discordâncias litúrgicas. A controvérsia litúrgica na Arquidiocese de Ernakulam-Angamaly, na Índia, persiste há anos, apesar dos esforços e até mesmo das advertências do Vaticano visando dissuadir os contestatários.
Mensagem e advertência do Papa
No último dia 7 de dezembro, o Papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo aos fiéis da comunidade siro-malabar da Arquidiocese indiana de Ernakulam-Angamaly. No vídeo, o Santo Padre pede que os contestatários se submetam às decisões do sínodo dos Bispos da Igreja siro-malabar, sob o risco de se tornarem uma seita ao deixar a comunhão da Igreja:
“Por favor, tenham cuidado! Não permitam que o diabo os transforme em uma seita. Vocês são a Igreja, não se tornem uma seita”, explicou o Papa. Ele também esclareceu que as motivações dos dissidentes não são inspiradas pelo Espírito Santo, mas são motivadas meramente por questões mundanas.
Na mensagem, Francisco deu um ultimato sobre a reconciliação e a adoção das diretrizes do sínodo da Igreja Siro-Malabar e deu como prazo até o dia de Natal, 25 de dezembro, para que cessem as disputas; caso contrário, uma sanção, a excomunhão, seria aplicada. “Com grande dor, então, as sanções relevantes terão de ser tomadas. Eu não quero chegar a esse ponto”, afirmou o Pontífice.
Entendendo a Controvérsia Litúrgica
A Igreja Católica de rito Siro-Malabar conta com cerca de 5 milhões de fiéis no mundo, sendo a maioria na Índia, no estado de Kerala. Segundo a tradição, a Igreja Siro-Malabar foi fundada pelo apóstolo São Tomé, o primeiro evangelizador da região.
A controvérsia litúrgica que originou a admoestação do Papa Francisco nasceu nos anos 70 e culminou em 1999, após a decisão do Sínodo dos bispos da Igreja Siro-Malabar em retomar um antigo costume litúrgico vigente na Igreja do Oriente. Os bispos decidiram que o sacerdote celebraria o Santo Sacrifício voltado para os fiéis (versum populum) e que durante a oração eucarística ele se voltaria para o leste (ad orientem). A mudança prevista em 1999, começou a ser posto em prática em 2021.
A decisão foi acatada pela maioria da comunidade Siro-Malabar, com exceção da Arquidiocese de Ernakulam-Angamaly. Nessa Arquidiocese, uma parte dos sacerdotes e dos fiéis se recusou a adotar a determinação litúrgica. A revolta causou manifestações e inclusive várias cenas de violência e brigas dentro das igrejas, levando ao fechamento da catedral.
Sacerdotes decidem não aceitar as mudanças litúrgicas
No dia de Natal, o ultimato do Papa Francisco parecia ter surtido efeito, pois os sacerdotes do Arquidiocesan Movement for Transparency (AMT), o grupo de padres, religiosos e leigos que lidera os protestos contra a Missa oficial, respeitaram as normas do Sínodo e celebraram a Missa matinal voltados para o oriente durante a oração eucarística.
Os “rebeldes” explicaram que a Missa de Natal foi celebrada segundo as diretrizes litúrgicas oficiais unicamente por respeito e consideração ao pedido do Papa Francisco. Entretanto, o grupo permanece firme em sua resolução de continuar a celebração da Missa voltados exclusivamente para o público, desrespeitando assim a decisão do Sínodo e incorrendo no risco de excomunhão e no cisma*. Os sacedotes, que segundo algumas fontes são 400, pedem ainda que seja assinado um acordo, através do qual seria permitido a celebração versum populum na catedral siro-malabar. (FM)
* Cisma: a palavra de origem grega significa “cisão, ruptura” e no contexto da Igreja católica significa a ruptura de um grupo em desacordo com a autoridade espiritual da Igreja
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