Deus manifesta seu inesgotável amor pelos homens abrindo-lhes as portas do convívio trinitário por meio da obra redentora de seu Filho. Adaptando-Se a nós com extrema compaixão, o Deus Trino faz com que, em certas ações, o “timbre” de uma Pessoa seja mais perceptível que o das outras duas. Assim, ao Pai se atribui geralmente a criação; ao Filho, a redenção; ao Espírito Santo, a santificação.
Redação (26/05/2024 08:40, Gaudium Press) A Encarnação do Verbo revelou aos homens um mistério reservado para a plenitude dos tempos: a existência de Três Pessoas na unidade divina. Deus é uma Trindade! Tão sublime realidade transcende os critérios humanos, iluminando-se apenas pela fé: a única essência de Deus é o Pai que eternamente gera o Filho no conhecimento perfeito e pleno de Si mesmo, fazendo proceder o Espírito Santo da relação amorosa entre ambos.
Este conhecer e este amar divinos são infinitos, inseparáveis e completíssimos. Desse modo, cada uma das Três Pessoas é igual à própria essência divina, e Elas em nada dividem sua unidade perfeita, distinguindo-Se entre Si tão só pelas relações
mútuas. Por isso a vida trinitária não altera a cristalina simplicidade e unidade divinas, mas com ela se identifica.
Pelo fato de gerar, somente à Primeira Pessoa cabe o título de Pai; pelo fato de ser gerado, somente a Segunda Pessoa merece ter por nome Filho ou Verbo; pelo fato de proceder de ambos, a Terceira Pessoa chama-Se Espírito Santo, encerrando esse
circuito misterioso, esfuziante de luz e de glória que é a Trindade. Nenhuma outra diferença distingue os Três que são Um! E nisto consiste a vida plena de Deus. O Pai é o princípio de toda a deidade, segundo a expressão de Santo Agostinho. Ora, plenamente capaz de conhecer-Se, Ele seria “infeliz”, por assim dizer, se não explicitasse por completo a Si mesmo, pois não há perfeita felicidade quando a natureza não realiza aquilo que lhe é próprio.
Conhecendo-Se, o Pai exprime a Si mesmo por completo no seu eterno Verbo, o qual é tão perfeita Imagem do Pai (cf. Hb 1, 3) que erraria quem afirmasse que Eles constituem dois incomensuráveis, dois incriados e dois onipotentes. Pelo contrário, os Dois são um só incomensurável, um só incriado e um só onipotente, conforme nos ensina a antiga e poética profissão de fé atribuída a Santo Atanásio. Então, o que diferencia o Pai do Filho se Eles são iguais em tudo? Apenas suas relações opostas: o Pai gera o Filho, e o Filho é gerado pelo Pai.
Em uma palavra, o que define o Pai é gerar: ser a Pessoa Divina que sem interrupção, desde toda a eternidade e para toda a eternidade, está continuamente gerando o Filho, comunicando a plenitude de sua própria divina natureza, esgotando-Se por via intelectiva de maneira a não restar nada a dar de Si. Essa propriedade do Pai, de ser Aquele que gera, indica um perpétuo comunicar-Se dentro da Trindade pelo fato de não proceder de nenhuma outra Pessoa Divina mas ser a origem das outras duas. Donde se pode dizer que o Pai, além de força infinita de Deus para conhecer-Se a Si mesmo, é também a aspiração de Deus de ser totalmente conhecido, de comunicar-Se.
Quanto ao Filho, São Tomás O define como “emanação intelectual” do Pai. Uma vez que, em Deus, o ser e o entender são idênticos à essência divina, do ato de inteligência do Pai é gerada a Segunda Pessoa, a qual tem por próprios os títulos de Filho e de Verbo. Por essa razão, na primeira manifestação pública da Trindade aos homens, durante o Batismo de Jesus no Jordão, bem como no alto do monte da Transfiguração, o Pai quis Se manifestar pela voz, indicando que ali estava sua Palavra, seu Verbo, em quem Ele havia posto toda a sua complacência.
O Espírito Santo, por sua vez, procede do relacionamento amoroso que se estabelece de imediato entre o Pai e Filho. Como o Pai conhece plenamente o Filho e o Filho conhece plenamente o Pai, e ambos são o Bem substancial, os Dois Se amam e dessa relação pura, sublime e afetuosa procede o Espírito Santo, que é o Amor Pessoal.
Deus é glorificado em suas obras
Em seu contínuo processo trinitário, chamado pelos teólogos de pericórese, o Deus Uno e Trino goza do auge infinito de toda bem-aventurança imaginável. As Três Pessoas encontram suas delícias nessa vida eterna que consiste em estar indissoluvelmente unidas, olhar-Se e querer-Se bem! Nada Lhes falta.
Todavia, como o bem é eminentemente difusivo e tem prazer em comunicar-se, a Trindade tomou a livre decisão de criar o universo, constituído de uma plêiade incontável de criaturas díspares e complementares, muitas das quais, como os Anjos, escapam ao conhecimento sensitivo dos homens. Deus tudo fez com tanta grandeza, proporção e harmonia que, ao conceber cada ser, dotou-o de uma razão de existir, de um simbolismo e de uma finalidade. Nenhum, por menor que seja, foi criado a esmo.
O conjunto da criação tem como fim supremo engrandecer seu Artífice, como reza o Salmo: “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (18, 2). O Criador quis comunicar sua bondade e seu encanto às obras de suas mãos. Entre elas, contudo, existe uma ordem estabelecida. Algumas, como dito acima, espelham-No de modo longínquo. São os denominados vestígios divinos, entre os quais se contam as criaturas irracionais: animais, vegetais e minerais. Outras, porém, chamadas a refleti-Lo de maneira mais perfeita, participam em algo de sua própria vida pela capacidade de conhecê-Lo e amá-Lo, assim como de acolhê-Lo em seu coração enquanto verdadeiros templos santos.
Estes são os seres inteligentes: os Anjos e os homens. Eis a hierarquia sublime da criação! No píncaro do universo, como ponto monárquico que lhe dá sentido e brilho, está Jesus Cristo, o Verbo Encarnado. Ele desponta como o mais belo entre os filhos dos homens, o Alfa e o Ômega, o arquétipo ideal que refulge acima dos Anjos.
A Santíssima Trindade, como bem sabemos, age sempre por amor e em perfeita concomitância; os Três são inseparáveis na economia da salvação. Todavia, para que pudéssemos melhor conhecer a diversidade das Pessoas Divinas, suas intervenções levam uma marca trinitária. Todo homem ou mulher, por exemplo, é capaz de três amores: filial, esponsal e paterno ou materno. Ademais, adaptando-Se a nós com extrema compaixão, o Deus Trino faz com que, em certas ações, o “timbre” de uma Pessoa seja mais perceptível que o das outras duas. Assim, ao Pai se atribui geralmente a criação; ao Filho, a redenção; ao Espírito Santo, a santificação.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Extraído, com adaptações, de: Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens, v. 2.
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